O Santos dominou e venceu o Vitória jogando em casa e tem uma ótima vantagem para o jogo de volta da final da Copa do Brasil. Os gols foram de Neymar e Marquinhos.
O time de Dorival Júnior jogou com o seu ofensivo 4-3-3. Sem Edu Dracena e Léo, suspensos, Bruno Aguiar e Alex Sandro foram titulares. O Vitória, que não veio apenas pra se defender, entrou em campo no 4-4-2, sem o lateral direito Nino, machucado, e o goleiro Viáfara, suspenso.
Antes de começar a partida, as atenções estavam voltadas para Robinho, Neymar, Ganso e André, o "Quarteto Santástico" que foi convocado para a seleção brasileira. Mas apenas Neymar e Ganso chegaram perto do que se esperava deles. Robinho não estava em seu melhor dia e desperdiçou boas chances. André parecia sem ritmo depois de ter ficado no banco nos últimos jogos. Na única chance que teve chutou muito mal, mandando a bola por cima do gol.
O Santos pressionou desde o início. A proposta do Vitória era atacar, mas não deu muito certo. Sofrendo muita pressão até na saída de bola, o time baiano errava muitos passes e sofria contra-ataques com a defesa aberta. Ganso acertou a trave numa cobrança de falta logo aos 11 minutos. Aos 14, em jogada de contra-ataque, Pará cruza, André não alcança mas, Neymar, de peito, escora pra dentro do gol. 1x0.
Parecia que o time do primeiro semestre estava de volta. Domínio de jogo e muitas chances criadas. Cada contra-ataque do Santos parecia que seria uma jogada mortal. O técnico rubronegro Ricardo Silva ainda teve que substituir o lateral Rafael Cruz, que saiu machucado. Bida entrou em seu lugar mas jogou mais à frente, com Neto Coruja recuando para a lateral direita.
O jogo ficou mais equilibrado, mas o Vitória ainda não criava chances de gol. E o Santos contra-atacava com muito perigo. Porém, graças aos erros na hora de concluir, o jogo começou a ficar tenso.
Aos 26 do segundo tempo, depois de pedalar dentro da grande área, Neymar é derrubado por Wallace. Pênalti. O próprio Neymar se prontifica a bater. A passos lentos ele vai para a cobrança e chuta no meio do gol, à la Loco Abreu. Porém, o goleiro Lee foi brilhante e simplesmente ficou parado, fazendo uma fácil defesa.
Neymar é vaiado. Dorival Júnior tira Ganso e Robinho e coloca Marquinhos e Zé Eduardo. A torcida chama o técnico santista de burro. Mas as reclamações duraram pouco. Três minutos depois, Zé Eduardo sofre falta, Marquinhos cobra e faz o segundo gol, deixando os alvinegros mais tranquilos. Por pouco não saiu o terceiro gol - Lee salvou o time baiano.
Lee, que substituiu o titular Viáfara e fez apenas o seu terceiro jogo como profissional, parecia nervoso na partida e não demonstrava muita segurança. Porém, ele foi decisivo ao defender o pênalti e fazer defesas importantes nos minutos finais.
Pela quantidade de chances criadas, poderia ter saído uma goleada. O Vitória teve sorte de ter tomado apenas dois gols e ainda estar vivo para o jogo de volta. Mas a missão ainda é muito difícil, principalmente por não terem feito nenhum gol fora de casa.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Como você escalaria a seleção brasileira?
Agora que a convocação da seleção brasileira está feita, a pergunta que fica no ar é: quem serão os onze que entrarão em campo contra os Estados Unidos, dia 10 de agosto? Mano Menezes já declarou que seu sistema preferido é o 4-2-3-1. E também que quer colocar mais atacantes.
Sem pretensão nenhuma, fiz minha aposta. Apesar de muitas dúvidas, acabei escolhendo esses que estão aí embaixo - com Lucas no lugar de Sandro caso este vá para a final da Libertadores. Um time ofensivo demais? Inexperiente demais? Pode ser. Não sei se Neymar já deveria começar como titular; fiquei em dúvida também entre Ganso e Carlos Eduardo, mas dei preferência ao entrosamento dos jogadores do Santos. Seria interessante também a entrada de André, e ver como jogaria o "Quarteto Santástico". A média de idade desse time é de 23 anos - a mesma idade de Ramires, o jogador mais novo da seleção de Dunga.
Dia 10 de agosto (terça-feira) o Brasil enfrenta os Estados Unidos em Nova Jersey. E aí veremos a verdadeira cara dessa nova seleção brasileira.
Sem pretensão nenhuma, fiz minha aposta. Apesar de muitas dúvidas, acabei escolhendo esses que estão aí embaixo - com Lucas no lugar de Sandro caso este vá para a final da Libertadores. Um time ofensivo demais? Inexperiente demais? Pode ser. Não sei se Neymar já deveria começar como titular; fiquei em dúvida também entre Ganso e Carlos Eduardo, mas dei preferência ao entrosamento dos jogadores do Santos. Seria interessante também a entrada de André, e ver como jogaria o "Quarteto Santástico". A média de idade desse time é de 23 anos - a mesma idade de Ramires, o jogador mais novo da seleção de Dunga.
Dia 10 de agosto (terça-feira) o Brasil enfrenta os Estados Unidos em Nova Jersey. E aí veremos a verdadeira cara dessa nova seleção brasileira.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Mano Menezes e a renovação da Seleção
Mano Menezes fez hoje sua primeira convocação para a seleção brasileira. Dos 23 escolhidos por Dunga para a Copa da África, apenas quatro foram chamados (Thiago Silva, Ramires, Robinho e Daniel Alves). Mano não achou necessário chamar muitos jogadores que foram à Copa neste momento e preferiu dar prioridade a outros, já pensando nas Olimpíadas de 2012. Apesar disso, segundo ele, os jogadores mais jovens podem não ter tantas oportunidades de jogar no início. A ideia é que a renovação aconteça aos poucos. Os aclamados Paulo Henrique Ganso e Neymar finalmente foram chamados pela primeira vez. Veja a lista completa (em negrito, os jogadores com idade pra disputar as Olimpíadas de Londres):
Goleiros
Victor - 27 anos - Grêmio
Jefferson - 27 anos - Botafogo
Renan - 19 anos - Avaí
Laterais
Daniel Alves - 27 anos - Barcelona
Marcelo - 22 anos - Real Madrid
André Santos - 27 anos - Fenerbahçe
Rafael - 20 anos - Manchester United
Zagueiros
Thiago Silva - 25 anos - Milan
David Luiz - 23 anos - Benfica
Henrique - 23 anos - Racing Santander
Réver - 25 anos - Atlético-MG
Meias
Sandro - 21 anos - Internacional
Ramires - 23 anos - Benfica
Jucilei - 22 anos - Corinthians
Lucas - 23 anos - Liverpool
Hernanes - 25 anos - São Paulo
Éderson - 24 anos - Lyon
Carlos Eduardo - 23 anos - Hoffenheim
Paulo Henrique Ganso - 20 anos - Santos
Atacantes
Robinho - 26 anos - Santos
Alexandre Pato - 20 anos - Milan
Neymar - 18 anos - Santos
André - 19 anos - Santos
Diego Tardelli - 25 anos - Atlético-MG
Este é o início da tão pedida renovação da seleção. Mas é bom lembrar que "renovação" nem sempre é sinônimo de vitórias. Essa palavra é usada muitas vezes para justificar uma sequência de resultados ruins. Quantas vezes você não ouviu falar que "o time está mal porque está passando por uma renovação"?
No imediatismo do futebol brasileiro, resultados ruins são fatais para um técnico. Mano Menezes terá uma missão duríssima pela frente e, caso não consiga as vitórias que se espera, pode não sobreviver no cargo até 2014. É uma missão difícil, mas longe de ser impossível: Mano já estava há dois anos e meio no mesmo time, algo muito raro no Brasil. E jogadores talentosos é o que não nos falta. Só nos resta esperar e torcer pelo seu sucesso.
Goleiros
Victor - 27 anos - Grêmio
Jefferson - 27 anos - Botafogo
Renan - 19 anos - Avaí
Laterais
Daniel Alves - 27 anos - Barcelona
Marcelo - 22 anos - Real Madrid
André Santos - 27 anos - Fenerbahçe
Rafael - 20 anos - Manchester United
Zagueiros
Thiago Silva - 25 anos - Milan
David Luiz - 23 anos - Benfica
Henrique - 23 anos - Racing Santander
Réver - 25 anos - Atlético-MG
Meias
Sandro - 21 anos - Internacional
Ramires - 23 anos - Benfica
Jucilei - 22 anos - Corinthians
Lucas - 23 anos - Liverpool
Hernanes - 25 anos - São Paulo
Éderson - 24 anos - Lyon
Carlos Eduardo - 23 anos - Hoffenheim
Paulo Henrique Ganso - 20 anos - Santos
Atacantes
Robinho - 26 anos - Santos
Alexandre Pato - 20 anos - Milan
Neymar - 18 anos - Santos
André - 19 anos - Santos
Diego Tardelli - 25 anos - Atlético-MG
Este é o início da tão pedida renovação da seleção. Mas é bom lembrar que "renovação" nem sempre é sinônimo de vitórias. Essa palavra é usada muitas vezes para justificar uma sequência de resultados ruins. Quantas vezes você não ouviu falar que "o time está mal porque está passando por uma renovação"?
No imediatismo do futebol brasileiro, resultados ruins são fatais para um técnico. Mano Menezes terá uma missão duríssima pela frente e, caso não consiga as vitórias que se espera, pode não sobreviver no cargo até 2014. É uma missão difícil, mas longe de ser impossível: Mano já estava há dois anos e meio no mesmo time, algo muito raro no Brasil. E jogadores talentosos é o que não nos falta. Só nos resta esperar e torcer pelo seu sucesso.
domingo, 25 de julho de 2010
Ranking da FIFA: Espanha Lidera, Brasil cai e Uruguai sobe
Assim que terminou a Copa do Mundo, a FIFA atualizou seu ranking de seleções. Como era esperado, a Espanha voltou para o primeiro lugar, a Holanda veio em segundo e o Brasil caiu da liderança para o terceiro lugar. Veja os dez primeiros e quantas posições cada um subiu (ou caiu):
1º - Espanha +1
Uma das surpresas é o Uruguai, que subiu para o sexto lugar e alcançou a posição mais alta de sua história desde que o atual ranking da FIFA foi criado (em 1993). Mais surpreendente ainda é o Egito entre os 10 primeiros, país que ganhou a Copa da África mas não foi ao mundial porque foi eliminado pela modesta Argélia.
Outras seleções que caíram: Portugal (5 posições), Itália (6 posições), França (12 posições), Camarões (21 posições).
Outras que subiram: Chile (8 posições), Paraguai (15 posições), Japão (13 posições), Nova Zelândia (24 posições).
Veja no site da FIFA o ranking completo:
http://pt.fifa.com/worldfootball/ranking/index.html
1º - Espanha +1
2º - Holanda +2
3º - Brasil -2
4º - Alemanha +2
5º - Argentina +2
6º - Uruguai +10
7º - Inglaterra +1
8º - Portugal -5
9º - Egito +3
10º - Chile +8Uma das surpresas é o Uruguai, que subiu para o sexto lugar e alcançou a posição mais alta de sua história desde que o atual ranking da FIFA foi criado (em 1993). Mais surpreendente ainda é o Egito entre os 10 primeiros, país que ganhou a Copa da África mas não foi ao mundial porque foi eliminado pela modesta Argélia.
Outras seleções que caíram: Portugal (5 posições), Itália (6 posições), França (12 posições), Camarões (21 posições).
Outras que subiram: Chile (8 posições), Paraguai (15 posições), Japão (13 posições), Nova Zelândia (24 posições).
Veja no site da FIFA o ranking completo:
http://pt.fifa.com/worldfootball/ranking/index.html
sábado, 24 de julho de 2010
O Jogo do Século
Qual seria o jogo do século pra você? Uma vitória do Brasil numa Copa do Mundo? Uma vitória do seu time ao ser campeão? Para os ingleses, o jogo do século (passado) foi um amistoso em 1953 onde sua seleção foi derrotada. Mas essa partida foi muito mais que um simples amistoso. Foi um marco, um divisor de águas na história do esporte bretão.
Para entender a importância dessa partida, vamos ao contexto da época. Como já mostrei aqui, a Hungria tinha um time fantástico no início dos anos 1950 e ficou quatro anos invicta. Porém, os ingleses só foram ter uma noção do quão forte era essa Hungria no fatídico 25 de novembro de 1953.
Desde que as regras do esporte haviam sido oficializadas, em 1863, 90 anos haviam se passado. Mesmo com o fracasso na Copa de 1950, acreditava-se na Inglaterra que seu futebol era superior ao resto do mundo. Eles tinham um time com muitos jogadores famosos; o principal deles era o veterano Stanley Matthews que, mesmo aos 38 anos, estava em plena forma e era um dos melhores do mundo. Inclusive, Matthews foi eleito o melhor jogador da Europa aos 41 anos e só se aposentou aos 50. Destaque também para o centroavante Stan Mortensen e o meia e capitão Billy Wright.
