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domingo, 17 de julho de 2011

Japão é o campeão mundial de futebol feminino

A capitã, MVP e artilheira do Mundial, Homare Sawa, levanta a taça / Getty Images

O Japão venceu os Estados Unidos nos pênaltis e é o campeão da Copa do Mundo Feminina da Fifa. O real tamanho dessa conquista, só o tempo dirá. Mas a forma como as Nadeshiko se superaram para vencer um time que se mostrou superior na maior parte do jogo teve tantos elementos de drama, emoção e suspense que daria um filme e tanto.

A situação do futebol feminino no Japão é um pouco melhor que a do Brasil, mas as dificuldades ainda são muitas. Lá até já existem times formados e uma liga nacional (a L-League), mas apenas algumas jogadoras têm um contrato profissional - a maioria não recebe nada para jogar. Os treinamentos e jogos são durante a noite; assim, as atletas precisam ter um emprego fixo durante o dia. A entrada é franca para assistir os jogos, mas mesmo assim o público é escasso. Com a tragédia de 11 de março e o consequente racionamento de energia, a preparação da seleção para a Copa do Mundo não foi a ideal; os treinos eram limitados e foi até cogitada a possibilidade de não participar do Mundial da Alemanha.

Passando por cima de tudo isso, as garotas mostraram um futebol digno do 4º lugar que ocupavam no Ranking da Fifa e chegaram até a final de forma convincente, derrubando no meio do caminho potências mundiais como Alemanha e Suécia. Mas ainda havia um último obstáculo para conquistar a maior glória que um país pode conseguir no futebol: os Estados Unidos.

As japonesas nunca tinham derrotado as adversárias da final em toda a história. Em 25 confrontos, eram 22 vitórias dos Estados Unidos e três empates. Duas dessas partidas foram disputadas há apenas dois meses, em amistosos: as americanas venceram nas duas ocasiões por 2x0.

O time que entrou em campo foi o mesmo que venceu a Suécia por 3x1 na semifinal

Foi só a partida começar e os Estados Unidos partiram para o ataque de forma avassaladora. A goleira Ayumi Kaihori já teve que fazer uma difícil defesa com apenas 20 segundos de jogo. Era uma chance atrás da outra, e em pelo menos mais cinco oportunidades - como o chute de Abby Wambach que acertou o travessão - as americanas estiveram muito perto de fazer o primeiro gol. Incrivelmente o placar continuava 0x0.

A sueca Pia Sundhage, técnica da seleção americana, armou seu time de forma a anular a principal característica do Japão: o toque de bola. Aya Miyama sofria marcação cerrada e pouco apareceu. A incansável capitã Homare Sawa teve que se concentrar mais em ajudar a defesa e quase não subia ao ataque. Assim, o Japão teve "apenas" 53% de posse de bola, grande parte desse tempo apenas tocando a bola entre as defensoras, perdendo a bola rapidamente nas tentativas de ataque.

Para o segundo tempo, os Estados Unidos perderam uma de suas principais jogadoras, a atacante Lauren Cheney, que saiu machucada no intervalo. Mas em seu lugar entrou a veloz Alex Morgan, que acertou um chute na trave logo no início. Não demorou até que finalmente saiu o primeiro gol. Em um contra-ataque fulminante, Megan Rapinoe lançou do campo de defesa, Morgan ganhou da zagueira Saki Kumagai na velocidade e chutou cruzado, com força, no canto de Kaihori: 1x0.

As japonesas pareciam estar mais cansadas, por terem que passar tanto tempo defendendo e correndo atrás das adversárias, jogando de uma forma que não estavam acostumadas. Mas o gol de empate veio a 10 minutos do fim. As atacantes Yuki Nagasato e Karina Maruyama haviam entrado para dar uma movimentação maior no ataque e, em uma rara oportunidade, Nagasato cruzou na área para Maruyama, que dividiu com a zagueira; a bola acabou sobrando para Miyama na frente do gol, e ela não desperdiçou: 1x1 e a partida se encaminhou para a prorrogação.

No final do primeiro tempo da prorrogação, veio o balde de água fria: cruzamento pra área e Wambach marcou de cabeça: 2x1. Parecia o final perfeito para as americanas, que viram Wambach marcar também de cabeça, nos últimos minutos da prorrogação, e salvar sua seleção da derrota contra o Brasil nas quartas de final. Mas o segundo tempo reservava mais emoções.

Faltando quatro minutos pra acabar, Sawa desviou uma cobrança de escanteio e deixou tudo igual novamente. Uma reação improvável por tudo que foi a partida, mas o fato é que o placar mostrava 2x2 e a decisão por pênaltis estava próxima. As americanas queriam vencer de qualquer forma no tempo normal, e tiveram uma grande chance quando Morgan recebeu um passe tendo apenas a goleira à sua frente. Azusa Iwashimizu não pensou duas vezes e se atirou no chão, derrubando a americana por trás bem na frente da grande área. Falta muito perigosa e cartão vermelho para a japonesa. Depois da cobrança e uma bola rebatida na frente do gol, as Nadeshiko se salvaram e a decisão do título foi para as penalidades máximas.

