Jogadoras comemoram o gol de Miyama (8) na partida de estreia / Foto: AFP
A seleção feminina do Japão, chamada de Nadeshiko (em japonês, refere-se à flor do gênero Dianthus, mais conhecida como cravo; a palavra representa também a mulher ideal japonesa), veio para a Copa do Mundo da Alemanha com boas expectativas. Apesar do retrospecto não ser bom - o Japão participou de todas as edições do Mundial desde 1991, mas somou apenas 3 vitórias, 2 empates e 11 derrotas -, as Nadeshiko foram evoluindo gradativamente até chegarem ao 4º lugar no ranking da Fifa este ano, o que fez do Japão um dos cabeças de chave do torneio.
Com um futebol de posse de bola e muitos passes, semelhante ao tique-taca do Barcelona e da seleção espanhola, as japonesas jogaram bonito, envolveram suas adversárias, fizeram grandes partidas nos momentos cruciais e agora estão em uma inédita final de Mundial. Confira a campanha das nipônicas desde o primeiro jogo:
O Japão num 4-4-2 com variação para 4-1-4-1: Sakaguchi é a volante que fica mais
na contenção, enquanto Sawa tem liberdade para criar; na frente, Ando joga mais
recuada, tendo Nagasato como a referência na área. Esta foi a escalação usada nas
quatro primeiras partidas; na semifinal, Kawasumi entrou no lugar de Nagasato.
Japão 2x1 Nova Zelândia
27/06/2011 - Ruhrstadion, Bochum
Pelo início da partida, parecia que o Japão ia fazer valer o seu favoritismo contra o adversário teoricamente mais fraco do grupo. Logo aos 5 minutos, Shinobu Ohno interceptou a bola no campo de ataque e, com um passe perfeito, deixou Yuki Nagasato na cara do gol; ela tocou por cima da goleira, com categoria, e fez 1x0.
Mas a Nova Zelândia não se deu por vencida. Aos 11 minutos elas empataram explorando a grande fraqueza das japonesas, o jogo aéreo. Ria Percival cruzou pela direita, a goleira Ayumi Kaihori ficou pelo meio do caminho e Amber Hearn, na segunda trave, cabeceou para as redes e deixou tudo igual. Não é novidade que as goleiras têm mais dificuldade no futebol feminino, e a baixa estatura das Nadeshiko é uma desvantagem natural em relação a outras seleções. Kaihori (1,70 m) e a zagueira Saki Kumagai (1,71 m) são as únicas do elenco na casa dos 1,70 m de altura.
O jogo do Japão é o toque de bola. Superiores tecnicamente, as japonesas não deram mais chance às adversárias e dominaram a partida. A volante Mizuho Sakaguchi chegou a acertar um chute na trave depois de um cruzamento da leteral Yukari Kinga. Mas o jogo foi pro intervalo com tudo igual no placar.
No segundo tempo, o Japão continuou melhor, mas com muitas dificuldades em criar chances de gol. Até que Mana Iwabuchi entrou no lugar de Ohno. A habilidosa atacante, de apenas 18 anos, fez a diferença com sua velocidade e seus dribles. O gol da vitória começou com ela, que saiu fazendo fila nas neozelandesas até ser derrubada na meia-lua, na frente da área. Aya Miyama, a especialista em bolas paradas, foi perfeita na cobrança e mandou quase no ângulo, longe do alcance da goleira: 2x1. Iwabuchi ainda quase fez um golaço: ela viu a goleira adiantada e tentou do meio-campo, mas a bola foi forte e passou por cima do gol. Apesar de não ter jogado seu melhor futebol, foi o suficiente para que as Nadeshiko estreassem com vitória na Copa do Mundo.
01/07/2011 - Bay Arena, Leverkusen
Na segunda partida, as Nadeshiko melhoraram muito e, com exatamente a mesma escalação do jogo de estreia, venceram com tranquilidade o México. Desde o início as japonesas tocaram a bola com facilidade e se impuseram em campo. Não demorou a sair o primeiro gol: aos 12 minutos, Miyama cobrou falta pela esquerda e Homare Sawa apareceu na área para fazer, de cabeça: 1x0. Dois minutos, depois, Nagasato recebeu um lançamento na meia-lua, dominou e deu um passe curto para Ohno, que passou por duas defensoras e chutou forte no alto do gol: 2x0. Perto do final do primeiro tempo, mais uma vez a combinação Miyama-Sawa deu certo. A camisa 8 cobrou escanteio pela esquerda e a capitã se adiantou à marcação, foi à primeira trave e marcou novamente de cabeça: 3x0. Nagasato chegou a fazer o quarto gol, mas foi (mal) anulado pela bandeirinha - apesar da atacante estar na mesma linha ao receber o passe, foi marcado impedimento.
O panorama não mudou no segundo tempo. Aos 10 minutos, o chute de Nagasato acertou a trave depois de um desvio na zagueira. Na sequência, Miyama por pouco não fez um gol olímpico - a bola bateu no travessão. A jovem sensação Iwabuchi entrou e foi dos pés dela que começou a jogada do quarto gol, com um passe para Kinga que, na linha de fundo, cruzou rasteiro para trás; lá estava Sawa, sem marcação, que não desperdiçou a chance e fez seu hat-trick: 4x0. Foi o 78º gol dela pela seleção em 169 partidas. A veterana de 32 anos, que participa de sua quinta Copa do Mundo, é a maior artilheira da seleção japonesa. Ela ultrapassou até a marca do lendário Kunishige Kamamoto, maior artilheiro da seleção masculina, que fez 75 gols em 76 partidas nas décadas de 1960 e 70.