Sabia-se que os húngaros eram os atuais campeões olímpicos e não perdiam um jogo há três anos. Apesar disso, nada menos que uma convincente vitória era esperada pelos ingleses. Dez dias antes, a Hungria havia enfrentado a Suécia em Budapeste. Jogando mal, conseguiram apenas um empate em 2x2 e foram vaiados pela torcida. O capitão inglês estava lá e declarou que seu time venceria aquela Hungria sem problemas. A imprensa passou a dizer que o vencedor desse amistoso seria o melhor time do mundo e designou a partida como "O Jogo do Século."
Os ingleses jogariam a partida de suas vidas, onde a única opção era vencer. Por outro lado, para os húngaros, não havia pressão nenhuma pela vitória, o que deixou todos tranquilos. Mas essa tranquilidade quase virou nervosismo ao entrar em campo. Wembley estava lotado com aproximadamente 100.000 pessoas. Para evitar a tensão, o capitão húngaro Ferenc Puskás começou a fazer embaixadinhas no aquecimento, para espanto da torcida - aquilo era algo que eles nunca tinham visto. Assim que começou a partida, o nervosismo não existia mais e os ingleses se espantariam mais ainda. A Hungria jogava seu melhor futebol e abriu o placar aos 43 segundos, com um chute no ângulo de Nándor Hidegkuti. Esse primeiro minuto de jogo mostrou bem o que seriam os próximos 89: um massacre.
A Inglaterra jogava com o famoso WM (3-2-2-3), que era a formação padrão há mais de 20 anos. A Hungria vinha com uma formação até então desconhecida, uma variação do WM que originou o 4-2-4. O técnico húngaro Gusztáv Sebes preparou sua seleção para explorar os pontos fracos ingleses. Treinou sua equipe por três semanas enfrentando times que simulavam a forma inglesa de jogar. E deu certo: ao contrário do rígido sistema inglês onde os jogadores tinham posições fixas, os húngaros se movimentavam sem parar, o tempo todo. A supremacia inglesa era contestada. Os donos da casa eram derrotados física, tática e tecnicamente.
A Inglaterra até esboçou uma reação após tomar o primeiro gol. Numa jogada de contra-ataque, Jackie Sewell chutou rasteiro no canto do goleiro Grosics para empatar aos 13 minutos. O jogo era muito aberto e a Hungria perdia chances incríveis de marcar. Aos 20, depois de um pênalti não marcado pelo juiz, Hidegkuti pegou o rebote e não desperdiçou: 2x1.
A Inglaterra jogava mal, errava muitos passes e se perdia na marcação. O zagueiro central Harry Johnston não sabia o que fazer. Ele deveria marcar Hidegkuti, mas este jogava recuado, como um meia ofensivo. Quando ia pra marcação, ele deixava espaços nas suas costas. Quando ficava na sua posição, o camisa 9 húngaro tinha liberdade pra armar.
Aos 23 minutos, o gol que Puskás definiu como o mais bonito de sua carreira - ele recebeu a bola na área e, com um toquinho com a sola do pé esquerdo, trouxe a bola pra trás e deixou o capitão inglês no chão. Na cara do gol, foi só chutar pra fazer o terceiro. Lance de gênio.
Aos 26, Bozsik cobra falta e Puskás desvia, fazendo o quarto gol. A Inglaterra ainda consegue diminuir aos 38, com gol de Mortensen em mais um contra-ataque. No segundo tempo, o massacre continua: Bozsik chuta de fora da área e faz 5x2 aos 5 minutos. Aos 8, Hidegkuti faz o seu hat-trick com um chute de primeira, depois de um passe perfeito de Puskás. Mais um golaço. Em cobrança de pênalti aos 12 minutos, Alf Ramsey diminuiu. E assim seguiu até o final, Inglaterra 3x6 Hungria. A torcida aplaudia de pé o time húngaro enquanto eles saíam de campo.
Essa partida é lembrada como a primeira derrota da Inglaterra pra um time estrangeiro jogando em casa. Porém, eles já haviam perdido para a Escócia quatro vezes em Wembley e uma vez para a Irlanda em Goodison Park. Logo, foi a primeira vez que um país de fora das ilhas britânicas venceu em Wembley.
Pode-se dizer que os ingleses tiveram sorte de terem perdido "só" de 6x3. Foram 35 chutes a gol da Hungria contra apenas 5 da Inglaterra. As palavras de Sir Bobby Robson, apenas um expectador na época, definem bem o que foi a partida: "Era um estilo de jogo que nunca tínhamos visto antes. Não conhecíamos nenhum daqueles jogadores. Não conhecíamos Puskás. Eram todos homens de Marte pra nós. Aquele jogo mudou nossa forma de pensar. Pensamos que íamos destruir aquele time. Nós éramos os mestres, e eles, os pupilos. Foi totalmente o contrário."
A partir dessa derrota, o futebol inglês mudou. Tiveram que admitir que outro país poderia jogar melhor que eles e que a supremacia de 90 anos não existia mais. O técnico inglês Walter Winterbottom passou a aplicar aos poucos o que havia aprendido com os húngaros. O sistema usado por eles foi evoluindo até chegar ao 4-4-2, que hoje é usado pela maioria dos times em todo o mundo.
Um fato curioso é que a Hungria foi derrotada em todas as outras seis ocasiões em que jogou em Wembley. E na próxima data FIFA onde as seleções farão amistosos, quem é que vão se enfrentar? Inglaterra x Hungria em Wembley, dia 11 de agosto de 2010. Pena que hoje a era de ouro dos Magiares Mágicos é apenas uma lembrança distante...
Referências:
England Football Online - História da Inglaterra jogando em Wembley
História em Jogo - Blog de Mauro Beting, onde ele faz uma análise lance a lance do "Jogo do Século"
Terra Magazine - Entrevista com Grosics e Buzánszky, os únicos jogadores daquele time da Hungria que ainda estão vivos
Wikipédia
Para entender a importância dessa partida, vamos ao contexto da época. Como já mostrei aqui, a Hungria tinha um time fantástico no início dos anos 1950 e ficou quatro anos invicta. Porém, os ingleses só foram ter uma noção do quão forte era essa Hungria no fatídico 25 de novembro de 1953.
O ingresso do jogo / Foto: MagyarFutball.hu
Desde que as regras do esporte haviam sido oficializadas, em 1863, 90 anos haviam se passado. Mesmo com o fracasso na Copa de 1950, acreditava-se na Inglaterra que seu futebol era superior ao resto do mundo. Eles tinham um time com muitos jogadores famosos; o principal deles era o veterano Stanley Matthews que, mesmo aos 38 anos, estava em plena forma e era um dos melhores do mundo. Inclusive, Matthews foi eleito o melhor jogador da Europa aos 41 anos e só se aposentou aos 50. Destaque também para o centroavante Stan Mortensen e o meia e capitão Billy Wright.
Sabia-se que os húngaros eram os atuais campeões olímpicos e não perdiam um jogo há três anos. Apesar disso, nada menos que uma convincente vitória era esperada pelos ingleses. Dez dias antes, a Hungria havia enfrentado a Suécia em Budapeste. Jogando mal, conseguiram apenas um empate em 2x2 e foram vaiados pela torcida. O capitão inglês estava lá e declarou que seu time venceria aquela Hungria sem problemas. A imprensa passou a dizer que o vencedor desse amistoso seria o melhor time do mundo e designou a partida como "O Jogo do Século."
Os ingleses jogariam a partida de suas vidas, onde a única opção era vencer. Por outro lado, para os húngaros, não havia pressão nenhuma pela vitória, o que deixou todos tranquilos. Mas essa tranquilidade quase virou nervosismo ao entrar em campo. Wembley estava lotado com aproximadamente 100.000 pessoas. Para evitar a tensão, o capitão húngaro Ferenc Puskás começou a fazer embaixadinhas no aquecimento, para espanto da torcida - aquilo era algo que eles nunca tinham visto. Assim que começou a partida, o nervosismo não existia mais e os ingleses se espantariam mais ainda. A Hungria jogava seu melhor futebol e abriu o placar aos 43 segundos, com um chute no ângulo de Nándor Hidegkuti. Esse primeiro minuto de jogo mostrou bem o que seriam os próximos 89: um massacre.
Disposição tática das duas equipes
A Inglaterra jogava com o famoso WM (3-2-2-3), que era a formação padrão há mais de 20 anos. A Hungria vinha com uma formação até então desconhecida, uma variação do WM que originou o 4-2-4. O técnico húngaro Gusztáv Sebes preparou sua seleção para explorar os pontos fracos ingleses. Treinou sua equipe por três semanas enfrentando times que simulavam a forma inglesa de jogar. E deu certo: ao contrário do rígido sistema inglês onde os jogadores tinham posições fixas, os húngaros se movimentavam sem parar, o tempo todo. A supremacia inglesa era contestada. Os donos da casa eram derrotados física, tática e tecnicamente.
A Inglaterra até esboçou uma reação após tomar o primeiro gol. Numa jogada de contra-ataque, Jackie Sewell chutou rasteiro no canto do goleiro Grosics para empatar aos 13 minutos. O jogo era muito aberto e a Hungria perdia chances incríveis de marcar. Aos 20, depois de um pênalti não marcado pelo juiz, Hidegkuti pegou o rebote e não desperdiçou: 2x1.
A Inglaterra jogava mal, errava muitos passes e se perdia na marcação. O zagueiro central Harry Johnston não sabia o que fazer. Ele deveria marcar Hidegkuti, mas este jogava recuado, como um meia ofensivo. Quando ia pra marcação, ele deixava espaços nas suas costas. Quando ficava na sua posição, o camisa 9 húngaro tinha liberdade pra armar.
Aos 23 minutos, o gol que Puskás definiu como o mais bonito de sua carreira - ele recebeu a bola na área e, com um toquinho com a sola do pé esquerdo, trouxe a bola pra trás e deixou o capitão inglês no chão. Na cara do gol, foi só chutar pra fazer o terceiro. Lance de gênio.
Veja todos os gols do jogo
Aos 26, Bozsik cobra falta e Puskás desvia, fazendo o quarto gol. A Inglaterra ainda consegue diminuir aos 38, com gol de Mortensen em mais um contra-ataque. No segundo tempo, o massacre continua: Bozsik chuta de fora da área e faz 5x2 aos 5 minutos. Aos 8, Hidegkuti faz o seu hat-trick com um chute de primeira, depois de um passe perfeito de Puskás. Mais um golaço. Em cobrança de pênalti aos 12 minutos, Alf Ramsey diminuiu. E assim seguiu até o final, Inglaterra 3x6 Hungria. A torcida aplaudia de pé o time húngaro enquanto eles saíam de campo.
Essa partida é lembrada como a primeira derrota da Inglaterra pra um time estrangeiro jogando em casa. Porém, eles já haviam perdido para a Escócia quatro vezes em Wembley e uma vez para a Irlanda em Goodison Park. Logo, foi a primeira vez que um país de fora das ilhas britânicas venceu em Wembley.
Pode-se dizer que os ingleses tiveram sorte de terem perdido "só" de 6x3. Foram 35 chutes a gol da Hungria contra apenas 5 da Inglaterra. As palavras de Sir Bobby Robson, apenas um expectador na época, definem bem o que foi a partida: "Era um estilo de jogo que nunca tínhamos visto antes. Não conhecíamos nenhum daqueles jogadores. Não conhecíamos Puskás. Eram todos homens de Marte pra nós. Aquele jogo mudou nossa forma de pensar. Pensamos que íamos destruir aquele time. Nós éramos os mestres, e eles, os pupilos. Foi totalmente o contrário."
Foto: MagyarFutball.hu
A partir dessa derrota, o futebol inglês mudou. Tiveram que admitir que outro país poderia jogar melhor que eles e que a supremacia de 90 anos não existia mais. O técnico inglês Walter Winterbottom passou a aplicar aos poucos o que havia aprendido com os húngaros. O sistema usado por eles foi evoluindo até chegar ao 4-4-2, que hoje é usado pela maioria dos times em todo o mundo.
Um fato curioso é que a Hungria foi derrotada em todas as outras seis ocasiões em que jogou em Wembley. E na próxima data FIFA onde as seleções farão amistosos, quem é que vão se enfrentar? Inglaterra x Hungria em Wembley, dia 11 de agosto de 2010. Pena que hoje a era de ouro dos Magiares Mágicos é apenas uma lembrança distante...