A vantagem parecia ser mais uma vez das americanas. Afinal, elas tinham Hope Solo, a melhor goleira do mundo, enquanto Kaihori era o "ponto fraco" do Japão. A arqueira nipônica havia falhado em alguns momentos no Mundial, é verdade. Mas em tantos outros, principalmente nos jogos decisivos, ela foi segura e não cometeu erros. Kaihori não tinha sido brilhante, mas foi genial na disputa de pênaltis. Ela defendeu as cobranças de Shannon Boxx e Tobin Heath e viu Carli Lloyd chutar para fora, enquanto Wambach foi a única a converter. Já Hope Solo defendeu apenas o pênalti de Nagasato, enquanto Miyama, Sakaguchi e Kumagai marcaram.

As americanas foram as melhores durante os 120 minutos, isso é fato. As japonesas, que jogaram no limite de suas forças físicas e buscaram energias para fazer um verdadeiro milagre dentro de campo, não fizeram por merecer uma vitória no tempo regulamentar, mas lutaram bravamente a ponto de não merecerem a derrota. Qualquer que fosse o vencedor na disputa de pênaltis, a taça estaria em boas mãos.

Sawa cansou de receber troféus na cerimônia de premiação. Primeiro o prêmio Fair Play (em quatro dos seis jogos disputados, elas não receberam um único cartão amarelo), depois a Chuteira de Ouro (Sawa foi a artilheira com 5 gols), a Bola de Ouro (prêmio para a melhor jogadora) e, por fim, a taça de campeãs. Foi o dia mais importante da história do futebol feminino japonês, que evoluiu muito nos últimos anos e tem tudo para continuar assim, firmando-se agora entre as melhores seleções do mundo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O caminho do Japão até a final do Mundial Feminino

Jogadoras comemoram o gol de Miyama (8) na partida de estreia / Foto: AFP

A seleção feminina do Japão, chamada de Nadeshiko (em japonês, refere-se à flor do gênero Dianthus, mais conhecida como cravo; a palavra representa também a mulher ideal japonesa), veio para a Copa do Mundo da Alemanha com boas expectativas. Apesar do retrospecto não ser bom - o Japão participou de todas as edições do Mundial desde 1991, mas somou apenas 3 vitórias, 2 empates e 11 derrotas -, as Nadeshiko foram evoluindo gradativamente até chegarem ao 4º lugar no ranking da Fifa este ano, o que fez do Japão um dos cabeças de chave do torneio.

Com um futebol de posse de bola e muitos passes, semelhante ao tique-taca do Barcelona e da seleção espanhola, as japonesas jogaram bonito, envolveram suas adversárias, fizeram grandes partidas nos momentos cruciais e agora estão em uma inédita final de Mundial. Confira a campanha das nipônicas desde o primeiro jogo:

O Japão num 4-4-2 com variação para 4-1-4-1: Sakaguchi é a volante que fica mais
na contenção, enquanto Sawa tem liberdade para criar; na frente, Ando joga mais
recuada, tendo Nagasato como a referência na área. Esta foi a escalação usada nas
quatro primeiras partidas; na semifinal, Kawasumi entrou no lugar de Nagasato.

Japão 2x1 Nova Zelândia

27/06/2011 - Ruhrstadion, Bochum

Pelo início da partida, parecia que o Japão ia fazer valer o seu favoritismo contra o adversário teoricamente mais fraco do grupo. Logo aos 5 minutos, Shinobu Ohno interceptou a bola no campo de ataque e, com um passe perfeito, deixou Yuki Nagasato na cara do gol; ela tocou por cima da goleira, com categoria, e fez 1x0.

Mas a Nova Zelândia não se deu por vencida. Aos 11 minutos elas empataram explorando a grande fraqueza das japonesas, o jogo aéreo. Ria Percival cruzou pela direita, a goleira Ayumi Kaihori ficou pelo meio do caminho e Amber Hearn, na segunda trave, cabeceou para as redes e deixou tudo igual. Não é novidade que as goleiras têm mais dificuldade no futebol feminino, e a baixa estatura das Nadeshiko é uma desvantagem natural em relação a outras seleções. Kaihori (1,70 m) e a zagueira Saki Kumagai (1,71 m) são as únicas do elenco na casa dos 1,70 m de altura.

O jogo do Japão é o toque de bola. Superiores tecnicamente, as japonesas não deram mais chance às adversárias e dominaram a partida. A volante Mizuho Sakaguchi chegou a acertar um chute na trave depois de um cruzamento da leteral Yukari Kinga. Mas o jogo foi pro intervalo com tudo igual no placar.
No segundo tempo, o Japão continuou melhor, mas com muitas dificuldades em criar chances de gol. Até que Mana Iwabuchi entrou no lugar de Ohno. A habilidosa atacante, de apenas 18 anos, fez a diferença com sua velocidade e seus dribles. O gol da vitória começou com ela, que saiu fazendo fila nas neozelandesas até ser derrubada na meia-lua, na frente da área. Aya Miyama, a especialista em bolas paradas, foi perfeita na cobrança e mandou quase no ângulo, longe do alcance da goleira: 2x1. Iwabuchi ainda quase fez um golaço: ela viu a goleira adiantada e tentou do meio-campo, mas a bola foi forte e passou por cima do gol. Apesar de não ter jogado seu melhor futebol, foi o suficiente para que as Nadeshiko estreassem com vitória na Copa do Mundo.

