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terça-feira, 8 de março de 2011

Barcelona 3x1 Arsenal: Domínio total e classificação para o Barça

Em 2010, Barcelona e Arsenal se encontraram nas quartas de final da UEFA Champions League. Depois de sair perdendo e ter conseguido um heroico 2x2 no Emirates, o Arsenal foi demolido no jogo do volta. Messi fez sua melhor partida da temporada e acabou com o jogo, marcando quatro vezes na vitória por 4x1. Este ano, os dois times se encontraram mais uma vez na fase final da competição, agora nas oitavas de final. O placar agregado, que ano passado foi 6x3 para o Barça, desta vez ficou em apenas 4x3. Porém, a diferença entre os dois times ainda é um abismo.

As formações de Barcelona e Arsenal no jogo de volta, no Camp Nou, em 2010

As formações de Barcelona e Arsenal no jogo de volta, no Camp Nou, em 2011

Do lado do Barcelona, pouca diferença entre os times de 2010 e 2011. Nas duas ocasiões a dupla de zaga titular foi desfalque, mas desta vez Pep Guardiola preferiu improvisar o volante Busquets e o lateral esquerdo Abidal como zagueiros. Assim, Adriano ganhou a vaga na lateral e Masquerano jogou à frente da defesa. De resto, a presença de Iniesta e Villa deixaram o setor ofensivo ainda mais forte.

Pelo Arsenal, o polonês Szczesny dava segurança no gol, ao contrário do espanhol Almunia. A defesa de 2010 tinha o excelente Vermaelen e o péssimo Silvestre. A zaga atual, com Djourou e Koscielny, ainda sente falta do belga, mas é de longe uma opção bem melhor do que Silvestre. No meio, Song foi desfalque nas duas ocasiões, e desta vez foi Diaby quem jogou em seu lugar. Wilshere já é peça fundamental no time inglês como segundo volante. Fabregas e Van Persie não jogaram ano passado e eram dúvida também desta vez, mas se recuperaram a tempo e foram pro jogo.

A ausência de Walcott causou uma decisão no mínimo polêmica do treinador Arsene Wenger: escalar Rosicky - que vive uma fase ruim e está longe de jogar seu melhor futebol - e deixar o russo Arshavin no banco. É bem verdade que essa decisão deve ter sido tomada pensando no lado defensivo da equipe. Arshavin costuma jogar pelo lado esquerdo, e lá é por onde Nasri mais tem se destacado, além de que o francês já tinha feito um bom trabalho marcando Daniel Alves no jogo de ida. O russo, por outro lado, não é de marcar muito, ao contrário de Rosicky, que teoricamente poderia cumprir essa função pelo lado direito.

Wenger havia comentado que seu time jogaria de forma diferente do usual no Camp Nou, e o que se viu foi realmente um Arsenal totalmente diferente do normal. Com uma postura extremamente defensiva, não tiveram um único chute a gol em toda a partida. Parecia que o objetivo era defender e eventualmente conseguir um gol por algum tipo de milagre. Mesmo com a vantagem de 2x1 do jogo de ida, não era sensato esperar que seria possível segurar um 0x0.

A situação começou a ficar dramática para o time visitante quando Szczesny machucou a mão ao defender uma cobrança de falta de Daniel Alves e teve que ser substituído por Almunia logo aos 15 minutos. Porém, justiça seja feita, apesar do péssimo retrospecto contra o adversário - o goleiro espanhol tem agora 11 gols sofridos contra o Barcelona em quatro partidas, sendo que em duas ele nem começou como titular -, Almunia foi o melhor em campo do Arsenal, fez inúmeras defesas e salvou o time de levar uma goleada.

Apesar de toda a pressão e ter perto de 70% de posse de bola na primeira etapa, o Barcelona não fazia uma grande partida. A defesa adversária estava bem compacta, fazendo uma perigosa linha de impedimento, mas que estava dando certo. O gol do Barça saiu já nos acréscimos do primeiro tempo, graças a uma jogada infeliz de Fabregas, que tentou um toque de calcanhar na frente da própria área. Iniesta recuperou a bola e deixou Messi na cara do gol. O Argentino só deu um toquinho por cima de Almunia pra marcar um gol brilhante.