Referências:
England Football Online - História da Inglaterra jogando em Wembley
História em Jogo - Blog de Mauro Beting, onde ele faz uma análise lance a lance do "Jogo do Século"
Terra Magazine - Entrevista com Grosics e Buzánszky, os únicos jogadores daquele time da Hungria que ainda estão vivos
Wikipédia
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Japão aposta na mais alta tecnologia para sediar a Copa de 2022
Já falei aqui sobre a candidatura do Qatar para sediar a Copa de 2022. O país árabe mostrou um projeto muito ousado para seus estádios, mas o Japão não quer ficar atrás. O projeto dos japoneses é usar o máximo que a tecnologia pode oferecer para fazer uma Copa revolucionária.
Com o slogan "208 smiles" (208 sorrisos), a ideia da campanha é espalhar a alegria do futebol através dos 208 países e regiões filiados à FIFA de uma forma jamais vista. Pelo vídeo abaixo, dá pra ver que eles não estão brincando quando falam em uma Copa revolucionária.
Câmeras de alta definição serão espalhadas ao redor do campo, captando todos os movimentos dos jogadores em 360 graus e transmitindo tudo em 3D nos telões. Microfones colocados embaixo da grama vão captar todos os sons das jogadas. Os gritos e pulos da torcida gerarão toda a energia elétrica que o estádio precisa para ser auto-suficiente.
E o mais incrível: o Sistema de Tradução Automática em Tempo Real, um pequeno aparelho que você coloca no ouvido e traduz o que outra pessoa falar em 45 idiomas diferentes. Os torcedores no estádio poderão usar também um dispositivo de "Realidade Aumentada", que mostrará várias informações, inclusive identificando os jogadores em campo durante uma partida.
O Japão já tem vários estádios prontos da Copa de 2002, mas o fato de terem sediado recentemente a competição pode pesar contra eles. A derrota de Tóquio para sediar as Olimpíadas de 2016 também atrapalhou a candidatura nipônica. Em compensação, eles vão organizar a Copa do Mundo de Rugby de 2019.
Além de Japão e Qatar, Coreia do Sul e Austrália também estão na disputa, assim como o(s) país(es) do continente que não for escolhido para sediar a Copa 2018. Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Portugal/Espanha e Bélgica/Holanda são candidatos para 2018. Caso o escolhido seja da Europa, por exemplo, apenas os Estados Unidos podem tentar a candidatura também para 2022. Os escolhidos devem ser anunciados pela FIFA em dezembro.
Com o slogan "208 smiles" (208 sorrisos), a ideia da campanha é espalhar a alegria do futebol através dos 208 países e regiões filiados à FIFA de uma forma jamais vista. Pelo vídeo abaixo, dá pra ver que eles não estão brincando quando falam em uma Copa revolucionária.
Câmeras de alta definição serão espalhadas ao redor do campo, captando todos os movimentos dos jogadores em 360 graus e transmitindo tudo em 3D nos telões. Microfones colocados embaixo da grama vão captar todos os sons das jogadas. Os gritos e pulos da torcida gerarão toda a energia elétrica que o estádio precisa para ser auto-suficiente.
E o mais incrível: o Sistema de Tradução Automática em Tempo Real, um pequeno aparelho que você coloca no ouvido e traduz o que outra pessoa falar em 45 idiomas diferentes. Os torcedores no estádio poderão usar também um dispositivo de "Realidade Aumentada", que mostrará várias informações, inclusive identificando os jogadores em campo durante uma partida.
O Japão já tem vários estádios prontos da Copa de 2002, mas o fato de terem sediado recentemente a competição pode pesar contra eles. A derrota de Tóquio para sediar as Olimpíadas de 2016 também atrapalhou a candidatura nipônica. Em compensação, eles vão organizar a Copa do Mundo de Rugby de 2019.
Além de Japão e Qatar, Coreia do Sul e Austrália também estão na disputa, assim como o(s) país(es) do continente que não for escolhido para sediar a Copa 2018. Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Portugal/Espanha e Bélgica/Holanda são candidatos para 2018. Caso o escolhido seja da Europa, por exemplo, apenas os Estados Unidos podem tentar a candidatura também para 2022. Os escolhidos devem ser anunciados pela FIFA em dezembro.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
O auge e a decadência do futebol húngaro - Parte 2
Ir para parte 1
A Copa do Mundo na Suíça
O primeiro jogo da Hungria na Copa de 1954 foi contra a Coreia do Sul, que fazia sua estreia em Copas. O time coreano não era muito conhecido, mas todos esperavam que a Hungria vencesse com facilidade. O que não esperavam é que fosse com tanta facilidade! Com um gol de Lantos, um de Czibor, dois de Puskás, dois de Palotás e três de Kocsis, estava estabelecida a maior goleada de uma Copa de Mundo até o momento, 9x0.
Na segunda partida, o adversário era a Alemanha. Sepp Herberger, o técnico alemão, tomou uma decisão inusitada: sabendo que seu time tinha poucas chances de vencer a Hungria e que seria um jogo muito desgastante, ele resolveu poupar alguns titulares e entrou em campo com metade do time reserva. Os húngaros, como esperado, deram mais um show. Aos 21 do primeiro tempo, já estava 3x0. Com quatro gols de Kocsis, um de Puskás, dois de Hidegkuti e um de József Tóth, a partida acabou 8x3. Pfaff, Rahn e Herrmann descontaram para os alemães. Mas a Hungria teve um problema grave nesse jogo: o capitão Ferenc Puskás sofreu uma violenta entrada por trás de Werner Liebrich e torceu o tornozelo. Devido à lesão, Puskás acabou ficando de fora nos dois jogos seguintes.
Pelo bizarro regulamento da Copa de 54, cada time jogava só duas vezes na primeira fase. Mas como Alemanha e Turquia estavam empatados com uma vitória e uma derrota, houve um jogo desempate entre eles. Foi nisso que apostou o técnico alemão ao decidir não enfrentar a Hungria com força total. Deu certo, a Alemanha venceu a seleção turca por 7x2 e se classificou.
Um ponto curioso é que os confrontos da fase final eram decididos por sorteio. Logo, não fazia diferença se classificar em primeiro ou segundo no grupo. Tanto que os vencedores de cada grupo caíram na mesma chave (Brasil, Hungria, Uruguai e Inglaterra), enquanto os segundos colocados já tinham um representante garantido na final (Iugoslávia, Alemanha, Áustria ou Suíça).
A Batalha de Berna
O adversário dos húngaros nas quartas de final era o Brasil, atual vice-campeão do mundo e que tinha jogadores como Djalma Santos, Nilton Santos, Julinho e Didi. Diziam até que era a final antecipada. 60.000 pessoas assistiram o jogo no Wankdorf Stadium, em Berna. Foi uma partida tão violenta que acabou recebendo o nome "Batalha de Berna".
Mesmo sem Puskás, a Hungria começou arrasadora. Hidegkuti marcou aos 4 e Kocsis aos 7 do primeiro tempo. O Brasil foi pra cima e diminuiu aos 18, com Djalma Santos cobrando pênalti. Os dois times estavam nervosos e abusavam das faltas duras. O clima não era nada amistoso. Fora do lance, Brandãozinho levou um chute na canela de Hidekguti e revidou com um soco na orelha, quase levando o adversário a nocaute. O juiz nem viu. Nilton Santos e Pinheiro acertaram Tóth ao mesmo tempo em uma dividida, que saiu mancando. Aos 15 do segundo tempo, Pinheiro toca a mão na bola dentro da área. Lantos bate o pênalti e faz 3x1. Cinco minutos depois, o Brasil diminui com Julinho. A tensão aumentava cada vez mais. Aos 26, Nilton Santos e Bozsik se desentenderam, trocaram socos e foram expulsos. Aos 34, Humberto Tozzi, em vez de acertar a bola, acertou uma voadora em Lóránt e também foi mandado embora. Os brasileiros buscavam o empate mas, com um jogador a menos, a situação se complicou. A dois minutos do fim, Kocsis marcou mais um e definiu: Hungria 4x2 Brasil.
Ao fim do jogo, Czibor estendeu a mão para cumprimentar Maurinho, mas ele tirou a mão e deixou o brasileiro no vácuo, que revidou com um soco na barriga. Mais tumulto. Pra piorar, o vestiário dos dois times era um do lado do outro. Quando os jogadores estavam saindo, o médico do Brasil tentou acertar uma garrafa de água (que, na época, era de vidro) em Puskás, que estava à beira do campo, mas errou o alvo e acabou acertando a testa do zagueiro Pinheiro. Quando ele se virou pra ver quem tinha jogado, alguém gritou: "Foi o Puskás!". Começou de vez a pancadaria. Membros da comissão técnica, até radialistas e jornalistas entraram na briga. No meio da confusão, o técnico brasileiro Zezé Moreira acertou uma chuteira (que tinha travas de madeira) no rosto do técnico húngaro. Apesar de todo esse quebra-pau, ninguém se feriu seriamente. Inclusive, não existia suspensão automática e o húngaro que foi expulso jogou normalmente a partida seguinte.
Na semifinal, mais um tabu para os húngaros derrubarem: vencer o Uruguai, atual campeão e que nunca havia perdido um jogo de Copa. Ainda sem Puskás, a Hungria continuou no mesmo ritmo: fez logo 1x0 aos 13 minutos com Czibor, e ampliou no primeiro minuto do segundo tempo com gol de Hidegkuti. Mas os uruguaios não se renderam. Juan Hohberg diminuiu aos 30 e empatou a quatro minutos do fim. Na prorrogação, os dois times partiram em busca da vitória e o jogo ficou aberto, com chances para os dois lados. Com dois gols do artilheiro Kocsis, a Hungria saiu vitoriosa com 4x2 no placar. Os 37.000 presentes no estádio La Pontaisse, em Lausanne, aplaudiram de pé o espetáculo.
O Milagre de Berna
Chegou a grande final, o dia em que a Hungria poderia se consagrar de vez como o melhor time do mundo. O adversário seria mais uma vez a Alemanha, que já havia tomado uma goleada histórica na primeira fase quando jogou com um time misto. Mas os alemães, comandados pelos irmãos Fritz e Ottmar Walter, se recuperaram e chegaram com méritos à final, ganhando a confiança da torcida ao golear a Áustria por 6x1 na semifinal.
Chovia no dia do jogo, o que os alemães consideravam um bom presságio. Diziam que Fritz Walter jogava o seu melhor futebol na chuva, o que era chamado de "Fritz Walter Wetter" (o tempo de Fritz Walter). Além do mais, jogar na chuva era mais desgastante, e os húngaros vinham de duas partidas duríssimas.
Outro ponto interessante dessa semifinal foi as chuteiras usadas pelo time alemão. Adi Dassler, fundador da Adidas, havia recentemente inventado as chuteiras de travas ajustáveis. A ideia era que as travas poderiam ser parafusadas para ficar maiores ou menores, dependendo das condições do campo. Com o tempo chuvoso, Dassler logo foi solicitado pelo técnico Sepp Herberger para aumentar as travas das chuteiras, o que daria mais aderência aos jogadores no campo molhado e que logo estaria enlamaçado no estádio Wankdorf.
A Copa do Mundo na Suíça
O primeiro jogo da Hungria na Copa de 1954 foi contra a Coreia do Sul, que fazia sua estreia em Copas. O time coreano não era muito conhecido, mas todos esperavam que a Hungria vencesse com facilidade. O que não esperavam é que fosse com tanta facilidade! Com um gol de Lantos, um de Czibor, dois de Puskás, dois de Palotás e três de Kocsis, estava estabelecida a maior goleada de uma Copa de Mundo até o momento, 9x0.
Na segunda partida, o adversário era a Alemanha. Sepp Herberger, o técnico alemão, tomou uma decisão inusitada: sabendo que seu time tinha poucas chances de vencer a Hungria e que seria um jogo muito desgastante, ele resolveu poupar alguns titulares e entrou em campo com metade do time reserva. Os húngaros, como esperado, deram mais um show. Aos 21 do primeiro tempo, já estava 3x0. Com quatro gols de Kocsis, um de Puskás, dois de Hidegkuti e um de József Tóth, a partida acabou 8x3. Pfaff, Rahn e Herrmann descontaram para os alemães. Mas a Hungria teve um problema grave nesse jogo: o capitão Ferenc Puskás sofreu uma violenta entrada por trás de Werner Liebrich e torceu o tornozelo. Devido à lesão, Puskás acabou ficando de fora nos dois jogos seguintes.
Pelo bizarro regulamento da Copa de 54, cada time jogava só duas vezes na primeira fase. Mas como Alemanha e Turquia estavam empatados com uma vitória e uma derrota, houve um jogo desempate entre eles. Foi nisso que apostou o técnico alemão ao decidir não enfrentar a Hungria com força total. Deu certo, a Alemanha venceu a seleção turca por 7x2 e se classificou.
Um ponto curioso é que os confrontos da fase final eram decididos por sorteio. Logo, não fazia diferença se classificar em primeiro ou segundo no grupo. Tanto que os vencedores de cada grupo caíram na mesma chave (Brasil, Hungria, Uruguai e Inglaterra), enquanto os segundos colocados já tinham um representante garantido na final (Iugoslávia, Alemanha, Áustria ou Suíça).