Japão 4x0 México
01/07/2011 - Bay Arena, Leverkusen

Na segunda partida, as Nadeshiko melhoraram muito e, com exatamente a mesma escalação do jogo de estreia, venceram com tranquilidade o México. Desde o início as japonesas tocaram a bola com facilidade e se impuseram em campo. Não demorou a sair o primeiro gol: aos 12 minutos, Miyama cobrou falta pela esquerda e Homare Sawa apareceu na área para fazer, de cabeça: 1x0. Dois minutos, depois, Nagasato recebeu um lançamento na meia-lua, dominou e deu um passe curto para Ohno, que passou por duas defensoras e chutou forte no alto do gol: 2x0. Perto do final do primeiro tempo, mais uma vez a combinação Miyama-Sawa deu certo. A camisa 8 cobrou escanteio pela esquerda e a capitã se adiantou à marcação, foi à primeira trave e marcou novamente de cabeça: 3x0. Nagasato chegou a fazer o quarto gol, mas foi (mal) anulado pela bandeirinha - apesar da atacante estar na mesma linha ao receber o passe, foi marcado impedimento.

O panorama não mudou no segundo tempo. Aos 10 minutos, o chute de Nagasato acertou a trave depois de um desvio na zagueira. Na sequência, Miyama por pouco não fez um gol olímpico - a bola bateu no travessão. A jovem sensação Iwabuchi entrou e foi dos pés dela que começou a jogada do quarto gol, com um passe para Kinga que, na linha de fundo, cruzou rasteiro para trás; lá estava Sawa, sem marcação, que não desperdiçou a chance e fez seu hat-trick: 4x0. Foi o 78º gol dela pela seleção em 169 partidas. A veterana de 32 anos, que participa de sua quinta Copa do Mundo, é a maior artilheira da seleção japonesa. Ela ultrapassou até a marca do lendário Kunishige Kamamoto, maior artilheiro da seleção masculina, que fez 75 gols em 76 partidas nas décadas de 1960 e 70.

Inglaterra 2x0 Japão
05/07/2011 - Impuls Arena, Ausburgo

O Japão precisava apenas de um empate para garantir o primeiro lugar do grupo. Apesar de terem entrado em campo com a mesma escalação das duas partidas anteriores, as Nadeshiko tiveram uma exibição fraca e foram superadas pelas inglesas, que estavam determinadas em conseguir a vaga como primeiras colocadas. Ellen White abriu o placar no primeiro tempo ao receber entre duas defensoras um lançamento do campo de defesa; ela chutou de primeira e encobriu a adiantada Kaihori. No segundo tempo, Rachel Yankey recebeu um lançamento na área e, apesar de ter adiantado demais a bola para dominar, ela ainda teve tempo de chutar por cima de Kaihori, que saía do gol: 2x0. As inglesas foram melhores e, aproveitando-se de sua superioridade física, anularam todas as tentativas japonesas. Em uma partida apática, o toque de bola das nipônicas não funcionou e, com a derrota, elas tiveram que se contentar com o segundo lugar do grupo.

Quartas de Final - Alemanha 0x1 Japão
09/07/2011 - Volkswagen-Arena, Wolfsburg

Na partida mais importante da história do futebol feminino japonês até então, as Nadeshiko se superaram. E não foram poucas as adversidades. Com o apoio da torcida, as alemãs, atuais bicampeãs do mundo, eram de longe as favoritas a passar para a semifinal. Elas são muito fortes fisicamente, justamente o ponto fraco das japonesas. Apesar de sofrer uma grande pressão o jogo inteiro, o Japão conseguiu se segurar bem, evitou que as adversárias tivessem uma chance clara de gol, teve mais posse de bola (54%) e ainda quase saiu na frente no primeiro tempo quando Nagasato recebeu na cara do gol - ela concluiu mal e mandou pra fora. O 0x0 foi se arrastando até a prorrogação e a pressão alemã só se intensificava. Parecia questão de tempo até sair o gol.

A situação ia se complicando quando Sawa sentiu a virilha ao fazer um desarme e caiu no chão, se contorcendo com uma dor que parecia insuportável. A impressão que deu é que as Nadeshiko teriam que se virar no tempo que faltava e numa possível disputa de pênaltis sem sua jogadora mais experiente. Mas logo depois, talvez no sacrifício, ela estava de volta. Aos 2 minutos do segundo tempo da prorrogação, a capitã foi recompensada por seu esforço de se manter em campo e, num contra-ataque, deixou Karina Maruyama na cara do gol com um passe perfeito; a atacante, que havia entrado no segundo tempo, teve frieza para finalizar por cima da goleira, que caía para fechar o ângulo. Nos minutos restantes, só se viu a Alemanha atacando e jogando a bola na área, mas a defesa japonesa foi eficiente e resistiu até o apito final.