Messi, pra variar, fez um golaço / Foto: Carl Recine/Action Images

No início do segundo tempo, parecia que a sorte havia virado as costas para os catalães. Nasri conseguiu um raro escanteio para o Arsenal. Ele mesmo cobrou e Busquets cabeceou para dentro do próprio gol. O Arsenal tinha marcado no Camp Nou sem ter nenhuma finalização, e o Barcelona precisava agora fazer dois gols.

Mas a alegria dos Gunners durou pouco. Três minutos depois, Van Persie foi expulso de forma absolutamente ridícula. O holandês recebeu um lançamento em posição de impedimento e chutou pro gol mesmo depois do juiz ter parado o lance. Massimo Busacca não hesitou e expulsou o atacante, que já tinha cartão amarelo. Foi constatado que, entre o apito do juiz e o chute de Van Persie, passou apenas um segundo. "É uma piada", lamentou o holandês sobre o árbitro suíço.

Apesar dessa expulsão já ser suficiente pra influenciar no resultado do jogo, não foi a única decisão polêmica de Busacca. No primeiro tempo, Diaby havia derrubado Messi dentro da área quando ainda estava 0x0, no que pareceu ser um pênalti claro. Porém, o árbitro não deu nada, mesmo estando na frente do lance. Quando o Barça vencia por 2x1, ele marcou pênalti num lance que pareceu não ser.

Com um jogador a mais, os catalães só precisaram de 15 minutos para fazer dois gols e decidir a partida. Primeiro com Xavi, que recebeu de Villa na cara do gol após uma bela jogada de Iniesta, e depois com um pênalti duvidoso de Koscielny em cima de Pedro, onde Messi bateu com tranquilidade pra fazer 3x1.

Precisando de um gol para se classificar, Wenger tirou Rosicky e Fabregas para colocar Arshavin e Bendtner. O Arsenal até teve a chance de marcar quando a defesa do Barça falhou, Wilshere recuperou a bola e deixou Bendtner na cara do gol. O dinamarquês, porém, bisonhamente não conseguiu nem dominar a bola e Masquerano fez o corte na hora certa, na frente de Valdés, que ficou com a bola.

Apesar dos erros de arbitragem, a superioridade do Barcelona foi incontestável, com 76% de posse de bola e domínio do início ao fim. O time que tem os três melhores jogadores do mundo joga um futebol avassalador e caminha forte com chances de ganhar todos os títulos possíveis na temporada e ficar na história como um dos melhores de todos os tempos, assim como a Hungria de 1954 ou o Brasil de 1970, times que encantaram o mundo não só pelas vitórias mas principalmente pelo futebol jogado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Arsenal 2x1 Barcelona: Vitória histórica no Emirates

Van Persie marca mesmo chutando quase sem ângulo / Foto: Getty Images

O Arsenal conseguiu uma vitória histórica no jogo de ida pelas oitavas de final da Liga dos Campeões da UEFA. Não apenas por ser a primeira vez que o clube inglês derrota os catalães - é verdade que foram apenas seis partidas até hoje - mas principalmente porque este Barcelona de hoje é considerado por muitos o melhor Barcelona da história. Não basta ter o melhor jogador do mundo, eles têm também o segundo e o terceiro melhor.

Messi tem números simplesmente incríveis. Em 35 jogos nesta temporada, foram 40 gols e 20 assistências. É como se ele garantisse "quase" dois gols em todos os jogos. Antes de empatar com o Sporting Gijón por 1x1 na semana passada, o Barça tinha 16 vitórias seguidas no Campeonato Espanhol, um recorde. O que se espera de um time assim é que se consagre na história vencendo todos os campeonatos que disputar. Porém, pelo menos na partida de ida, esse "quase" não esteve a favor dos espanhóis.

A formação inicial das equipes

O Arsenal esteve desfalcado do zagueiro Vermaelen (lesionado desde o início da temporada) e do lateral Sagna (suspenso). A escalação de Nasri foi uma surpresa, pois o francês ainda se recuperava de uma lesão na coxa e poderia ficar mais uma semana de fora. Pelo Barcelona, a única ausência foi o lesionado Puyol, que deu lugar a Abidal na zaga.