A Batalha de Berna
O adversário dos húngaros nas quartas de final era o Brasil, atual vice-campeão do mundo e que tinha jogadores como Djalma Santos, Nilton Santos, Julinho e Didi. Diziam até que era a final antecipada. 60.000 pessoas assistiram o jogo no Wankdorf Stadium, em Berna. Foi uma partida tão violenta que acabou recebendo o nome "Batalha de Berna".
Mesmo sem Puskás, a Hungria começou arrasadora. Hidegkuti marcou aos 4 e Kocsis aos 7 do primeiro tempo. O Brasil foi pra cima e diminuiu aos 18, com Djalma Santos cobrando pênalti. Os dois times estavam nervosos e abusavam das faltas duras. O clima não era nada amistoso. Fora do lance, Brandãozinho levou um chute na canela de Hidekguti e revidou com um soco na orelha, quase levando o adversário a nocaute. O juiz nem viu. Nilton Santos e Pinheiro acertaram Tóth ao mesmo tempo em uma dividida, que saiu mancando. Aos 15 do segundo tempo, Pinheiro toca a mão na bola dentro da área. Lantos bate o pênalti e faz 3x1. Cinco minutos depois, o Brasil diminui com Julinho. A tensão aumentava cada vez mais. Aos 26, Nilton Santos e Bozsik se desentenderam, trocaram socos e foram expulsos. Aos 34, Humberto Tozzi, em vez de acertar a bola, acertou uma voadora em Lóránt e também foi mandado embora. Os brasileiros buscavam o empate mas, com um jogador a menos, a situação se complicou. A dois minutos do fim, Kocsis marcou mais um e definiu: Hungria 4x2 Brasil.
Ao fim do jogo, Czibor estendeu a mão para cumprimentar Maurinho, mas ele tirou a mão e deixou o brasileiro no vácuo, que revidou com um soco na barriga. Mais tumulto. Pra piorar, o vestiário dos dois times era um do lado do outro. Quando os jogadores estavam saindo, o médico do Brasil tentou acertar uma garrafa de água (que, na época, era de vidro) em Puskás, que estava à beira do campo, mas errou o alvo e acabou acertando a testa do zagueiro Pinheiro. Quando ele se virou pra ver quem tinha jogado, alguém gritou: "Foi o Puskás!". Começou de vez a pancadaria. Membros da comissão técnica, até radialistas e jornalistas entraram na briga. No meio da confusão, o técnico brasileiro Zezé Moreira acertou uma chuteira (que tinha travas de madeira) no rosto do técnico húngaro. Apesar de todo esse quebra-pau, ninguém se feriu seriamente. Inclusive, não existia suspensão automática e o húngaro que foi expulso jogou normalmente a partida seguinte.
Na semifinal, mais um tabu para os húngaros derrubarem: vencer o Uruguai, atual campeão e que nunca havia perdido um jogo de Copa. Ainda sem Puskás, a Hungria continuou no mesmo ritmo: fez logo 1x0 aos 13 minutos com Czibor, e ampliou no primeiro minuto do segundo tempo com gol de Hidegkuti. Mas os uruguaios não se renderam. Juan Hohberg diminuiu aos 30 e empatou a quatro minutos do fim. Na prorrogação, os dois times partiram em busca da vitória e o jogo ficou aberto, com chances para os dois lados. Com dois gols do artilheiro Kocsis, a Hungria saiu vitoriosa com 4x2 no placar. Os 37.000 presentes no estádio La Pontaisse, em Lausanne, aplaudiram de pé o espetáculo.
O Milagre de Berna
Chegou a grande final, o dia em que a Hungria poderia se consagrar de vez como o melhor time do mundo. O adversário seria mais uma vez a Alemanha, que já havia tomado uma goleada histórica na primeira fase quando jogou com um time misto. Mas os alemães, comandados pelos irmãos Fritz e Ottmar Walter, se recuperaram e chegaram com méritos à final, ganhando a confiança da torcida ao golear a Áustria por 6x1 na semifinal.
Chovia no dia do jogo, o que os alemães consideravam um bom presságio. Diziam que Fritz Walter jogava o seu melhor futebol na chuva, o que era chamado de "Fritz Walter Wetter" (o tempo de Fritz Walter). Além do mais, jogar na chuva era mais desgastante, e os húngaros vinham de duas partidas duríssimas.
Outro ponto interessante dessa semifinal foi as chuteiras usadas pelo time alemão. Adi Dassler, fundador da Adidas, havia recentemente inventado as chuteiras de travas ajustáveis. A ideia era que as travas poderiam ser parafusadas para ficar maiores ou menores, dependendo das condições do campo. Com o tempo chuvoso, Dassler logo foi solicitado pelo técnico Sepp Herberger para aumentar as travas das chuteiras, o que daria mais aderência aos jogadores no campo molhado e que logo estaria enlamaçado no estádio Wankdorf.
Os capitães Ferenc Puskás e Fritz Walter cumprimentam-se antes do jogo (foto: FIFA.com)
Puskás finalmente retornou, mas visivelmente não estava nas suas melhores condições e jogou no sacrifício. Mesmo assim, parecia que nada ia parar os magiares. Como sempre, começaram arrasadores, marcando no início da partida. Puskás fez 1x0 aos 6 minutos e Czibor ampliou aos 8. Tudo indicava mais uma goleada e vitória fácil. Mas logo aos 10 minutos Morlock diminuiu e deu esperanças ao alemães, que pareciam incrédulos quando Rahn empatou aos 18. 2x2 no placar. O goleiro Grosics foi empurrado no lance, mas nenhum húngaro reclamou. Eles simplesmente nunca reclamavam com os juízes, porque qualquer erro sempre era compensado com os muitos gols que faziam.
A chuva continuava caindo forte e a tensão só aumentava. Os alemães equilibraram o jogo e ameaçavam até virar o placar. A Hungria mostrava cansaço, desgaste depois do violento jogo contra o Brasil e da prorrogação contra o Uruguai. Mas por pouco não fizeram o terceiro. O zagueiro alemão cortou um chute em cima da linha quando o goleiro Turek já estava vencido. Em outro lance, Hidegkuti mandou a bola no travessão. A seis minutos do fim, a Alemanha lança a bola na área, que é cortada pela defesa. Helmut Rahn pega o rebote e chuta da entrada da área, no canto de Grosics. Os alemães viram o jogo e a torcida vai ao delírio. Puskás ainda fez o gol de empate no finalzinho, mas, em uma decisão polêmica, foi marcado impedimento. Fim de jogo, a Alemanha era campeã do mundo.
Assim chegou ao fim a sequência invicta de 31 jogos em quatro anos dos húngaros, com uma derrota no jogo mais importante de sua história. Para os alemães, foi uma vitória heróica, fantástica, inesquecível. O Milagre de Berna, como ficou conhecida essa final, virou até filme. Foi uma proeza tão grande quanto a do Uruguai quatro anos atrás. Para os húngaros, essa derrota foi o fim de uma geração de ouro. Um fim inesperado e melancólico para um dos melhores times que o mundo viu jogar. Essa Hungria poderia muito bem continuar brilhando, mas os acontecimentos que se seguiram impediram que isso acontecesse.
O fim de uma geração de ouro
Em 1956, houve uma revolução na Hungria contra o controle soviético. Quando isso aconteceu, o Honvéd estava na Espanha, jogando pela antiga Copa dos Campeões da Europa contra o Athletic Bilbao, onde foram derrotados por 3x2. Havia guerra civil em Budapeste. Milhares de tanques soviéticos invadiram a cidade, que foi bombardeada. Os jogadores decidiram não voltar para a Hungria e o jogo de volta foi realizado na Bélgica. Logo no início, o goleiro Grosics se machucou. Como substituições ainda não eram permitidas, Czibor foi jogar no gol. Em desvantagem, o Honvéd conseguiu apenas um empate em 3x3, que os eliminou da competição.
Assim, o time que era a base da seleção ficou sem rumo. Mesmo com a FIFA e o governo soviético - que deu um fim na revolução - pedindo para que retornassem, eles decidiram chamar seus familiares de Budapeste e fazer uma excursão pelo mundo para arrecadar fundos. Passaram por Itália, Espanha, Portugal e até foram ao Brasil, onde jogaram cinco partidas: derrota para o Flamengo (6x4), vitória contra o Botafogo (4x2), mais duas vitórias contra o Flamengo (6x4 e 3x2) e derrota para um combinado entre Flamengo e Botafogo (6x2).
Porém, aquele time não existia mais oficialmente. Foram banidos pela FIFA e proibidos de usarem o nome Honvéd. Depois da excursão pelo Brasil, os jogadores se separaram e cada um tomou o seu rumo. Alguns foram perdoados e resolveram voltar pra Hungria, como Grosics, Lóránt, Bozsik e Budai. Outros acabaram jogando no oeste da Europa. Em 1958, Czibor e Kocsis foram para o Barcelona. Puskás, depois de vagar pela Europa e ficar um ano sem jogar, assinou com o Real Madrid e foi uma das estrelas do time que dominou a Europa no final dos anos 50.
A decadência
De volta à Hungria, o Honvéd fez uma péssima campanha sem seus principais jogadores e só não foi rebaixado porque decidiram expandir a primeira divisão. Apenas nos anos 80 eles foram novamente campeões nacionais.
A seleção foi se enfraquecendo aos poucos e nunca mais passou das quartas de final em uma Copa do Mundo. Sua última participação foi em 1986, onde não passou da primeira fase. A última vez que participaram de uma Eurocopa foi em 1972.
Nos anos 60 os magiares ainda tiveram um certo sucesso, com dois títulos olímpicos (1964 e 1968), um 5º lugar na Copa de 1962 e um 6º lugar na Copa de 1966. Ainda surgiram grandes jogadores, como Lajos Tichy, Albert Flórián, Ferenc Bene e Janos Fárkas. Mas parou por aí.
A Hungria ainda conseguia ser competitiva até o início dos anos 90, quando o comunismo deixou de existir definitivamente. Hoje eles não têm relevância nenhuma no cenário internacional. A sua liga é fraca e tem suspeita de manipulação de resultados. O público é pouco - o atual campeão, Debreceni, teve a média de 4.700 torcedores por jogo na última temporada -, os investidores são poucos e a televisão paga pouco pra transmitir os jogos. Em 2006, o Ferencvários, clube mais popular do país, foi rebaixado por não pagar o que devia há anos. Os times estão afundados em dívidas e não conseguem fazer um trabalho decente com as categorias de base.
Só na temporada passada é que conseguiram colocar um time na fase de grupos da Liga dos Campeões depois de mais de 10 anos. Isso porque a UEFA mudou as regras para facilitar a entrada de equipes de ligas menores. Mesmo assim, o Debreceni fez uma campanha muito ruim, levando goleadas e perdendo todos os seis jogos que disputou. Na seleção também as coisas vão mal. Num amistoso disputado em junho, a Hungria perdeu da Holanda de 6x1.
O maior problema do futebol húngaro é administrativo. O que não é diferente de vários outros países, mas parece que a situação por lá é desesperadora. Muita coisa precisa ser feita. A situação não deve melhorar tão cedo, mas pode ter surgido um fio de esperança quando a Hungria conseguiu o 3º lugar no mundial sub-20 em 2009. Os jovens Krisztián Németh e Vladimir Koman, de 21 anos, são boas promessas. Quem sabe eles não façam como fez o Uruguai na Copa de 2010 e mostrem um brilho digno dos antigos tempos de glória?
Referências:
Balípodo
BBC
FIFA.com
Football Memorian
IFHOF
MagyarFutball
Milano FC
NSCAA
Olheiros
Preleção
UOL Esporte
Wapedia
Wikipédia
Assim, o time que era a base da seleção ficou sem rumo. Mesmo com a FIFA e o governo soviético - que deu um fim na revolução - pedindo para que retornassem, eles decidiram chamar seus familiares de Budapeste e fazer uma excursão pelo mundo para arrecadar fundos. Passaram por Itália, Espanha, Portugal e até foram ao Brasil, onde jogaram cinco partidas: derrota para o Flamengo (6x4), vitória contra o Botafogo (4x2), mais duas vitórias contra o Flamengo (6x4 e 3x2) e derrota para um combinado entre Flamengo e Botafogo (6x2).
Porém, aquele time não existia mais oficialmente. Foram banidos pela FIFA e proibidos de usarem o nome Honvéd. Depois da excursão pelo Brasil, os jogadores se separaram e cada um tomou o seu rumo. Alguns foram perdoados e resolveram voltar pra Hungria, como Grosics, Lóránt, Bozsik e Budai. Outros acabaram jogando no oeste da Europa. Em 1958, Czibor e Kocsis foram para o Barcelona. Puskás, depois de vagar pela Europa e ficar um ano sem jogar, assinou com o Real Madrid e foi uma das estrelas do time que dominou a Europa no final dos anos 50.