Semifinal - Japão 3x1 Suécia
13/07/2011 - Commerzbank-Arena, Frankfurt

A promessa era de um jogo extremamente equilibrado e complicado para as japonesas, que vieram com uma alteração no time titular: Nahomi Kawasumi no lugar de Nagasato. As suecas vinham com uma campanha perfeita, com vitória em todas as quatro partidas anteriores, e haviam empatado com o Japão (1x1) em um amistoso antes da Copa do Mundo. A partida começou bem para as escandinavas: aos 10 minutos, Josefine Öqvist se aproveitou do passe errado de Sawa no campo de defesa, ganhou da zagueira Azusa Iwashimizu e chutou forte no alto do gol, sem chance para Kaihori: 1x0. Mas as nipônicas empataram oito minutos depois, quando Ohno fez uma boa jogada pelo meio e deixou a bola com Miyama, que cruzou pela esquerda; Kawasumi apareceu na segunda trave e mergulhou para empatar: 1x1.

A partir daí o Japão foi tomando conta do jogo - teve 60% de posse de bola no final - e a Suécia não teve mais uma chance real de marcar. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, Ohno chutou de fora da área e quase fez um golaço por cobertura - a bola bateu no travessão e foi pra fora. Aos 14, Miyama cruzou na área, Kozue Ando se antecipou à goleira mas não acertou a bola; a arqueira sueca não conseguiu afastar e a bola sobrou para Sawa na pequena área, que só deu um toquinho de cabeça, se redimindo do erro no primeiro tempo e mandando a bola pro fundo das redes: 2x1. Cinco minutos depois, mais um lançamento de Miyama - a melhor jogadora em campo -; a goleira saiu da área e chegou antes de Ando para afastar, mas a bola sobrou nos pés de Kawasumi, que chutou por cobertura e fez um golaço: 3x1. A Suécia bem que tentou, mas não teve forças para buscar uma reação. As Nadeshiko se imporam até o final e garantiram uma histórica e incontestável presença na final do Mundial.

Na final, o Japão enfrenta os Estados Unidos, atual 1º colocado no ranking da Fifa. A partida será disputada em Frankfurt, neste domingo (17/07), às 15:45 (horário de Brasília).

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mundial Sub-17: Repetindo 2009, Brasil vence o Japão numa partida com final dramático

Quartas de Final - Japão 2x3 Brasil
03/07/2011 - Estádio Corregidora, Querétaro
15' Léo [0x1]
47' Ademilson [0x2]
59' Adryan [0x3]
76' Nakajima [1x3]
87' Hayakawa [2x3]

O Japão vinha sendo uma das surpresas da Copa do Mundo Sub-17, disputada no México. Apesar de um desempenho apenas razoável na estreia, os Jovens Samurais foram melhorando a cada partida e terminaram em primeiro lugar no grupo com Jamaica, França e Argentina, além de golear a Nova Zelândia por 6x0 nas oitavas de final com um impressionante estilo de toques curtos e posse de bola.

O Brasil estreou com uma vitória por 3x0 contra a Dinamarca, mas o desempenho não foi dos melhores. Nas partidas seguintes, o time continuou a não apresentar um bom futebol, mas ia conseguindo os resultados. Um gol aos 48 do segundo tempo garantiu o empate contra a Costa do Marfim e o primeiro lugar num grupo que também tinha a Austrália. Nas oitavas, apesar da vitória por 2x0 contra o Equador, mais uma atuação ruim levantou dúvidas se essa seleção seria capaz de superar o Japão, que voava em campo.


O Brasil ainda teve os desfalques de Lucas Piazon e Nathan, suspensos por terem levado o segundo amarelo. Léo e Guilherme entraram em seus lugares. O Japão teve todos os jogadores à disposição, mas veio com duas mudanças: Fukai voltou a ser titular como volante, enquanto Minamino foi o centroavante.

O que chamou a atenção desde o início foi a péssima condição do gramado; era possível ver várias "manchas escuras" onde praticamente não tinha grama mais. Isso atrapalhou muito as duas equipes, que erravam muitos passes e fizeram um primeiro tempo onde o futebol ficou devendo. O Japão em especial pareceu mais afetado, pois não conseguiu impor o seu toque de bola como nas partidas anteriores - ao final do jogo, a estatística mostrou "apenas" 51% de posse de bola para os Samurais. Como seus passes curtos não davam certo, eles passaram a tentar mais lançamentos, o que também não deu resultado. O Brasil tomou a iniciativa desde o início e dominou na primeira etapa, criando todas as chances de gol, além de estarem melhores fisicamente, ganhando a maioria das divididas. A superioridade brasileira se transformou em gol aos 15 minutos, quando Adryan cobrou escanteio e Léo se antecipou à marcação, cabeceando na primeira trave: 1x0.

Pouco antes do intervalo, o técnico Hirofumi Yoshitake já havia feito uma substituição: Matsumoto no lugar de Akino, o que fez Ishige cair mais pela ponta direita. Porém, o Brasil continuou melhor no segundo tempo e ampliou com apenas 2 minutos. Guilherme cruzou pela esquerda e Ademilson recebeu na entrada da área; ele teve tempo para dominar e chutar forte no canto esquerdo de Nakamura: 2x0. Foi o quinto gol do artilheiro brasileiro na competição.