O Arsenal começou pressionando, mas logo a situação se inverteu e o Barcelona controlava a partida. Song recebeu um cartão amarelo após fazer falta em Messi e ficou pendurado logo aos 6 minutos de jogo. Com uma facilidade incrível para trocar passes, parecia questão de tempo pra sair o primeiro gol. A defesa do Arsenal adiantou sua linha e o ataque recuou para estreitar o campo e pressionar quando não tinha a bola, mas isso facilitou para o Barça fazer passes rápidos e deixar seus jogadores na cara do gol. Foi assim que Messi quase abriu o placar aos 14 minutos, quando tocou por cima de Szczesny e a bola foi pra fora, passando muito perto da trave. 

Aos 26 minutos, Messi deixou Villa em condição legal na cara do gol; ele chutou na saída do goleiro pra fazer 1x0. Parecia o rumo natural das coisas. O segundo poderia ter saído, mas Szczesny evitou que a situação piorasse para os donos da casa. Só no primeiro tempo, o Barcelona completou 328 passes, enquanto o Arsenal, 158.

O time de Londres até teve duas boas chances de marcar no primeiro tempo com Van Persie, mas a primeira parou nas mãos de Valdés; na segunda, o holandês mandou pra fora, por cima do gol. Fabregas também teve uma boa chance, mas decidiu cruzar quando poderia chutar e um leve desvio de cabeça de Abidal impediu que a bola chegasse a Van Persie na frente do gol.

No segundo tempo, Pep Guardiola parecia contente com a vitória parcial, pois o ímpeto ofensivo de sua equipe diminuiu. Ainda assim, continuaram extremamente perigosos nos contra-ataques. A partida ficou mais equilibrada, mas não parecia que o Arsenal seria capaz de recuperar o prejuízo. Até que, na metade do segundo tempo, alterações dos dois lados mudaram o panorama do jogo. Pelo Barcelona, Keita entrou no lugar de Villa, jogando mais pelo meio e adiantando Iniesta no lado esquerdo do ataque. Pelo Arsenal, Arsene Wenger resolveu arriscar e colocou Arshavin no lugar de Song. O russo foi para a ponta esquerda, enquanto Nasri foi pro meio ao lado de Wilshere. Pouco depois, Bendtner ainda entrou no lugar de Walcott.

Aos 33 minutos, Van Persie recebeu de Clichy e, quase sem ângulo nenhum, chutou rasteiro. Valdés aceitou e o jogo estava empatado. Agora os dois times atacavam, e foi em um contra-ataque que a partida foi definida. Nasri recebeu de Fabregas, invadiu a área e passou para Arshavin, que chegava de trás e chutou no contrapé de Valdés. Uma virada que parecia improvável, que mostrou que é possível enfrentar o Barcelona jogando ofensivamente sem levar uma goleada, como aconteceu com o Real Madrid de Mourinho. 

As alterações do segundo tempo foram fundamentais, mas o Arsenal também contou com a sorte e a competência de sua defesa - que costuma ser irregular, mas não hoje - e principalmente de seu goleiro. Wojciech Szczesny, polonês de apenas 20 anos, mostrou muita segurança, frieza e maturidade para provar que o Arsenal finalmente tem um grande goleiro, depois de desventuras com Almunia e Fabianski.

Apesar do resultado, não é o fim do mundo para o Barcelona. Eles poderiam ter vencido se tivessem sido mais ousados no segundo tempo - coisa que provavelmente serão durante os 90 minutos no jogo de volta. Apenas um gol de diferença é algo totalmente recuperável pra quem está acostumado a aplicar tantas goleadas. Veremos no dia 8 de março se foi um acidente de percurso ou se o Arsenal realmente vai fazer história - mais uma vez - e estragar a temporada perfeita do (por enquanto) melhor Barcelona de todos os tempos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Barcelona 5x0 Real Madrid: Alguma dúvida de qual é o melhor time do mundo?