A decadência
De volta à Hungria, o Honvéd fez uma péssima campanha sem seus principais jogadores e só não foi rebaixado porque decidiram expandir a primeira divisão. Apenas nos anos 80 eles foram novamente campeões nacionais.
A seleção foi se enfraquecendo aos poucos e nunca mais passou das quartas de final em uma Copa do Mundo. Sua última participação foi em 1986, onde não passou da primeira fase. A última vez que participaram de uma Eurocopa foi em 1972.
Nos anos 60 os magiares ainda tiveram um certo sucesso, com dois títulos olímpicos (1964 e 1968), um 5º lugar na Copa de 1962 e um 6º lugar na Copa de 1966. Ainda surgiram grandes jogadores, como Lajos Tichy, Albert Flórián, Ferenc Bene e Janos Fárkas. Mas parou por aí.
A Hungria ainda conseguia ser competitiva até o início dos anos 90, quando o comunismo deixou de existir definitivamente. Hoje eles não têm relevância nenhuma no cenário internacional. A sua liga é fraca e tem suspeita de manipulação de resultados. O público é pouco - o atual campeão, Debreceni, teve a média de 4.700 torcedores por jogo na última temporada -, os investidores são poucos e a televisão paga pouco pra transmitir os jogos. Em 2006, o Ferencvários, clube mais popular do país, foi rebaixado por não pagar o que devia há anos. Os times estão afundados em dívidas e não conseguem fazer um trabalho decente com as categorias de base.
Só na temporada passada é que conseguiram colocar um time na fase de grupos da Liga dos Campeões depois de mais de 10 anos. Isso porque a UEFA mudou as regras para facilitar a entrada de equipes de ligas menores. Mesmo assim, o Debreceni fez uma campanha muito ruim, levando goleadas e perdendo todos os seis jogos que disputou. Na seleção também as coisas vão mal. Num amistoso disputado em junho, a Hungria perdeu da Holanda de 6x1.
O maior problema do futebol húngaro é administrativo. O que não é diferente de vários outros países, mas parece que a situação por lá é desesperadora. Muita coisa precisa ser feita. A situação não deve melhorar tão cedo, mas pode ter surgido um fio de esperança quando a Hungria conseguiu o 3º lugar no mundial sub-20 em 2009. Os jovens Krisztián Németh e Vladimir Koman, de 21 anos, são boas promessas. Quem sabe eles não façam como fez o Uruguai na Copa de 2010 e mostrem um brilho digno dos antigos tempos de glória?
Seleção Sub-20 da Hungria comemora o 3º lugar no Mundial do Egito depois de uma disputa por pênaltis.
À esquerda, com a camisa 9, Krisztián Németh. Vladimir Koman é o 7, com a braçadeira de capitão.
Foto: Getty Images
Referências:
Balípodo
BBC
FIFA.com
Football Memorian
IFHOF
MagyarFutball
Milano FC
NSCAA
Olheiros
Preleção
UOL Esporte
Wapedia
Wikipédia
sábado, 17 de julho de 2010
O auge e a decadência do futebol húngaro - Parte 1
Até meados do século passado, a Hungria era uma potência do futebol mundial. Conseguiu façanhas como ficar quatro anos invicta (entre 1950 e 1954), ser a primeira seleção não-britânica a derrotar a Inglaterra em solo inglês, além de três medalhas de ouro olímpicas (1952, 1964 e 1968) e dois vice-campeonatos em Copas do Mundo (1938 e 1954). A Hungria possuía alguns dos melhores jogadores do mundo, distribuía goleadas e era temida por todos. Porém, o futebol húngaro foi enfraquecendo com o passar dos anos. Craques não mais surgiram lá e hoje a sua seleção não consegue nem se classificar para a Copa do Mundo ou a Eurocopa. O que pode ter acontecido que causou toda essa decadência?
Surge uma potência no futebol
Desde a década de 30, a Hungria já tinha uma seleção forte. Em 1934, porém, na sua primeira Copa, pararam nas quartas de final, derrotados por 2x1 pela Áustria, que também era uma das forças da época. Em 1938, Chegaram à final com vitórias sobre Índias Holandesas (atual Indonésia, 6x0), Suíça (2x0) e Suécia (5x1). Apesar de terem o melhor ataque da competição, foram derrotados pelos italianos na final (4x2). Tiveram ainda o vice e o terceiro artilheiro da competição, Gyula Zsengellér (6 gols) e György Sárosi (5 gols).
Mas ainda estava por vir a geração de ouro dos "Magiares Mágicos"*. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial, encerrou-se o governo de extrema direita alinhado ao nazismo no país e entrou em vigor o regime socialista da União Soviética. Com o objetivo de usar o futebol para fazer propaganda política, o governo apropriou-se da seleção nacional e do Kispest FC, time da capital Budapeste. O Kispest, que já usava um uniforme vermelho (as cores do comunismo), teve seu nome mudado pra Honvéd que, em húngaro, quer dizer 'soldado', ou 'defensor da pátria'.
O vice-ministro dos esportes Guzstáv Sebes recebeu o cargo de treinador da seleção e a missão de formar um time campeão. Junto com seu assistente Gyula Mándi, procurou talentos por todo o país e os colocou pra jogar no Honvéd. Apesar disso, aquele que se tornou o principal jogador do time nasceu e cresceu nas vizinhanças do clube. Era Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores de todos os tempos.
Puskás era baixinho, alguns diziam que até acima do peso. Era péssimo cebeceador e só conseguia chutar com a perna esquerda. Mas isso não fazia diferença perto de seu enorme talento. Rápido, driblador, inteligente, excelente nos passes curtos e com um chute arrasador, Puskás ganhou o apelido de "Major Galopante". Ele jogou no time local (quando ainda se chamava Kispest) desde os 11 anos.
Não foi só o nome do time que mudou quando este passou a ser administrado pelo exército húngaro. Sebes implantou uma disciplina militar de treinamentos. Chegaram os maiores talentos do país, que acabaram formando a base da seleção. Destaque para o goleiro Gyula Grosics, o zagueiro Gyula Lóránt, os meias József Bozsik e Lázsló Budai e os atacantes Sándor Kocsis, Ferenc Puskás e Zoltán Czibor. Jogando sempre juntos, o entrosamento entre eles era o melhor possível. De mero figurante, o Honvéd passou a ser a maior força do país, vencendo o campeonato nacional em 1949-1950, 1950, 1952, 1954 e 1955. Seu único rival foi o MTK, campeão em 1951 e 1953 e que tinha três estrelas da seleção: o zagueiro Mihály Lantos, o meia József Zakariás e o atacante Nándor Hidegkuti.
A máquina húngara começa a conquistar o mundo
Aos poucos, Sebes foi dando forma à sua seleção em amistosos. Jogando em Viena, os húngaros foram derrotados pela Áustria por 3x2, em maio de 1950. Mas a partir daí começou a impressionante série invicta dos Magiares Mágicos, com uma vitória sobre a Polônia por 5x2, em Varsóvia.
Em 1952, vieram as Olimpíadas de Helsinque, na Finlândia. Com uma campanha perfeita de cinco vitórias em cinco jogos (2x1 Romênia, 3x0 Itália, 7x1 Turquia, 6x0 Suécia e 2x0 Iugoslávia), os húngaros conquistaram sua primeira grande glória e levaram a medalha de ouro pra casa.
Em 1953, a Hungria foi até Wembley jogar um amistoso contra os ingleses diante de um público de mais de 100.000 pessoas. A Inglaterra nunca havia perdido em casa pra um time de fora da Grã-Bretanha, e ainda vivia um bom momento nas eliminatórias para a Copa do Mundo na Suíça no ano seguinte. A expectativa era de uma grande vitória mas, no final, todos ficaram estarrecidos: a Hungria deu um show e venceu por incríveis 6x3. Como se não fosse o bastante, na revanche disputada no ano seguinte, o último amistoso antes da Copa, os húngaros mais uma vez não perdoaram: venceram por 7x1. A Hungria era o melhor time do mundo, e só faltava vencer a Copa do Mundo para se consagrarem de vez.
Evolução tática
Taticamente, a Hungria fez o futebol evoluir. Nos primórdios do esporte, em 1860, a Inglaterra jogava com apenas um zagueiro. Em 1872 a Escócia passou a usar dois. Porém, ainda não havia organização tática em campo. Só em 1925 é que o Arsenal do técnico Herbert Chapman começou a jogar com um esquema definido, que ficou conhecido como WM. Três zagueiros, dois meias defensivos, dois meias ofensivos e três atacantes. A disposição dos jogadores em campo formava as letras WM, daí o nome da formação. Devido ao seu sucesso, todos os times passaram a usar também o WM.
O que Guzstáv Sebes fez foi recuar o atacante central, transformando o 'M' em um 'W'. No caso, o Nº 9, Hidegkuti, que não era forte o bastante pra bater de frente com os zagueiros, jogava como um meia avançado. Como os adversários jogavam com três defensores, o zagueiro central ficava indeciso se saía de sua posição pra marcá-lo (deixando um espaço livre nas suas costas) ou se continuava na sua posição (deixando o adversário dominar a bola com liberdade). Quando a Hungria não tinha a posse de bola, um dos homens do meio recuava, formando uma linha de quatro zagueiros (daí surgiu o termo quarto zagueiro). Foi dessa formação que surgiu o 4-2-4 usado pelo Brasil ao vencer a Copa da Suécia em 1958. Outro ponto de destaque é que os jogadores se movimentavam bastante e trocavam de posição (por isso que Sebes fez seu time treinar muito o condicionamento físico), o que originou o "Carrossel Holandês" dos anos 70.
E foi assim que a Hungria estreava na Copa do Mundo de 1954, depois de golear a Inglaterra por 7x1 e estar invicta por 27 jogos nos últimos quatro anos. Os Magiares Mágicos encantavam o mundo e pareciam imbatíveis. O título mundial era mais que provável.
Ir para Parte 2
*O termo magiar refere-se à etnia de origem asiática que formou a Hungria. Em húngaro, magyar é usado também para se referir ao cidadão húngaro.
Surge uma potência no futebol
Desde a década de 30, a Hungria já tinha uma seleção forte. Em 1934, porém, na sua primeira Copa, pararam nas quartas de final, derrotados por 2x1 pela Áustria, que também era uma das forças da época. Em 1938, Chegaram à final com vitórias sobre Índias Holandesas (atual Indonésia, 6x0), Suíça (2x0) e Suécia (5x1). Apesar de terem o melhor ataque da competição, foram derrotados pelos italianos na final (4x2). Tiveram ainda o vice e o terceiro artilheiro da competição, Gyula Zsengellér (6 gols) e György Sárosi (5 gols).
Mas ainda estava por vir a geração de ouro dos "Magiares Mágicos"*. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial, encerrou-se o governo de extrema direita alinhado ao nazismo no país e entrou em vigor o regime socialista da União Soviética. Com o objetivo de usar o futebol para fazer propaganda política, o governo apropriou-se da seleção nacional e do Kispest FC, time da capital Budapeste. O Kispest, que já usava um uniforme vermelho (as cores do comunismo), teve seu nome mudado pra Honvéd que, em húngaro, quer dizer 'soldado', ou 'defensor da pátria'.
O vice-ministro dos esportes Guzstáv Sebes recebeu o cargo de treinador da seleção e a missão de formar um time campeão. Junto com seu assistente Gyula Mándi, procurou talentos por todo o país e os colocou pra jogar no Honvéd. Apesar disso, aquele que se tornou o principal jogador do time nasceu e cresceu nas vizinhanças do clube. Era Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores de todos os tempos.
O Jovem Puskás no Honvéd / foto: Getty Images
Puskás era baixinho, alguns diziam que até acima do peso. Era péssimo cebeceador e só conseguia chutar com a perna esquerda. Mas isso não fazia diferença perto de seu enorme talento. Rápido, driblador, inteligente, excelente nos passes curtos e com um chute arrasador, Puskás ganhou o apelido de "Major Galopante". Ele jogou no time local (quando ainda se chamava Kispest) desde os 11 anos.
Não foi só o nome do time que mudou quando este passou a ser administrado pelo exército húngaro. Sebes implantou uma disciplina militar de treinamentos. Chegaram os maiores talentos do país, que acabaram formando a base da seleção. Destaque para o goleiro Gyula Grosics, o zagueiro Gyula Lóránt, os meias József Bozsik e Lázsló Budai e os atacantes Sándor Kocsis, Ferenc Puskás e Zoltán Czibor. Jogando sempre juntos, o entrosamento entre eles era o melhor possível. De mero figurante, o Honvéd passou a ser a maior força do país, vencendo o campeonato nacional em 1949-1950, 1950, 1952, 1954 e 1955. Seu único rival foi o MTK, campeão em 1951 e 1953 e que tinha três estrelas da seleção: o zagueiro Mihály Lantos, o meia József Zakariás e o atacante Nándor Hidegkuti.