Os japoneses estavam perdidos em campo, pareciam ter sofrido um "apagão mental". Enquanto isso, o Brasil jogava tudo o que ainda não tinha jogado no Mundial, continuou a pressionar e logo fez o terceiro com um golaço de Adryan, que pegou um rebote do lado esquerdo da área, driblou Kawaguchi e chutou com muita força, no alto do gol: 3x0.

Um chute de Ishige de fora da área que acertou o travessão foi a única chance que criaram os japoneses. Só nos 15 minutos finais é que apareceu sinais de um reação, com uma jogada de Nakajima e Takagi, que haviam entrado no lugar de Kida e Minamino. Em um contra-ataque rápido, Takagi foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para trás. Hayakawa correu mais que a bola e não conseguiu alcançar, mas atrás dele estava Nakajima, que concluiu bem e diminuiu: 3x1.

Charles fez uma grande defesa para evitar o segundo gol em um chute cruzado de Hayakawa, mas o goleiro brasileiro falhou aos 42 minutos, quando errou o tempo de bola numa cobrança de escanteio; na dividida de Iwanami com Marquinhos, a bola acabou batendo no travessão e sobrou para Hayakawa, que cabeceou para o gol vazio: 3x2.

Apesar da pressão japonesa no final, não deu tempo de mais nada. Venceu o time que foi melhor durante 75 minutos. Em 2009, as duas seleções já haviam se enfrentado na fase de grupos, e a geração de Neymar levou a melhor sobre a geração de Usami pelo mesmo placar. Porém, naquela ocasião ambos acabaram perdendo os jogos seguintes e foram eliminados na primeira fase.

Os japoneses, inconsolados, choraram copiosamente em campo. Enquanto isso, o Brasil comemorou a suada classificação e enfrenta na semifinal o Uruguai, que eliminou outra surpresa da Ásia, o Uzbequistão.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Mundial Sub-17: Japão goleia a Nova Zelândia e pega o Brasil nas quartas de final

Hideki Ishige fez dois gols e foi um dos destaques do Japão / Getty Images

O Japão foi um dos destaques da primeira fase da Copa do Mundo Sub-17, realizada no México. Os Jovens Samurais foram de longe a melhor seleção do grupo que tinha Jamaica, França e Argentina e se classificaram em primeiro lugar. O time do técnico Hirofumi Yoshitake chegou a ser comparado com o Barcelona (a exemplo da seleção feminina e também da seleção principal, que já foi chamada de "Barcelona da Ásia"), pelo seu estilo de jogo que prioriza a posse de bola e os toques curtos, dominando o jogo e envolvendo o adversário.

Apesar das comparações com o Barcelona, não existe um "Messi" nesse time do Japão. Antes do Mundial, esperava-se muito do atacante Takumi Minamino, mas ele foi titular em apenas uma partida e, apesar de alguns bons momentos, não se firmou como a referência no ataque. O destaque do time é o coletivo e o elenco. Não só pelo entrosamento, quanto também por ter vários jogadores versáteis que atuam em mais de uma posição. Não existem onze titulares definidos (especialmente do meio pra frente) e pelo menos 15 jogadores mostraram-se bons o bastante para começar jogando. A partida contra a Nova Zelândia pelas oitavas de final foi o melhor exemplo do bom futebol que esse time é capaz de jogar.

Oitavas de Final - Japão 6x0 Nova Zelândia
29/06/2011 - Estádio Universitário, Monterrey

Mais uma escalação cheia de mudanças no Japão: Takuya Kida foi o 
volante, enquanto Masaya Matsumoto começou como centroavante

Com mais uma escalação diferente - possivelmente poupando o volante Kazuki Fukai, que já tinha amarelo -, o Japão entrou em campo com boas possibilidades contra a Nova Zelândia, que se classificou como o melhor terceiro colocado depois de um inusitado sorteio: os neozelandeses empataram em todos os critérios com os Estados Unidos, que tiveram a "sorte" de passar em segundo lugar.

A seleção da Oceania prometia dificultar a vida do Japão depois de uma campanha na primeira fase que teve uma derrota para a República Tcheca (1x0), um empate com os Estados Unidos (0x0) e uma vitória contra o Uzbequistão (4x1), que foi o primeiro colocado do grupo e mais uma seleção que surpreendeu e está entre as melhores do torneio - apesar de terem perdido para a Nova Zelândia, os uzbeques fizeram ótimas partidas na sequência e já estão nas quartas de final depois de um convincente 4x0 contra a Austrália, time que deu trabalho ao Brasil.

O Japão dominou seu adversário do início ao fim em uma exibição perfeita. Apesar da partida ter começado devagar, tudo mudou quando Ishige trocou de posição com Akino e, na ponta direita do ataque, roubou a bola e cruzou muito fechado; a bola encobriu o goleiro, bateu na segunda trave e entrou: 1x0. Apenas 2 minutos depois, Mochizuki fez um lançamento preciso para Hayakawa que, dentro da área, foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para Ishige, que só tinha o gol livre à sua frente: 2x0.