05/07/2011 - Impuls Arena, Ausburgo
O Japão precisava apenas de um empate para garantir o primeiro lugar do grupo. Apesar de terem entrado em campo com a mesma escalação das duas partidas anteriores, as Nadeshiko tiveram uma exibição fraca e foram superadas pelas inglesas, que estavam determinadas em conseguir a vaga como primeiras colocadas. Ellen White abriu o placar no primeiro tempo ao receber entre duas defensoras um lançamento do campo de defesa; ela chutou de primeira e encobriu a adiantada Kaihori. No segundo tempo, Rachel Yankey recebeu um lançamento na área e, apesar de ter adiantado demais a bola para dominar, ela ainda teve tempo de chutar por cima de Kaihori, que saía do gol: 2x0. As inglesas foram melhores e, aproveitando-se de sua superioridade física, anularam todas as tentativas japonesas. Em uma partida apática, o toque de bola das nipônicas não funcionou e, com a derrota, elas tiveram que se contentar com o segundo lugar do grupo.
Quartas de Final - Alemanha 0x1 Japão
09/07/2011 - Volkswagen-Arena, Wolfsburg
09/07/2011 - Volkswagen-Arena, Wolfsburg
Na partida mais importante da história do futebol feminino japonês até então, as Nadeshiko se superaram. E não foram poucas as adversidades. Com o apoio da torcida, as alemãs, atuais bicampeãs do mundo, eram de longe as favoritas a passar para a semifinal. Elas são muito fortes fisicamente, justamente o ponto fraco das japonesas. Apesar de sofrer uma grande pressão o jogo inteiro, o Japão conseguiu se segurar bem, evitou que as adversárias tivessem uma chance clara de gol, teve mais posse de bola (54%) e ainda quase saiu na frente no primeiro tempo quando Nagasato recebeu na cara do gol - ela concluiu mal e mandou pra fora. O 0x0 foi se arrastando até a prorrogação e a pressão alemã só se intensificava. Parecia questão de tempo até sair o gol.
A situação ia se complicando quando Sawa sentiu a virilha ao fazer um desarme e caiu no chão, se contorcendo com uma dor que parecia insuportável. A impressão que deu é que as Nadeshiko teriam que se virar no tempo que faltava e numa possível disputa de pênaltis sem sua jogadora mais experiente. Mas logo depois, talvez no sacrifício, ela estava de volta. Aos 2 minutos do segundo tempo da prorrogação, a capitã foi recompensada por seu esforço de se manter em campo e, num contra-ataque, deixou Karina Maruyama na cara do gol com um passe perfeito; a atacante, que havia entrado no segundo tempo, teve frieza para finalizar por cima da goleira, que caía para fechar o ângulo. Nos minutos restantes, só se viu a Alemanha atacando e jogando a bola na área, mas a defesa japonesa foi eficiente e resistiu até o apito final.
Semifinal - Japão 3x1 Suécia
13/07/2011 - Commerzbank-Arena, Frankfurt
13/07/2011 - Commerzbank-Arena, Frankfurt
A promessa era de um jogo extremamente equilibrado e complicado para as japonesas, que vieram com uma alteração no time titular: Nahomi Kawasumi no lugar de Nagasato. As suecas vinham com uma campanha perfeita, com vitória em todas as quatro partidas anteriores, e haviam empatado com o Japão (1x1) em um amistoso antes da Copa do Mundo. A partida começou bem para as escandinavas: aos 10 minutos, Josefine Öqvist se aproveitou do passe errado de Sawa no campo de defesa, ganhou da zagueira Azusa Iwashimizu e chutou forte no alto do gol, sem chance para Kaihori: 1x0. Mas as nipônicas empataram oito minutos depois, quando Ohno fez uma boa jogada pelo meio e deixou a bola com Miyama, que cruzou pela esquerda; Kawasumi apareceu na segunda trave e mergulhou para empatar: 1x1.
A partir daí o Japão foi tomando conta do jogo - teve 60% de posse de bola no final - e a Suécia não teve mais uma chance real de marcar. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, Ohno chutou de fora da área e quase fez um golaço por cobertura - a bola bateu no travessão e foi pra fora. Aos 14, Miyama cruzou na área, Kozue Ando se antecipou à goleira mas não acertou a bola; a arqueira sueca não conseguiu afastar e a bola sobrou para Sawa na pequena área, que só deu um toquinho de cabeça, se redimindo do erro no primeiro tempo e mandando a bola pro fundo das redes: 2x1. Cinco minutos depois, mais um lançamento de Miyama - a melhor jogadora em campo -; a goleira saiu da área e chegou antes de Ando para afastar, mas a bola sobrou nos pés de Kawasumi, que chutou por cobertura e fez um golaço: 3x1. A Suécia bem que tentou, mas não teve forças para buscar uma reação. As Nadeshiko se imporam até o final e garantiram uma histórica e incontestável presença na final do Mundial.
Na final, o Japão enfrenta os Estados Unidos, atual 1º colocado no ranking da Fifa. A partida será disputada em Frankfurt, neste domingo (17/07), às 15:45 (horário de Brasília).
oqvist safada
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