A máquina húngara começa a conquistar o mundo
Aos poucos, Sebes foi dando forma à sua seleção em amistosos. Jogando em Viena, os húngaros foram derrotados pela Áustria por 3x2, em maio de 1950. Mas a partir daí começou a impressionante série invicta dos Magiares Mágicos, com uma vitória sobre a Polônia por 5x2, em Varsóvia.
Em 1952, vieram as Olimpíadas de Helsinque, na Finlândia. Com uma campanha perfeita de cinco vitórias em cinco jogos (2x1 Romênia, 3x0 Itália, 7x1 Turquia, 6x0 Suécia e 2x0 Iugoslávia), os húngaros conquistaram sua primeira grande glória e levaram a medalha de ouro pra casa.
Hungria e Inglaterra naquele que os ingleses chamaram de "Jogo do Século"
Em 1953, a Hungria foi até Wembley jogar um amistoso contra os ingleses diante de um público de mais de 100.000 pessoas. A Inglaterra nunca havia perdido em casa pra um time de fora da Grã-Bretanha, e ainda vivia um bom momento nas eliminatórias para a Copa do Mundo na Suíça no ano seguinte. A expectativa era de uma grande vitória mas, no final, todos ficaram estarrecidos: a Hungria deu um show e venceu por incríveis 6x3. Como se não fosse o bastante, na revanche disputada no ano seguinte, o último amistoso antes da Copa, os húngaros mais uma vez não perdoaram: venceram por 7x1. A Hungria era o melhor time do mundo, e só faltava vencer a Copa do Mundo para se consagrarem de vez.
Evolução tática
Taticamente, a Hungria fez o futebol evoluir. Nos primórdios do esporte, em 1860, a Inglaterra jogava com apenas um zagueiro. Em 1872 a Escócia passou a usar dois. Porém, ainda não havia organização tática em campo. Só em 1925 é que o Arsenal do técnico Herbert Chapman começou a jogar com um esquema definido, que ficou conhecido como WM. Três zagueiros, dois meias defensivos, dois meias ofensivos e três atacantes. A disposição dos jogadores em campo formava as letras WM, daí o nome da formação. Devido ao seu sucesso, todos os times passaram a usar também o WM.
Exemplo da formação WM usada pelo Arsenal.
O que Guzstáv Sebes fez foi recuar o atacante central, transformando o 'M' em um 'W'. No caso, o Nº 9, Hidegkuti, que não era forte o bastante pra bater de frente com os zagueiros, jogava como um meia avançado. Como os adversários jogavam com três defensores, o zagueiro central ficava indeciso se saía de sua posição pra marcá-lo (deixando um espaço livre nas suas costas) ou se continuava na sua posição (deixando o adversário dominar a bola com liberdade). Quando a Hungria não tinha a posse de bola, um dos homens do meio recuava, formando uma linha de quatro zagueiros (daí surgiu o termo quarto zagueiro). Foi dessa formação que surgiu o 4-2-4 usado pelo Brasil ao vencer a Copa da Suécia em 1958. Outro ponto de destaque é que os jogadores se movimentavam bastante e trocavam de posição (por isso que Sebes fez seu time treinar muito o condicionamento físico), o que originou o "Carrossel Holandês" dos anos 70.
Posicionamento dos jogadores no "WW" usado pela Hungria
E foi assim que a Hungria estreava na Copa do Mundo de 1954, depois de golear a Inglaterra por 7x1 e estar invicta por 27 jogos nos últimos quatro anos. Os Magiares Mágicos encantavam o mundo e pareciam imbatíveis. O título mundial era mais que provável.
Ir para Parte 2
*O termo magiar refere-se à etnia de origem asiática que formou a Hungria. Em húngaro, magyar é usado também para se referir ao cidadão húngaro.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Copa do Mundo de 2022 no Qatar?
Sabemos que os árabes são famosos por construções imponentes e majestosas. Imagine então como seriam os estádios em uma Copa do Mundo realizada por lá. Na tentativa de ser o primeiro país do Oriente Médio a sediar um mundial, o Qatar está na disputa para 2022.
Um dos maiores problemas apontados é o calor extremo, que chega a mais de 40ºC durante o dia. Porém, a solução já está planejada: usar a tecnologia para ter estádios com temperatura controlada, o que diminuiria em até 20º a temperatura ambiente.
Com o slogan "Expect Amazing" (espere o incrível), os árabes aguardam a decisão final da FIFA, que deve acontecer em dezembro deste ano. Veja o vídeo com o projeto dos cinco primeiros estádios:
Um dos maiores problemas apontados é o calor extremo, que chega a mais de 40ºC durante o dia. Porém, a solução já está planejada: usar a tecnologia para ter estádios com temperatura controlada, o que diminuiria em até 20º a temperatura ambiente.
Com o slogan "Expect Amazing" (espere o incrível), os árabes aguardam a decisão final da FIFA, que deve acontecer em dezembro deste ano. Veja o vídeo com o projeto dos cinco primeiros estádios:
terça-feira, 13 de julho de 2010
Logo da Copa 2014: Feio, muito feio
Todos já devem ter visto que foi lançado o logo oficial da Copa 2014. Tem um vídeo com uma apresentação animada no site da FIFA. Fiquei meio espantado quando vi pela primeira vez, não acreditava que aquilo era oficial. Sinceramente, é feio demais.
Eu sei que o conceito de feio e bonito é relativo. Porém, comparando com o logo da Copa 2010, o de 2014 parece algo simples demais, mal acabado. E, comparando até com os logos mais antigos, parece um regresso, um passo atrás.
Infelizmente esse logo deve ser mantido e teremos que conviver com ele. Não sou nenhum especialista no assunto, mas não custa nada dizer: Não gostei!
Eu sei que o conceito de feio e bonito é relativo. Porém, comparando com o logo da Copa 2010, o de 2014 parece algo simples demais, mal acabado. E, comparando até com os logos mais antigos, parece um regresso, um passo atrás.
Clique pra ver em tamanho maior os logos das Copas de 1950 a 2006
Infelizmente esse logo deve ser mantido e teremos que conviver com ele. Não sou nenhum especialista no assunto, mas não custa nada dizer: Não gostei!
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Considerações sobre a Copa do Mundo 2010
- Nunca vi tantas falhas de goleiros antes (Jabulaaani!).
- Tivemos 5 títulos mundiais em campo na disputa pelo 3º lugar, nenhum na final.
- Dos finalistas, a Holanda foi o time que mais fez faltas na Copa. Levou oito cartões amarelos só na final. A Espanha, por outro lado, levou também o troféu Fair Play. Foi o time que mais jogou limpo e teve oito cartões amarelos em toda a competição.
- A artilharia acabou dividida entre quatro jogadores: Villa, Sneijder, Forlan e Muller, todos com cinco gols. A Chuteira de Ouro da FIFA acabou indo para o alemão Thomas Muller, que, além dos gols, teve três assistências.
- Aliás, o jovem Muller, com 20 anos, já tem 5 gols em uma Copa do Mundo. Ele pode tranquilamente jogar mais três Copas. Será que ele consegue o que Klose não conseguiu e se torna o maior artilheiro dos mundiais?
- Drogba, Cannavaro, Rooney, Ribery, Cristiano Ronaldo... Todas as estrelas do comercial da Nike se deram mal na Copa e viram suas seleções eliminadas mais cedo que o esperado.
- A Alemanha foi quem mais jogou bonito. Brasil e Holanda foram muito criticados por não fazer isso. Peraí, que mundo é esse onde as coisas estão ao contrário?
- A Nova Zelândia foi o único time que não perdeu nenhum jogo. Não que isso signifique alguma coisa, pois eles também não ganharam nenhum. Mas os três empates foram mais do que esperavam os neozelandeses, que comemoraram muito.
- O polvo Paul acertou todos os seus palpites. Qual será o próximo passo dele, dominar o mundo?
- Tivemos 5 títulos mundiais em campo na disputa pelo 3º lugar, nenhum na final.
- Dos finalistas, a Holanda foi o time que mais fez faltas na Copa. Levou oito cartões amarelos só na final. A Espanha, por outro lado, levou também o troféu Fair Play. Foi o time que mais jogou limpo e teve oito cartões amarelos em toda a competição.
- A artilharia acabou dividida entre quatro jogadores: Villa, Sneijder, Forlan e Muller, todos com cinco gols. A Chuteira de Ouro da FIFA acabou indo para o alemão Thomas Muller, que, além dos gols, teve três assistências.
- Aliás, o jovem Muller, com 20 anos, já tem 5 gols em uma Copa do Mundo. Ele pode tranquilamente jogar mais três Copas. Será que ele consegue o que Klose não conseguiu e se torna o maior artilheiro dos mundiais?
- Drogba, Cannavaro, Rooney, Ribery, Cristiano Ronaldo... Todas as estrelas do comercial da Nike se deram mal na Copa e viram suas seleções eliminadas mais cedo que o esperado.
- A Alemanha foi quem mais jogou bonito. Brasil e Holanda foram muito criticados por não fazer isso. Peraí, que mundo é esse onde as coisas estão ao contrário?
- A Nova Zelândia foi o único time que não perdeu nenhum jogo. Não que isso signifique alguma coisa, pois eles também não ganharam nenhum. Mas os três empates foram mais do que esperavam os neozelandeses, que comemoraram muito.
- O polvo Paul acertou todos os seus palpites. Qual será o próximo passo dele, dominar o mundo?
domingo, 11 de julho de 2010
Iker Casillas, o herói de um país
Numa seleção espanhola com sete titulares do Barcelona, o maior herói foi um jogador do Real Madrid. O goleiro Iker Casillas salvou a Fúria em duas jogadas cara a cara com o holandês Robben. Numa partida cheia de faltas que teve até voadora no peito e bateu o recorde de cartões em uma final de mundial (nove pra Holanda e quatro pra Espanha), os incríveis gols perdidos pelos dois lados chamaram a atenção. Mas as intervenções de Casillas foram sem dúvidas decisivas para que o time espanhol colocasse sua primeira estrela na camisa.
É claro que não podemos esquecer de falar de Xavi, Iniesta, Villa... Durante o campeonato, o time todo brilhou na hora da decisão. Porém, quando parecia certo que a situação se complicaria, surgiu Casillas para salvar a pátria. Lances como esses na final e o pênalti defendido contra o Paraguai foram cruciais na caminhada do título. Para o jogador que levantou a taça, nada mais justo que ser eleito o melhor goleiro do mundial.
O time que começou jogando hoje é praticamente um combinado entre Barcelona (Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Pedro e Villa) e Real Madrid (Casillas, Sergio Ramos, Xabi Alonso), apenas com o "intruso" Capdevilla do Villarreal.
Os atuais campeões da Europa e agora do mundo eram os principais favoritos ao título segundo as casas de apostas inglesas. Apesar disso, historicamente, o time que é o principal favorito não vence a Copa. A Espanha chegou com esse peso nas costas, mas se livrou dele logo no primeiro jogo, ao perder para a Suíça. O favoritismo foi passado pra Argentina, Brasil e Alemanha.
Enquanto isso, com Fernando Torres fora de forma e David Villa decidindo no final dos jogos, a Fúria foi avançando. Das oitavas até a final, foram quatro vitórias por 1x0. Não foi brilhante, mas um futebol eficiente que consegue seu primeiro título com justiça.
Aos holandeses, mais um vice campeonato. A geração de Cruyff teve que se contentar com o segundo lugar em 74 e 78. Agora, sem o "Futebol Total" que os consagrou, a geração de Robben e Sneijder também ficou apenas no vice. Eles terão mais uma chance em 2014, mas hoje sofreram um duro golpe.
É claro que não podemos esquecer de falar de Xavi, Iniesta, Villa... Durante o campeonato, o time todo brilhou na hora da decisão. Porém, quando parecia certo que a situação se complicaria, surgiu Casillas para salvar a pátria. Lances como esses na final e o pênalti defendido contra o Paraguai foram cruciais na caminhada do título. Para o jogador que levantou a taça, nada mais justo que ser eleito o melhor goleiro do mundial.
Foto: AP / Bernat Armangue
O time que começou jogando hoje é praticamente um combinado entre Barcelona (Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Pedro e Villa) e Real Madrid (Casillas, Sergio Ramos, Xabi Alonso), apenas com o "intruso" Capdevilla do Villarreal.
Os atuais campeões da Europa e agora do mundo eram os principais favoritos ao título segundo as casas de apostas inglesas. Apesar disso, historicamente, o time que é o principal favorito não vence a Copa. A Espanha chegou com esse peso nas costas, mas se livrou dele logo no primeiro jogo, ao perder para a Suíça. O favoritismo foi passado pra Argentina, Brasil e Alemanha.
Enquanto isso, com Fernando Torres fora de forma e David Villa decidindo no final dos jogos, a Fúria foi avançando. Das oitavas até a final, foram quatro vitórias por 1x0. Não foi brilhante, mas um futebol eficiente que consegue seu primeiro título com justiça.