O Japão pressionava e não demorou a sair o terceiro, mais uma vez com participação de Ishige, que recebeu passe de Matsumoto, invadiu a área em diagonal, limpou o zagueiro e tentou o chute, que foi bloqueado; a bola sobrou para Hayakawa que, na pequena área, não teve dificuldades em concluir. Ainda deu tempo de fazer mais um antes do intervalo: Hayakawa recebeu na grande área pelo lado esquerdo e deu só um toquinho de lado para Mochizuki, que passava em velocidade; ele cruzou para a pequena área, a bola passou pelo goleiro, Kip Colvey tentou dominar mas a bola bateu em seu pé de apoio e acabou indo pra dentro do próprio gol: 4x0.

No segundo tempo, Minamino, que tinha entrado no lugar do pendurado Mochizuki, finalmente marcou seu primeiro gol no Mundial: ele só teve que empurrar a bola para o gol vazio depois da assistência de Muroya. Em mais uma jogada rápida e bem trabalhada, Akino deixou Hayakawa na cara do gol; ele finalizou bem e fechou a goleada: 6x0. As estatísticas do jogo mostram o tamanho do domínio: além de 60% de posse de bola, foram 26 tentativas de chute a gol do Japão contra apenas 4 da Nova Zelândia.

Nas quartas de final tem Japão x Brasil, promessa de um grande jogo sem favorito. A partida será neste domingo, dia 3 de julho, às 20:00 (horário de Brasília). O Brasil não poderá contar com Lucas Piazon e Nathan, suspensos, enquanto o Japão deve vir com força total.

sábado, 25 de junho de 2011

Mundial Sub-17: Japão fica em primeiro lugar no grupo com Argentina, França e Jamaica

Os Jovens Samurais na partida contra a França / Getty Images

Em uma Copa do Mundo de categorias de base, é muito difícil fazer previsões ou apontar quem de fato vai se dar bem como profissional, devido à inconsistência de jogadores tão jovens. Porém, não deixa de ser interessante acompanhar o desenvolvimento desses atletas na tentativa de descobrir quais deles podem ser futuras estrelas de seus países. O Japão estreou no Mundial sub-17 do México de forma cautelosa, com o objetivo de conquistar uma vaguinha num grupo aparentemente complicado, com Argentina, França e Jamaica. Para a surpresa de muitos, os Jovens Samurais não só conseguiram a classificação, como também foram os melhores do grupo e uma das seleções que mais impressionou na primeira fase do Mundial. Com um toque de bola envolvente, disciplina tática e uma mentalidade de dar inveja até aos senpai das seleções olímpica e principal, o Japão é um dos destaques do torneio e tem potencial para ir longe.

Japão 1x0 Jamaica
18/06/2011 - Monterrey

O técnico Hirofumi Yoshitake arma o Japão num 4-3-3; Mochizuki começou como o único 
meia defensivo, com Nozawa e Ishige à sua frente armando o jogo, enquanto Hayakawa e 
Ryuga Suzuki, pelas pontas, tentavam criar as jogadas para o centroavante Nakajima.

A primeira partida, como é normal em estreias, foi nervosa. O jogo estava equilibrado e a Jamaica foi quem mais assustou no primeiro tempo, com um chute de longa distância que acertou a trave. Aos 16 minutos do segundo tempo saiu o gol japonês, com Masaya Matsumoto, que tinha acabado de entrar no lugar de Shoya Nakajima. O atacante trocou pesses com o lateral Sei Muroya e, na cara do gol, não desperdiçou.

O Japão ainda teve algumas chances de fazer o segundo, principalmente com o atacante Musashi Suzuki, mestiço de japonês com jamaicano, mas ele não conseguiu marcar contra seus "compatriotas". A Jamaica não conseguiu reagir e praticamente não ameaçou o gol de Kosuke Nakamura. Em uma partida com poucas chances de gol, o Japão dominou a posse de bola (61%) e controlou o jogo, mas não impressionou. Nas próximas partidas é que eles deveriam mostrar a que vieram.

Japão 1x1 França
21/06/2011 - Monterrey

O Japão com quatro alterações na segunda partida - Kawaguchi entrou na lateral direita e 
Muroya foi deslocado para a esquerda; Fukai foi o volante de contenção, deslocando Mochizuki 
para a meia direita e Ishige para a ponta direita; Kida atuou na meia esquerda e Musashi Suzuki 
começou como centroavante, apesar de ter se deslocado para as pontas no decorrer do jogo.

A França vinha com moral depois de vencer a Argentina por 3x0, e se impôs fisicamente desde o início. O primeiro gol saiu aos 23 minutos, com um chutaço de fora da área de Abdallah Yaisien, que foi quase no ângulo; o goleiro Nakamura nem chegou perto de defender. Os Bleus começaram bem, mas pararam depois do gol. O Japão foi melhorando e, mesmo com o placar desfavorável, tocava a bola com calma. No segundo tempo, os Samurais Azuis vieram dispostos a empatar e conseguiram logo aos 3 minutos, quando Ishige foi derrubado na área e o árbitro marcou pênalti. O próprio Ishige cobrou e deixou tudo igual: 1x1.