Depois de todas as expectativas criadas em torno do clássico espanhol, das equipes consideradas as melhores do mundo, do aguardado duelo entre Messi x Cristiano Ronaldo... O jogo foi um massacre do Barcelona, que dominou completamente do início ao fim. Parecia até que o adversário era um time pequeno e não o poderoso Real Madrid de José Mourinho. Se existiam dúvidas de qual é o melhor time do mundo - que fique claro, neste momento -, Messi e companhia trataram de acabar com elas em uma vitória brilhante e incontestável.

 Jogadores comemoram / Foto: ESPN Soccernet

Antes da partida, especulava-se como Mourinho escalaria seu time. Manteria o 4-2-3-1 ou sacrificaria um jogador de ataque para colocar mais um marcador no meio-campo? O técnico português já havia eliminado o Barça pela Champions League na temporada passada, quando foi campeão com a Internazionale. Parece que ele sabia como parar a máquina catalã. Bem, se ele sabia, vai ter que aprender tudo de novo.

 A formação inicial das equipes

O time de Pep Guardiola veio a campo com a formação esperada, enquanto o Real Madrid não teve medo e continuou com seu 4-2-3-1 padrão. Se Mourinho não teve vergonha de colocar seu time todo na defesa quando a Inter superou o Barça, desta vez ele não teve medo de ousar e colocar sua equipe pra jogar de igual pra igual. Pelo menos na teoria. Porque na prática, os Merengues esqueceram de jogar. Totalmente dominados pelo Barcelona, já perdiam por 2x0 (gols de Xavi e Pedro) aos 18 minutos do primeiro tempo.

Com o Barça tocando a bola o tempo todo, era só um time que jogava, enquanto o outro assistia. Apesar da escalação inicial mostrar um 4-3-3, na prática o Barcelona joga diferente. Daniel Alves definitivamente estava bem mais adiantado que um lateral direito, compondo o meio-campo e deixando a defesa com três zagueiros. Quando Abidal também apoiava, era Busquets quem voltava pra zaga. Com tanta pressão, não demorou a sair os gols, enquanto o Real quase não criou chances.

Cristiano Ronaldo não brilhou. Özil estava tão sumido que saiu no intervalo para a entrada de Lassana Diarra. Perdendo de 2x0, entra um jogador defensivo no lugar de um ofensivo. Marcelo também foi substituído, dando lugar a Arbeloa. Será que Mourinho estava prevendo a goleada e tentou fechar mais sua defesa? Se era isso, ele preveu certo, mas seus jogadores nada puderam fazer pra evitar. É difícil dizer um único jogador do Real que não fez uma partida ruim. Aos 13 do segundo tempo, Villa já havia feito mais dois, a goleada estava decretada e o jogo decidido.

O Real até tentava pressionar a saída de bola pra ver se conseguia algo, mas a facilidade com que o Barça trocava passes lembrava até uma partida de um time grande contra um pequeno. Os 67% de posse de bola mostram o tamanho desse domínio. O quinto gol veio já nos acréscimos, com Jeffrén, que havia entrado no lugar de Pedro. Estava fechado o caixão do Real enquanto um lotado Camp Nou ia à loucura.

Foi a primeira derrota de Mourinho no comando do Real Madrid, e a maior que já sofreu na carreira. Segundo ele, o Barcelona é um time pronto, enquanto o Real ainda tem muito a evoluir. O que não deixa de ser verdade.

Foi a vitória do melhor time do mundo, com um show do melhor jogador do mundo. E também do possível segundo melhor, Xavi. Com jogadas fantásticas e passes perfeitos, Xavi deixou o seu logo no início, enquanto Messi, apesar de não ter marcado, teve duas assistências e ainda uma bola na trave. Uma apresentação impecável, uma aula de futebol, uma goleada humilhante sobre o maior rival. Até onde esse time vai chegar?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Barcelona está reinventando a formação W-W?