Aos holandeses, mais um vice campeonato. A geração de Cruyff teve que se contentar com o segundo lugar em 74 e 78. Agora, sem o "Futebol Total" que os consagrou, a geração de Robben e Sneijder também ficou apenas no vice. Eles terão mais uma chance em 2014, mas hoje sofreram um duro golpe.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Parabéns, Uruguai
Lembro de ter assistido uma partida do Uruguai nas Eliminatórias (que não contra o Brasil). Eu vi um time muito limitado que fazia uma campanha irregular e sofria pra ficar na zona de classificação. Conseguiram a vaga apenas na repescagem, superando a Costa Rica.
Poucos acreditavam que poderiam ir longe na Copa. Mas, depois do sorteio dos grupos, apostei que passariam de fase. Não apenas por ser botafoguense e torcer pelo Loco Abreu. Mas num grupo com África do Sul, México e a decadente França, tudo era possível. É bem verdade que errei quase todas as minhas outras apostas. Torci pelos sulamericanos e pelas simpáticas seleções da África do Sul e do Japão. Acreditava numa final Brasil x Argentina. Mas foi o Uruguai o único que cumpriu minhas expectativas.
Infelizmente, a boa campanha não vai fazer o Uruguai voltar a ser grande nem vai salvar a precária condição dos times locais, como já disse o técnico Oscar Tabárez. É preciso muito mais que isso. Mas sua seleção já conseguiu um grande feito comparável aos velhos tempos.
A partida entre Uruguai e Gana teve um dos finais mais emocionantes que já assisti. Pra quem não viu, vale a pena ver com o aúdio do narrador uruguaio. Poderiam ter ido mais longe, é verdade. Na semifinal, o segundo gol holandês foi irregular. Mas também não dá pra dizer que a Holanda não mereceu ir à final. Os uruguaios jogaram com uma garra e vontade incrível, e merecidamente estão entre os quatros melhores do mundial. Parabéns, Uruguai!
Poucos acreditavam que poderiam ir longe na Copa. Mas, depois do sorteio dos grupos, apostei que passariam de fase. Não apenas por ser botafoguense e torcer pelo Loco Abreu. Mas num grupo com África do Sul, México e a decadente França, tudo era possível. É bem verdade que errei quase todas as minhas outras apostas. Torci pelos sulamericanos e pelas simpáticas seleções da África do Sul e do Japão. Acreditava numa final Brasil x Argentina. Mas foi o Uruguai o único que cumpriu minhas expectativas.
Infelizmente, a boa campanha não vai fazer o Uruguai voltar a ser grande nem vai salvar a precária condição dos times locais, como já disse o técnico Oscar Tabárez. É preciso muito mais que isso. Mas sua seleção já conseguiu um grande feito comparável aos velhos tempos.
A partida entre Uruguai e Gana teve um dos finais mais emocionantes que já assisti. Pra quem não viu, vale a pena ver com o aúdio do narrador uruguaio. Poderiam ter ido mais longe, é verdade. Na semifinal, o segundo gol holandês foi irregular. Mas também não dá pra dizer que a Holanda não mereceu ir à final. Os uruguaios jogaram com uma garra e vontade incrível, e merecidamente estão entre os quatros melhores do mundial. Parabéns, Uruguai!
terça-feira, 6 de julho de 2010
O erro de Maradona
Quem imaginaria que a poderosa Argentina seria eliminada da Copa da África com uma goleada? Olhando apenas o resultado é difícil acreditar, mas pra quem viu o jogo foi um resultado totalmente normal.
Brasil e Argentina morreram juntos nas quartas de final. Nós tivemos sorte de não tomarmos uma goleada no final do jogo. Os hermanos, não. A Alemanha dominou o jogo de forma impressionante e venceu por 4x0 sem muitas dificuldades.
Qual seria o "erro" de Maradona, então? Escalar apenas um jogador de marcação (Mascherano) no meio campo? Colocar zagueiros como laterais? Não convocar Zanetti e Cambiasso? Recuar Messi de sua posição original? Jogar com tantos atacantes? Talvez seja um pouco de tudo isso. Mas, ainda assim, será que a história seria diferente? É bom lembrar que a Argentina não tem grandes zagueiros e ainda teve o desfalque do melhor deles, Samuel.
Maradona sabia que a força de seu time é o ataque. "Seria um pecado não aproveitar os jogadores que temos", dizia Diego. Realmente, ter que escolher apenas dois entre Messi, Tevez, Higuain, Aguero e Milito seria uma missão ingrata. Ainda que ele escolheu usar três, nenhuma outra seleção tem jogadores como Aguero e Milito na reserva. Estivéssemos nos anos 50, onde ainda se jogava com 2 defensores, 3 meias e 5 atacantes, os argentinos poderiam ser imbatíveis. Porém, hoje você não pode vencer sem uma boa defesa.
A Alemanha sabia perfeitamente o que tinha que fazer. Aproveitou-se dos pontos fracos do adversário. Dominou o meio campo desde o início, apenas com números. Mascherano, Maxi Rodriguez e Di Maria não conseguiam marcar com eficiência um adversário que atacava com perigo por todos os lados do campo. A Alemanha também tem três atacantes (Klose, Podolski e Muller), porém, Klose era o único que centralizava e não fazia o papel de um meio campo quando o time estava na defesa. Messi não tinha espaço pra jogar. A Argentina não tinha espaço pra jogar. Mas eles deram espaço para os alemães.
Muller fez um gol logo no início numa jogada de bola parada. Era tudo que a Alemanha precisava pra se impor e controlar o jogo. Só restava à Argentina correr atrás do resultado, mas foi aí que o jogo ficou fácil para os alemães. Sem muito esforço, eles marcaram três gols no segundo tempo em um time completamente desorganizado. O terceiro gol é um bom exemplo. Schweinsteiger fez uma linda jogada passando por três argentinos e rolando para o zagueiro Friedrich marcar. Mas esses três argentinos eram Maxi Rodriguez, Pastore e Higuain, todos jogadores ofensivos. Onde estavam os zagueiros?
A Argentina perdeu porque simplesmente entrou para jogar como sempre. A Alemanha venceu porque anulou o ponto forte argentino e explorou seu ponto fraco. Foi realmente uma vitória arrasadora, incontestável do time que mais joga bonito, que tem o melhor ataque e, principalmente, é equilibrado em todos os setores.
Brasil e Argentina morreram juntos nas quartas de final. Nós tivemos sorte de não tomarmos uma goleada no final do jogo. Os hermanos, não. A Alemanha dominou o jogo de forma impressionante e venceu por 4x0 sem muitas dificuldades.
Qual seria o "erro" de Maradona, então? Escalar apenas um jogador de marcação (Mascherano) no meio campo? Colocar zagueiros como laterais? Não convocar Zanetti e Cambiasso? Recuar Messi de sua posição original? Jogar com tantos atacantes? Talvez seja um pouco de tudo isso. Mas, ainda assim, será que a história seria diferente? É bom lembrar que a Argentina não tem grandes zagueiros e ainda teve o desfalque do melhor deles, Samuel.
Maradona sabia que a força de seu time é o ataque. "Seria um pecado não aproveitar os jogadores que temos", dizia Diego. Realmente, ter que escolher apenas dois entre Messi, Tevez, Higuain, Aguero e Milito seria uma missão ingrata. Ainda que ele escolheu usar três, nenhuma outra seleção tem jogadores como Aguero e Milito na reserva. Estivéssemos nos anos 50, onde ainda se jogava com 2 defensores, 3 meias e 5 atacantes, os argentinos poderiam ser imbatíveis. Porém, hoje você não pode vencer sem uma boa defesa.
A Alemanha sabia perfeitamente o que tinha que fazer. Aproveitou-se dos pontos fracos do adversário. Dominou o meio campo desde o início, apenas com números. Mascherano, Maxi Rodriguez e Di Maria não conseguiam marcar com eficiência um adversário que atacava com perigo por todos os lados do campo. A Alemanha também tem três atacantes (Klose, Podolski e Muller), porém, Klose era o único que centralizava e não fazia o papel de um meio campo quando o time estava na defesa. Messi não tinha espaço pra jogar. A Argentina não tinha espaço pra jogar. Mas eles deram espaço para os alemães.
Muller fez um gol logo no início numa jogada de bola parada. Era tudo que a Alemanha precisava pra se impor e controlar o jogo. Só restava à Argentina correr atrás do resultado, mas foi aí que o jogo ficou fácil para os alemães. Sem muito esforço, eles marcaram três gols no segundo tempo em um time completamente desorganizado. O terceiro gol é um bom exemplo. Schweinsteiger fez uma linda jogada passando por três argentinos e rolando para o zagueiro Friedrich marcar. Mas esses três argentinos eram Maxi Rodriguez, Pastore e Higuain, todos jogadores ofensivos. Onde estavam os zagueiros?
A Argentina perdeu porque simplesmente entrou para jogar como sempre. A Alemanha venceu porque anulou o ponto forte argentino e explorou seu ponto fraco. Foi realmente uma vitória arrasadora, incontestável do time que mais joga bonito, que tem o melhor ataque e, principalmente, é equilibrado em todos os setores.
sábado, 3 de julho de 2010
Não crucifiquem o Dunga pela eliminação
Inesperadamente, o Brasil perdeu da Holanda e está fora da Copa do Mundo. Agora o que mais se vê é xingamentos e hostilizações ao (ex) técnico Dunga. Se estivéssemos na Idade Média, ele seria queimado na fogueira. É incrível como vi muitas pessoas mudarem de opinião de uma hora pra outra, apenas por um único jogo.
Depois da sofrida vitória contra a Coreia do Norte, vieram muitas críticas, que logo sumiram depois do jogo contra a Costa do Marfim e reapareceram ao empatar com Portugal. Como se fosse um absurdo empatar com um time forte (que só tomou um gol em toda a Copa) que mal tentou vencer a partida e ficou o tempo todo na defesa. O 0x0 dava o primeiro lugar do grupo ao Brasil, não tinha necessidade nenhuma de ganhar aquele jogo. O time até tentou no primeiro tempo, mas depois tirou e pé do acelerador e preferiu não arriscar mais.
Veio a grande vitória contra o Chile, e vieram juntos mais elogios e empolgação. "Agora sim, esse time vai pra final e vai ser campeão", diziam. Veio a derrota pra Holanda. "O Dunga é burro, não serve pra ser técnico". Parece que o ele foi um fracasso total, que não ganhou nada. É claro que ele tem a responsabilidade maior pela derrota, afinal foi o comandante da seleção. É claro que ganhar uma Copa América não é nada perto de uma Copa do Mundo. Mas parece que as pessoas não sabem ver os fatos.
Apenas analisando os números: Como técnico, Dunga tem 60 jogos, 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas. Venceu tudo que disputou: Copa América, Copa das Confederações e 1º lugar nas Eliminatórias. Fazendo uma comparação com Luiz Felipe Scolari: 26 jogos, 19 vitórias, 1 empate e 6 derrotas. É engraçado lembrar como Felipão era questionado antes da Copa 2002. Muito mais do que foi Dunga hoje, eu diria. Quando o Brasil perdeu a Copa América sendo eliminado por Honduras, por muito pouco ele não perdeu o cargo. O Brasil inteiro clamava por Romário na seleção. Na Copa da Ásia, ninguém acreditava no Brasil até vencermos a Inglaterra nas quartas de final. Hoje Felipão é uma unanimidade e até se fala nele pra ser o próximo técnico.
Voltando ao Dunga: Sua convocação foi muito contestada, e eu fui um dos que não concordaram com alguns nomes: Kleberson e Julio Baptista. Não entendia como esses jogadores poderiam ajudar a seleção e não me conformava de ver nomes como Paulo Henrique Ganso e Ronaldinho Gaúcho de fora. Até entendi a convocação de la Bestia, pois ele tinha jogado bem pela seleção, mas vinha de temporadas ruins na Europa. Desconfiei demais de Gilberto Silva, Felipe Melo e Josué. A última temporada de Gilberto no Arsenal foi muito ruim, depois ele se transferiu para o Panathinaikos e não pude acompanhá-lo de perto, mas acreditava que era um jogador decadente. Felipe Melo ganhou "só" o prêmio de Pior Jogador do Ano na Itália, e ainda participou do pior time da Juventus em duas décadas. Sua fama de esquentadinho que só sabe bater também não ajudou. E Josué, só por ser o reserva deles, não precisa de comentários... Se teve algo que eu gostei muito, foi o Adriano ter ficado de fora.
Enfim, Dunga confiou nesses jogadores, e acertou em quase todos. Pois é, esse "quase" foi fatal. Mas temos que reconhecer que Gilberto Silva fez uma excelente Copa. Josué não comprometeu quando entrou. Elano, que também era muito contestado, foi um dos destaques brasileiros. Ramires jogava como nunca e ficou a um passo de virar titular. Felipe Melo fazia um bom trabalho na marcação.