A França não resistiu ao calor mexicano e sucumbiu ao cansaço. O Japão foi melhor em toda a segunda etapa, dominou a posse de bola (62%) e criou várias jogadas de gol, mas perdeu chances incriveis na hora de finalizar. Os japoneses tocavam a bola do jeito que queriam, enquanto os franceses, exaustos, nada podiam fazer. Porém, nos últimos minutos, os nipônicos preferiram administrar a vantagem do que partir pro ataque e tentar a virada. Se jogassem com mais ousadia no final, a virada parecia certa. A França saiu no lucro com o empate.

Japão 3x1 Argentina
24/06/2011 -  Morelia

Na terceira partida, sete mudanças (algumas para poupar jogadores com cartão amarelo), 
mas ainda assim o Japão dominou a Argentina e não teve dificuldades em vencer

O Japão já veio como favorito para a última partida da fase de grupos, depois da excelente exibição contra a França, enquanto o Argentina sofreu uma derrota vexaminosa na estreia e passou sufuco para vencer a Jamaica em seguida. Os Jovens Samurais começaram com tudo e fizeram 1x0 logo aos 3 minutos de jogo. A falta de ousadia dos laterais vinha chamando a atenção nas partidas anteriores, mas o primeiro gol contra os hermanos veio justamente numa grande jogada do lateral Naoki Kawaguchi, que recebeu a bola pela direita, driblou seu marcador e chutou pro gol, meio sem força, mas o goleiro deu rebote nos pés de Daisuke Takagi, que só empurrou para o gol. Aos 19 minutos, Hiroki Akino cobrou escanteio e o zagueiro Naomichi Ueda fez de cabeça: 2x0.

No segundo tempo, tudo estava decidido quando Matias Montero recebeu cartão vermelho direto depois de um pisão na perna de um adversário caído e, pouco depois, em uma rápida cobrança de lateral, Musashi Suzuki recebeu a bola sem marcação na ponta esquerda e cruzou na área para Akino, que chutou de primeira; mais uma vez o arqueiro argentino não conseguiu segurar um chute que foi fraco e em cima dele e deixou o rebote nos pés de Akino, que não perdeu a chance de fazer 3x0.

Devido à chuva que caía em Morelia, o Japão não conseguia trocar passes com facilidade como nas partidas anteriores (teve "apenas" 50% de posse de bola), mas ainda assim era muito superior e por pouco não fez o quarto gol. Para não ficar tão feio para os argentinos, Brian Ferreira fez um golaço do meio campo que encobriu o adiantado Niekawa, definindo o placar final: 3x1.

Como a França empatou com a Jamaica (1x1) na outra partida, o Japão se classificou em primeiro lugar no Grupo B, e espera seu adversário das oitavas de final entre um dos melhores terceiros colocados. Enquanto isso, a Argentina também se garantiu na segunda fase graças aos outros resultados: na pior das hipóteses, os hermanos passam como o quarto melhor 3º colocado.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pré-Olímpico: Japão passa pelo Kuwait e se classifica para a próxima fase

O técnico Takashi Sekizuka e a seleção olímpica / Foto: Ryoichi Morimoto

Na disputa por uma das três vagas da Ásia nas Olimpíadas de Londres em 2012, a seleção japonesa começou sua participação no Pré-Olímpico enfrentando o Kuwait em duas partidas eliminatórias. Apesar de se mostrar superior durante os dois confrontos, a classificação não foi fácil, com um placar agreagado de 4x3.

Japão 3x1 Kuwait
19/06/2011 - Toyota Stadium, Nagoya

No jogo de ida, o Japão venceu por um bom placar, que poderia ter sido ainda maior, não fosse por inúmeras chances perdidas. A seleção teve o desfalque do atacante do Nagoya Grampus, Kensuke Nagai, que torceu o tornozelo no treino. Em seu lugar entrou Yuya Osako, do Kashima Antlers.

Os Samurais Azuis não tiveram dificuldades no início: aos 18 minutos, Yusuke Higa foi à linha de fundo e cruzou no meio da área para Hiroshi Kiyotake, que mergulhou para marcar de cabeça: 1x0. O zagueiro Mizuki Hamada ampliou, também de cabeça, no escanteio cobrado por Kiyotake: 2x0. No segundo tempo, Osako fez 3x0 depois de receber um passe de Ryohei Yamazaki.

Parecia que a classificação já estaria decidida na primeira partida, mas as coisas começaram a complicar quando Hiroki Sakai perdeu a bola no campo de defesa e o Kuwait aproveitou: depois que a defesa cortou um cruzamento, Al Mutairi pegou o rebote dentro da área e chutou com força pra diminuir: 3x1. Foi um erro defensivo que permitiu o gol de honra dos kuwaitianos e, a partir daí, mesmo vencendo por dois gols e jogando em casa, os japoneses passaram a jogar desesperados, dando chutões na defesa quando poderiam simplesmente tocar a bola com calma e administrar a vantagem. Essa mentalidade frágil pode se tornar um grande problema no futuro. O destaque positivo do segundo tempo foi Genki Haraguchi, que saiu do banco de reservas e quase marcou o seu: acertou um chute na trave e por pouco não fez um golaço depois de driblar três adversários: seu chute foi desviado no último instante e passou por cima do gol.


