Tudo começou nas eliminatórias para a Copa de 1950, a primeira que os países do Reino Unido tiveram a chance de participar. Conforme já falei no post sobre a Inglaterra, os países britânicos ignoraram as primeiras três Copas do Mundo e só voltaram a fazer parte da FIFA após a II Guerra Mundial.
Tradicionalmente, acontecia todos os anos o British Home Championship, um torneio envolvendo Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. A FIFA decidiu que os dois primeiros colocados ganhariam vaga para a Copa no Brasil. Porém - numa decisão que seria impensável atualmente -, o secretário da Scottish Football Association, George Graham, declarou que a Escócia só iria à Copa do Mundo como campeões britânicos.
Tudo começou bem, com a Escócia vencendo a Irlanda do Norte fora de casa por 8x2 e, em seguida, derrotando o País de Gales por 2x0 em Glasgow. A Inglaterra fez até melhor: 9x2 contra a Irlanda do Norte em Wembley e 4x1 contra o País de Gales em Cardiff. Ingleses e escoceses fariam a partida final no Hampden Park, em Glasgow. A Escócia precisava de pelo menos um empate para terminar como campeã em conjunto com a Inglaterra e garantir a classificação - ainda não eram usados critérios de desempate. Os ingleses já haviam declarado que iriam à Copa mesmo com o segundo lugar, então a pressão estava toda do lado escocês.
Com um gol de Roy Bentley aos 18 minutos do segundo tempo, a Inglaterra venceu por 1x0, conquistando o título e acabando com o sonho da Escócia de ir à sua primeira Copa do Mundo. Desesperados, os jogadores imploraram aos executivos da SFA que voltassem atrás e aceitassem a vaga que era deles por direito. Porém, o orgulho falou mais alto e a palavra de Graham foi mantida.
Em 1954, mais uma vez a Escócia perdeu para a Inglaterra e ficou com o segundo lugar. Porém, desta vez a SFA não falou mais do que deveria e levou seu time à Suíça. Mas parece que os executivos não pensaram muito no time - mesmo com a possibilidade de levar 22 jogadores, apenas 13 foram ao mundial, conforme relatou o ex-jogador Tommy Docherty. Segundo ele, a SFA não pagaria as despesas de mais jogadores, mas o avião que levou o grupo estava cheio de executivos e suas esposas. Docherty diz que esse descaso aos jogadores causou o fracasso escocês tanto em 1954 quanto em 1958, quando foram eliminados na primeira fase. A Escócia não tinha nem técnico na época! Era o comitê da SFA quem escalava os jogadores, e um treinador (ou preparador físico) quem chegava mais perto do papel de um técnico.
Mas as eliminações dramáticas ainda estavam por vir. Depois de uma ausência de 16 anos, a Escócia se classificou para a Copa de 1974, na Alemanha, e acabou ficando marcada como a primeira equipe a ser eliminada mesmo sem perder nenhum jogo. Com uma vitória contra o Zaire (2x0) e empates contra Brasil (0x0) e Iugoslávia (1x1), os escoceses foram desclassificados por terem um gol de saldo a menos que o Brasil. As partidas contra o Zaire foram o diferencial - O Brasil venceu por 3x0 enquanto a Iugoslávia emplacou uma goleada de 9x0.
Em 1978, a Escócia foi à Argentina com grandes expectativas. O sempre entusiasmado e confiante técnico Ally MacLeod declarou que seu time, se não ganhasse a Copa do Mundo, certamente voltaria pra casa com uma medalha. A euforia da torcida era tão grande que, antes da partida da seleção para a Argentina, os jogadores desfilaram para um Hampden Park lotado. Eles acreditavam que poderiam ser campeões.
Entretanto, as coisas se complicaram logo na primeira partida, contra o Peru. Apesar de terem marcado o primeiro gol, eles sofreram a virada e os peruanos venceram por 3x1, com dois gols do destaque Teofilo Cubillas. Pra piorar ainda mais, o atacante Willie Johnston foi pego no anti-doping e banido da competição.
Na segunda partida, contra o estreante Irã, a vitória era dada como certa. Mas não foi o que aconteceu. Mais uma vez os escoceses marcaram o primeiro gol e depois sofreram o empate. Jogando mal, não seria uma surpresa se tivessem perdido mais uma. A imagem de MacLeod com a mão na cabeça resumia a decepção de um país inteiro. Aquilo era um verdadeiro desastre.
A imagem do técnico Ally MacLeod com a mão na cabeça tornou-se um símbolo do fracasso de 1978
No último jogo, a poderosa Holanda, atual vice-campeã mundial e uma das favoritas ao título. A Escócia precisava vencer por três gols de diferença. Missão impossível? É o que parecia, mas o jogo reservava surpresas. A Holanda ainda saiu na frente aos 34 do primeiro tempo, com gol de pênalti de Rob Rensenbrink. Kenny Dalgish empatou no final do primeiro tempo e, logo no início do segundo, Archie Gemmill marcou de pênalti para fazer 2x1 e dar esperança aos escoceses. Aos 23 minutos, o mesmo Gemmill marca um golaço e deixa seu time a um gol da classificação que parecia impossível. Mas a alegria durou pouco. Três minutos depois, Johnny Rep diminui e joga um balde de água fria nas esperanças da Escócia, que mais uma vez foi eliminada no saldo de gols.
Em 1982 a história não foi diferente. Na fase de grupos, com uma vitória sobre a Nova Zelândia (5x2), uma derrota para o Brasil (4x1) e um empate contra a União Soviética (2x2), era a terceira vez seguida que a Escócia era eliminada no saldo de gols.
1986 nem merecia ser citado. Mesmo com o comando de Alex Ferguson, a Escócia ficou em último lugar em seu grupo, com derrotas para Dinamarca (1x0) e Alemanha (2x1) e um empate sem gols contra o Uruguai.
Em 1990 a Escócia começou com mais um vexame, derrota para a estreante Costa Rica (1x0). Na segunda partida, o time se recuperou e venceu a Suécia por 2x1. No terceiro jogo, contra o Brasil, um empate era o que os escoceses precisavam para se classificar. Eles conseguiram segurar o placar por quase o jogo inteiro, mas Muller marcou aos 37 do segundo tempo e o Brasil venceu por 1x0. Ainda havia a chance de se classificar como um dos melhores terceiros colocados se o Uruguai não derrotasse a Coreia do Sul. Era o que acontecia, até que o Uruguai marcou nos acréscimos.
Depois disso, a Escócia só voltou a uma Copa em 1998. Derrota para o Brasil (2x1), empate contra a Noruega (1x1) e derrota contra Marrocos (3x0) foi a fraca campanha que fez o time ficar em último lugar no grupo.
Apesar de serem os "co-criadores" do esporte e terem uma das torcidas mais fanáticas do mundo, os escoceses nunca tiveram muitas alegrias com sua seleção. Em oito participações, nunca passaram da primeira fase. Se levarmos em contra os eventos de 1950, dá pra dizer que o título deste post descreve perfeitamente a frustração do torcedor com a seleção da Escócia.
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