Acho que, pela primeira vez na vida, a defesa da seleção não era uma preocupação. Falavam que era a melhor defesa do mundo. Mas, pelo visto, essa defesa foi superestimada. Desatenção e gol sofrido no fim do jogo contra a Coreia do Norte. A mesma coisa contra a Costa do Marfim. E dois erros primários deram os gols da vitória da Holanda. Um deles foi o primeiro gol de cabeça da carreira do baixinho Sneijder. Enquanto Japão e Paraguai saem da Copa com apenas dois gols sofridos, o Brasil sofreu quatro.
Enfim, Dunga confiou em seus jogadores, impôs seu estilo sério, aquilo que ele acredita, e estava dando resultado. Confiou em Felipe Melo, assim como em Luís Fabiano, que também foi um jogador problema e conseguiu se recuperar. O Brasil caiu fora por causa de erros simples em um jogo decisivo, não por uma grande burrada do nosso técnico. Não há sentido em achar um culpado para a derrota. O futebol é imprevisível e por incontáveis vezes o melhor time não vence. O Brasileiro precisa aprender a ser um melhor perdedor e que nem sempre há um culpado por uma derrota.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Holanda 2x1 Brasil
2 de julho de 2010. O Brasil perdeu pra Holanda e está eliminado da Copa da África. Acredito que a maioria dos brasileiros não esperava por isso. Esperavam que nossa seleção chegasse ao menos à final. Perder da Alemanha, Argentina ou Espanha em uma eventual final seria doído do mesmo jeito, mas não tão inesperado. Disseram os comentaristas da televisão que a Holanda foi melhor e mereceu vencer. Concordo que não foi uma vitória injusta dos holandeses, mas discordo que o time deles é melhor. O Brasil tem, sim, mais time que a Holanda e poderia ter ganho o jogo.
A laranja mecânica, aliás, não joga bonito como antigamente mas, agora, eles são eficientes. E a vitória de hoje foi a prova de fogo pra eles. Nesta Copa, foram quatro jogos "fracos" do time comandado por Bert van Marwijk, que, apesar das vitórias, não convencia seus críticos, não os credenciava a serem apontados como um time com chance de ser campeão. Porém, depois de hoje, não dá pra dizer que a Holanda não pode ser campeã do mundo.
Voltando à partida, o Brasil foi muito melhor e dominou no primeiro tempo. Marcou um gol logo no início, numa bobeira incrível da defesa holandesa. Heitinga estava fora de posição, e deixou espaço para Robinho correr, receber o passe de Felipe Melo (que surpresa!) e fazer o gol cara a cara com o bom goleiro Stekelenburg. Pra se ter uma ideia, quem tentava marcar Robinho no lance era o atacante Robben!
Parecia que o jogo continuaria no mesmo ritmo, mas tudo mudou no segundo tempo. O segundo gol do jogo saiu em outra falha da defesa, desta vez a brasileira. Num cruzamento pra área, Júlio César e Felipe Melo (ah, Felipe, você de novo?) não se entenderam e se trombaram, enquanto a bola entrou direto pro gol, depois de um leve toque de cabeça de Felipe. Wesley Sneijder comemora e o Brasil fica abalado. Vale lembrar que a falta que originou o gol não existiu. Robben se jogou numa dividida com Michel Bastos e o juiz marcou a falta. Por muito pouco Michel não foi expulso. Robben não conseguiu cavar a expulsão do brasileiro, mas conseguiu mais que isso: um gol e, no fator psicológico, a Holanda já estava ganhando.
Não demorou para que estivessem ganhando de fato: a virada aconteceu num gol de escanteio em mais um erro da defesa brasileira, que deixou Kuyt tocar de cabeça na primeira trave pra o baixinho Sneijder que, do alto dos seus 1,70m, nem precisou pular pra escorar para o gol dentro da pequena área.
Robben é sem dúvida um dos melhores jogadores do mundo hoje. Mas parou na defesa brasileira. Estava sendo anulado por Michel Bastos e sua famosa jogada de cortar pra dentro e bater com o pé esquerdo não funcionava. Mas essa não era a única arma dele. Sofrendo uma marcação tão forte, ele "valorizava" a cada entrada que recebia. Às vezes era falta, às vezes não. Mas não tinha como não perceber que muitas vezes o holandês dava um pulo e se jogava no chão ao sofrer o contato. Assim ele conseguiu deixar pendurado com um amarelo o seu marcador, Michel Bastos. Assim ele conseguiu a falta que deu o gol de empate a seu time. E assim ele conseguiu o que definiu a vitória holandesa: a expulsão de Felipe Melo.
Ele foi herói no primeiro tempo e vilão no segundo. Sua convocação foi muito contestada e todos temiam que ele fizesse o que fez muito na Juventus: perdesse a cabeça ao ser provocado durante o jogo e acabasse expulso. Isso quase aconteceu no jogo contra Portugal. Não seria um absurdo se Felipe fosse expulso depois de ter dado um violento encontrão em Pepe, ao revidar um pisão no tornolezo que chegou a tirá-lo do jogo das oitavas de final. Por sorte, Dunga o substituiu antes que acontecesse o pior naquela ocasião. Mas, desta vez, não deu tempo. Quando o Brasil sofreu o segundo gol, já pensei: "É hora de tirar o Felipe Melo e colocar um atacante". Se Ramires não estivesse suspenso, ele poderia ter entrado antes, ou até ter começado como titular. Nilmar era a única opção.
Mas não deu tempo. Aconteceu o que todos temiam: Felipe perdeu a cabeça, se irritou com Robben e suas simulações e foi expulso ao dar um pisão no adversário caído. Vermelho direto; caso o Brasil passasse de fase, ele provavelmente seria suspenso por mais que um jogo e era fim de Copa pra ele. Confesso que o xinguei muito no momento da expulsão. Naquele momento, vi que as chances do Brasil conseguir um empate caíram demais. Nem pensava em virada, apenas se empatasse e levasse pros pênaltis já seria algo fantástico.
Dunga precisava mudar o time, mas colocar quem? No lugar de quem? Felipe Melo era a primeira opção pra deixar o time mais ofensivo, mas essa opção não existia mais. Trocar um jogador ofensivo por outro não ia fazer muita diferença. Tirar um zagueiro, talvez? Aqueles que estavam em campo eram os melhores jogadores disponíveis, não tinha muito o que fazer. Trocar Nilmar por Luís Fabiano pra ter um time mais rápido foi uma tentativa válida, mas que não deu resultado. Foi um final de jogo angustiante onde a Holanda parecia que queria ajudar o Brasil. Enquanto os brasileiros jogavam no total desespero, indo todos pro ataque e cometendo erros bizarros na defesa, os holandeses perdiam chances incríveis de fazer o terceiro gol e definir a parada.
Fim de jogo, a Holanda vence de virada e vai jogar a semifinal. Na Copa passada, quando perdemos nas quartas de final, meu sentimento era de raiva. Raiva de uma seleção cheia de estrelas que parecia não se esforçar. Que tinha o melhor do mundo que não jogava nada. Desta vez, foi um sentimento de tristeza. Decepção com um time bom e esforçado, que lutou muito mas cometeu pequenos erros que foram fatais.
Mas a vida continua, a derrota dói mas deve ser superada. Sempre há aqueles que falam: "É só um jogo de futebol, isso não vai mudar a vida de ninguém." Não deixa de ser verdade. E também não deixa de ser triste. Só resta torcer e esperar para que tenhamos melhor sorte em 2014.
A laranja mecânica, aliás, não joga bonito como antigamente mas, agora, eles são eficientes. E a vitória de hoje foi a prova de fogo pra eles. Nesta Copa, foram quatro jogos "fracos" do time comandado por Bert van Marwijk, que, apesar das vitórias, não convencia seus críticos, não os credenciava a serem apontados como um time com chance de ser campeão. Porém, depois de hoje, não dá pra dizer que a Holanda não pode ser campeã do mundo.
Voltando à partida, o Brasil foi muito melhor e dominou no primeiro tempo. Marcou um gol logo no início, numa bobeira incrível da defesa holandesa. Heitinga estava fora de posição, e deixou espaço para Robinho correr, receber o passe de Felipe Melo (que surpresa!) e fazer o gol cara a cara com o bom goleiro Stekelenburg. Pra se ter uma ideia, quem tentava marcar Robinho no lance era o atacante Robben!
Parecia que o jogo continuaria no mesmo ritmo, mas tudo mudou no segundo tempo. O segundo gol do jogo saiu em outra falha da defesa, desta vez a brasileira. Num cruzamento pra área, Júlio César e Felipe Melo (ah, Felipe, você de novo?) não se entenderam e se trombaram, enquanto a bola entrou direto pro gol, depois de um leve toque de cabeça de Felipe. Wesley Sneijder comemora e o Brasil fica abalado. Vale lembrar que a falta que originou o gol não existiu. Robben se jogou numa dividida com Michel Bastos e o juiz marcou a falta. Por muito pouco Michel não foi expulso. Robben não conseguiu cavar a expulsão do brasileiro, mas conseguiu mais que isso: um gol e, no fator psicológico, a Holanda já estava ganhando.
Não demorou para que estivessem ganhando de fato: a virada aconteceu num gol de escanteio em mais um erro da defesa brasileira, que deixou Kuyt tocar de cabeça na primeira trave pra o baixinho Sneijder que, do alto dos seus 1,70m, nem precisou pular pra escorar para o gol dentro da pequena área.
Robben é sem dúvida um dos melhores jogadores do mundo hoje. Mas parou na defesa brasileira. Estava sendo anulado por Michel Bastos e sua famosa jogada de cortar pra dentro e bater com o pé esquerdo não funcionava. Mas essa não era a única arma dele. Sofrendo uma marcação tão forte, ele "valorizava" a cada entrada que recebia. Às vezes era falta, às vezes não. Mas não tinha como não perceber que muitas vezes o holandês dava um pulo e se jogava no chão ao sofrer o contato. Assim ele conseguiu deixar pendurado com um amarelo o seu marcador, Michel Bastos. Assim ele conseguiu a falta que deu o gol de empate a seu time. E assim ele conseguiu o que definiu a vitória holandesa: a expulsão de Felipe Melo.
Ele foi herói no primeiro tempo e vilão no segundo. Sua convocação foi muito contestada e todos temiam que ele fizesse o que fez muito na Juventus: perdesse a cabeça ao ser provocado durante o jogo e acabasse expulso. Isso quase aconteceu no jogo contra Portugal. Não seria um absurdo se Felipe fosse expulso depois de ter dado um violento encontrão em Pepe, ao revidar um pisão no tornolezo que chegou a tirá-lo do jogo das oitavas de final. Por sorte, Dunga o substituiu antes que acontecesse o pior naquela ocasião. Mas, desta vez, não deu tempo. Quando o Brasil sofreu o segundo gol, já pensei: "É hora de tirar o Felipe Melo e colocar um atacante". Se Ramires não estivesse suspenso, ele poderia ter entrado antes, ou até ter começado como titular. Nilmar era a única opção.
Mas não deu tempo. Aconteceu o que todos temiam: Felipe perdeu a cabeça, se irritou com Robben e suas simulações e foi expulso ao dar um pisão no adversário caído. Vermelho direto; caso o Brasil passasse de fase, ele provavelmente seria suspenso por mais que um jogo e era fim de Copa pra ele. Confesso que o xinguei muito no momento da expulsão. Naquele momento, vi que as chances do Brasil conseguir um empate caíram demais. Nem pensava em virada, apenas se empatasse e levasse pros pênaltis já seria algo fantástico.
Dunga precisava mudar o time, mas colocar quem? No lugar de quem? Felipe Melo era a primeira opção pra deixar o time mais ofensivo, mas essa opção não existia mais. Trocar um jogador ofensivo por outro não ia fazer muita diferença. Tirar um zagueiro, talvez? Aqueles que estavam em campo eram os melhores jogadores disponíveis, não tinha muito o que fazer. Trocar Nilmar por Luís Fabiano pra ter um time mais rápido foi uma tentativa válida, mas que não deu resultado. Foi um final de jogo angustiante onde a Holanda parecia que queria ajudar o Brasil. Enquanto os brasileiros jogavam no total desespero, indo todos pro ataque e cometendo erros bizarros na defesa, os holandeses perdiam chances incríveis de fazer o terceiro gol e definir a parada.
Fim de jogo, a Holanda vence de virada e vai jogar a semifinal. Na Copa passada, quando perdemos nas quartas de final, meu sentimento era de raiva. Raiva de uma seleção cheia de estrelas que parecia não se esforçar. Que tinha o melhor do mundo que não jogava nada. Desta vez, foi um sentimento de tristeza. Decepção com um time bom e esforçado, que lutou muito mas cometeu pequenos erros que foram fatais.
Mas a vida continua, a derrota dói mas deve ser superada. Sempre há aqueles que falam: "É só um jogo de futebol, isso não vai mudar a vida de ninguém." Não deixa de ser verdade. E também não deixa de ser triste. Só resta torcer e esperar para que tenhamos melhor sorte em 2014.
Assinar:
Postagens (Atom)