Para enfrentar equipes que se fecham na defesa, o Barça adianta os dois laterais - lembrando o 2-3-2-3 dos anos 30

Jogadores do Barcelona comemoram mais um gol / Foto: Manu Fernandez/AP

O texto a seguir é uma tradução de um artigo escrito por Jonathan Wilson para o inglês Guardian. Segue o link do texto original:
http://www.guardian.co.uk/sport/blog/2010/oct/26/the-question-barcelona-reinventing-w-w

O futebol é um esporte holístico. Adiante um jogador aqui e você precisa recuar um jogador ali. Dê mais liberdade para atacar a um jogador e você precisa fazer outro defender mais. Enquanto o sistema com três zagueiros ficou ultrapassado como formação balanceada ou ofensiva - embora não como uma formação defensiva - graças ao boom dos sistemas com apenas um atacante, os técnicos têm que resolver o problema de como usar laterais ofensivos sem deixar um buraco na defesa.

Para os times que usam wingers invertidos, assim como o Barcelona, esta questão é particularmente significante. Para eles, o apoio dos laterais não é apenas uma opção de ataque; é o que dá profundidade ao time enquanto os meias extremos avançam pelo centro. A falta de um jogador argentino com as características de Daniel Alves explica em parte por que Lionel Messi não jogou na seleção tudo que mostra em seu clube. No Barcelona, quando ele está na ponta direita e corta para o centro, Daniel corre pelo lado de fora, e o lateral adversário não pode ficar simplesmente marcando Messi para forçá-lo a usar seu pé ruim, o direito. Se fizer isso, ele passa para Daniel. Então ele deve cobrir os dois, o que dá o espaço que Messi precisa para usar com eficiência seu pé esquerdo.

É a mesma coisa quando Pedro joga na ponta direita, ou David Villa na esquerda. Os meias extremos do Barcelona sempre tentam cortar pelo meio e avançar em diagonal, e isso é facilitado com o avanço dos laterais. Tradicionalmente, se um lateral avança, o outro fica, formando efetivamente uma defesa com três homens.

O Barcelona, entretanto, frequentemente avança com os dois laterais, uma estratégia arriscada que se mostrou necessária devido aos vários adversários que jogam muito recuados contra eles. Com profundidade dos dois lados, eles podem passar a bola rapidamente de um flanco a outro, abrindo espaços até em uma defesa bem fechada. Contudo, eles ainda precisam de cobertura caso o adversário contra-ataque, e é por isso que Sergio Busquets fica recuado, tornando-se de fato um terceiro zagueiro.

É claro que isso não é algo novo. A maioria dos times que usaram um meio-campo em diamante já fizeram algo parecido. No Shakhtar Donetsk, antes de adotarem o 4-2-3-1, Dario Srna e Razvan Rat eram liberados pra atacar enquanto Mariusz Lewandowski ficava bem recuado no meio. No Chelsea, enquanto ainda definia a melhor formação da equipe, Luiz Felipe Scolari frequentemente colocava Mikel John Obi como um terceiro zagueiro. O próprio Barcelona tinha Yaya Touré recuando pra jogar como zagueiro na campanha do título da Champions League em 2008-09.

A diferença é a proporção usada. E não é apenas o Barcelona. Eu percebi essa tendência pela primeira vez ao assistir um amistoso do México contra a Inglaterra antes da Copa do Mundo. Tentando descobrir qual era a formação mexicana, achei que eram quatro zagueiros, depois três, depois quatro, depois três, então percebi que eram ambos e nenhum ao mesmo tempo, mudando do 4-3-3 para o 3-4-3, assim como fizeram na Copa do Mundo.

Ricardo Osorio e Francisco Rodríguez eram os dois zagueiros, com Rafael Márquez atuando quase como um antigo (da época pré-Segunda Guerra Mundial) centromédio na frente deles. Paul Aguilar e Carlos Salcido eram laterais ofensivos, então a defesa era dividida em duas linhas, uma com dois e outra com três homens. Efraín Juárez e Gerardo Torrado compunham o meio-campo, atrás de uma linha de frente com três jogadores: Giovani dos Santos, Guillermo Franco e Carlos Vela. De fato, a formação seria mais precisamente descrita como um 2-3-2-3: em outras palavras, era o W-W que Vittorio Pozzo usou com a Itália ao vencer as Copas de 1934 e 1938.

Inspirado no sistema de Pozzo

Pozzo foi iniciado no futebol quando estudava a produção de lã em Bradford na primeira década do século passado. Ele viajava por Yorkshire e Lancashire assistindo jogos e eventualmente tornou-se torcedor do Manchester United, especialmente de sua lendária linha de volantes composta por Dick Duckworth, Charlie Roberts e Alec Bell. Para ele, todos os centromédios deveriam ser como Roberts, capazes de longos passes para as pontas. Esta foi uma convicção que ele sempre carregou consigo e o levou à decisão, quando foi nomeado treinador da seleção da Itália em 1924, de não convocar mais Fulvio Bernardini, ídolo da torcida romana, porque ele era mais um "carregador" do que um "passador".

Assim, ele passou a repudiar a formação W-M que o seu amigo Herbert Chapman, treinador do Arsenal, desenvolveu depois da mudança na lei do impedimento em 1925, onde o centromédio - no caso do Arsenal, Herbie Roberts - tornou-se um marcador, uma "sombra" para o centroavante adversário. Apesar disso, ele reconheceu que na nova realidade o centromédio deveria ter também atribuições defensivas.

Luisito Monti foi o jogador perfeito para Pozzo nessa posição. Ele já havia jogado a Copa de 1930 pela Argentina mas, depois de ir para a Juventus em 1931, por ter ascendência italiana, foi qualificado para defender a Itália. Contratado já com 30 anos, Monti estava acima do peso e, mesmo depois de um mês treinando sozinho, ainda não era rápido. Mas já estava em forma e ficou conhecido como Doble Ancho (extensão dupla) por sua capacidade de cobrir os espaços.

Monti tornou-se um centro mediano - não exatamente um Charlie Roberts mas também diferente de Herbie Roberts. Quando o adversário tinha a bola, ele recuava pra marcar o centroavante, mas ia pra frente e se tornava um ponto de articulação quando seu time tinha a bola. Embora não fosse um terceiro zagueiro, ele jogava mais recuado que um centromédio e os dois atacantes internos recuavam para ajudar os meias. A formação da Itália tornou-se um 2-3-2-3, o W-W. Na época, para o jornalista Mario Zappa da Gazzetta dello Sport, parecia "um modelo de jogo que é a síntese dos melhores elementos dos sistemas mais admirados", algo que surgiu do sucesso da Itália.

O passado ecoando no presente

Reconhecer que a forma do futebol moderno lembra a dos anos 30, entretanto, não é repetir o que diz o livro de Eclesiastes, que lamenta a futilidade de um mundo sem inovação: "O que já existiu existirá de novo, e o que já foi feito será feito de novo; não há nada novo debaixo do sol. Há algo que alguém pode dizer: 'Veja! isto é algo novo'? É algo que já existia, há muito tempo; já existia desde antes do nosso tempo." Nem é discutir que táticas são cíclicas, como muitos equivocadamente fazem.

É preferível reconhecer que fragmentos do passado ainda repercutem hoje, sendo reinventados e reinterpretados. Assim como o México, a formação do Barcelona, pelo menos quando usam apenas um meio-campo defensivo, parece imitar a Itália de Pozzo. Aqueles que defendem três zagueiros argumentam que, para previnir que o time tenha dois homens na sobra contra um sistema com um único atacante, um dos zagueiros pode subir para o meio-campo, pois os que ficaram na defesa já são o suficiente, e você ainda ganha um jogador adicional no meio-campo. O que o Barcelona e o México têm feito é uma abordagem pelo outro lado: usar um volante como zagueiro adicional ao invés de um zagueiro como volante adicional.

Mas o estilo do futebol está muito diferente. Não é apenas questão de que hoje o futebol está muito mais rápido que nos anos 30. O Barcelona pressiona incansavelmente quando não está com a bola, uma forma de defender que não havia sido desenvolvida até um quarto de século depois da segunda Copa do Mundo de Pozzo. Nos primeiros 20 minutos no Emirates na temporada passada, o Barcelona dominou completamente o Arsenal. A maior diferença entre os times não era na técnica, e sim na disciplina com que pressionavam.

De forma parecida, os wingers invertidos seriam algo desconhecido para Pozzo. Enrique Guaita e Raimundo Orsi jogavam abertos do início ao fim, buscando sempre a linha de fundo pra fazer cruzamentos. Angelo Schiavio era o centroavante que estava sempre fixo na frente - e nunca deixava sua posição. Os dois meias mais abertos, Attilio Ferraris e Luigi Bertolini, estavam sempre muito preocupados com a marcação aos atacantes internos adversários para subir ao ataque.

Entretanto, as vantagens do W-W para um time que quer manter a posse de bola, como as triangulações que oferecem simples opções de passe, continuam as mesmas. Ter Busquets, o Monti moderno, jogando entre Carles Puyol e Gerard Piqué não é um mero movimento defensivo; é algo que facilita para a saída de bola do Barcelona. Contra um 4-4-2 ou um 4-2-3-1, Busquets pode ser marcado por um centroavante recuado ou pelo jogador central do tridente, o que pode interromper o ritmo do Barcelona (assim como os times perceberam depois que Kevin Keegan colocou Antoine Sibierski para marcar Claude Makélelé, o que, por estranho que pareça, desnorteou o Chelsea); deixe Busquets mais recuado e ele tem mais tempo para iniciar os ataques.

Há também a questão da percepção. Olhando relatórios de partidas do início dos anos 70, parece bizarro para o olhar moderno pensar que eles ainda listavam os times como se jogassem no 2-3-5, sistema que já estava morto na maior parte dessa década. Ainda assim, presumimos, era a forma como os jornalistas e seus leitores viam o jogo. Da mesma forma, as gerações futuras podem olhar para as formações que descrevemos e não entender a lógica de como uma defesa com "quatro defensores" tem menos zagueiros que uma defesa com "três defensores".

Nós sabemos que os laterais atacam e que numa linha com quatro defensores, os zagueiros centrais invariavelmente jogam mais recuados, mas as formações que desenhamos não mostram isso muito bem. O Barcelona costuma usar um 4-1-2-3 ou um 4-2-1-3, de acordo com os critérios que usarmos para analisar sua formação; mas os heat maps de posicionamento mostram um 2-3-2-3. O Barcelona, assim como o México, joga no W-W, mas não da forma que Pozzo o conhecia.

sábado, 4 de setembro de 2010

UCL Preview - Grupo D: Barcelona, Panathinaikos, Copenhagen, Rubin Kazan


Barcelona
O que dizer do Barcelona? Eles têm "só" Messi, Xavi, Iniesta, David Villa, Piqué, Puyol, Daniel Alves, Masquerano... entre outras estrelas. O campeão espanhol é simplesmente o maior favorito a levantar a taça e ainda pegou um grupo que não deve impor muitas dificuldades.
Campeão em 1992, 2006 e 2009, o Barça sempre chegou pelo menos na semifinal nos últimos três anos.

Panathinaikos
O campeão grego é presença constante na Champions League e vai para sua 24ª participação. Porém, há muito tempo o time é apenas coadjuvante e fica só na lembrança da campanha de 1971, quando foram vice-campeões com o lendário Ferenc Puskás como técnico.
O elenco tem muita experiência e jogadores importantes como os gregos Tzorvas, Seitaridis, Vintra, Karagounis, Katsouranis e Ninis; o brasileiro Gilberto Silva e os franceses Cissé e Govou - todos estiveram na última Copa do Mundo.

Copenhagen
O campeão dinamarquês é o time menos badalado do grupo. Até hoje só participou da fase de grupos uma vez, em 2006/2007, sem muito sucesso. O time tem o experiente dinamarquês Gronkjaer e os desconhecidos brasileiros Claudemir e César Santin.

Rubin Kazan
Assim como no ano passado, o Rubin Kazan mais uma vez está no grupo do Barcelona. O time onde agora joga o brasileiro Carlos Eduardo não perdeu para o Barça ano passado, conseguindo um empate em 0x0 na Rússia e uma incrível vitória por 2x1 no Camp Nou. Porém, desta vez o grupo não tem também um time do calibre da Internazionale, que eliminou o Rubin na última rodada da fase de grupos. O campeão russo espera que a história se repita contra o time espanhol, mas que a classificação venha desta vez.