Kuwait 2x1 Japão
23/06/2011 - Mohammed Al Hamad Stadium, Hawalli

Como jogou o Japão na segunda partida: Sekizuka arma o time no 4-2-3-1; a 
única mudança com relação ao jogo de ida foi a entrada de Nagai no lugar de Osako

O jogo de volta foi mais equilibrado. O Kuwait abusava das faltas e entradas mais violentas no início, enquanto o Japão não conseguia se organizar. Apesar disso, o primeiro gol saiu aos 20 minutos, quando Sakai recebeu um lançamento em velocidade, ganhou na corrida do zagueiro e deu um toque por cobertura no goleiro: um bonito gol e 1x0 no placar.

O Kuwait precisava de pelo menos três gols para forçar uma prorrogação, e voltou disposto a atacar no segundo tempo. Logo nos primeiros minutos, veio o empate em um cruzamento na área que a defesa não conseguiu afastar; a bola sobrou dentro da área com Hamad Aman, que teve tempo de dominar, girar e bater de voleio, com força no alto do gol, sem chance para Gonda: 1x1. Aos 12 minutos veio a virada, num pênalti de Daisuke Suzuki em cima de Al Salman. O próprio Al Salman cobrou e fez 2x1.

O jogo ficou nervoso a partir daí, pois só mais um gol do Kuwait levava a partida para a prorrogação, enquanto o Japão se defendia da forma que podia. Apesar disso, foi o Japão quem teve as melhores chances de definir o resultado, mas Kiyotake e Higashi pecaram na finalização. O Kuwait parecia não ter mais forças para buscar o gol que precisava e, apesar da tensão até o último minuto, o placar não se alterou mais.

Com isso, o Japão está classificado para a próxima fase do Pré-Olímpico, que funciona da seguinte forma: os 12 países classificados serão divididos em 3 grupos com 4 times em cada um. Depois de seis rodadas, o campeão de cada grupo estará classificado para as Olimpíadas de Londres. Os três segundos colocados disputam um playoff até sobrar apenas um, que vai decidir uma vaga com um representante da África. O sorteio dos grupos será dia 7 de julho.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Japão 0x0 República Tcheca: Os três participantes dividem o título da Copa Kirin

Petr Cech garantiu o zero no placar / Foto: Ryota Yoshizawa

Um torneio curto com três participantes, onde cada um joga duas vezes. Se todos os jogos terminarem empatados com o mesmo placar, quem seria o campeão? Pois é, foi o que aconteceu na Copa Kirin 2011. O Japão empatou com o Peru em 0x0 na estreia. Em seguida os peruanos ficaram em mais um empate sem gols, agora contra os tchecos. Na última partida, disputada hoje em Yokohama, mais um 0x0, agora entre Japão e República Tcheca. Com todos os times empatados em todos os critérios, o título do torneio amistoso acabou dividido entre os três participantes. Resta saber se a taça vai ser dividida entre eles (!) ou se cada um leva uma réplica para casa.

Japão no 3-4-3 e República Tcheca no 4-4-2

Zaccheroni manteve o esquema da última partida, mas desta vez resolveu testar seu 3-4-3 com força máxima. A República Tcheca, assim como o Peru, veio para a Copa Kirin sem vários jogadores importantes, como Baros, Rosicky e Plasil.

Num primeiro tempo de poucas emoções, quem mais brilhou foi o goleiro tcheco, Petr Cech. Primeiro num tiro de meta que ele bateu; a bola quicou na frente da área e Konno não afastou, Inoha tentou tirar e errou a cabeçada, depois tentou dar um chutão e errou mais uma vez, além de colidir com Kawashima. Mas o goleiro estava esperto e segurou a bola antes que chegasse um atacante adversário. Cech também fez uma boa defesa numa cobrança de falta de Endo.

No segundo tempo, Yoshida teve a melhor chance depois que Honda cruzou, Lee dominou e jogou a bola na pequena área; livre e sem goleiro, o zagueiro não conseguiu cabecear pro gol, pareceu que foi a bola que bateu na cabeça dele e foi pra fora. Ienaga e Makino entraram no lugar de Endo e Inoha, respectivamente, mas não mudou muita coisa. Os tchecos praticamente não assustaram no ataque e a partida seguiu sem maiores chances de gol até o final.

Foi um empate onde as defesas venceram os ataques; o Japão foi melhor durante todo o jogo mas também não fez por merecer a vitória. Apesar de uma boa consistência defensiva, o teste com o 3-4-3 não teve um resultado satisfatório: em duas partidas, quase nada foi criado ofensivamente. Não que seja um esquema ruim ou ultrapassado, o Napoli da última temporada mostrou como a formação pode ser eficiente. Porém, o pouco tempo que uma seleção tem para treinar dificulta a adaptação dos jogadores, que também não usam essa formação em seus clubes. Zaccheroni já deu sinais que deve voltar para o 4-2-3-1. Os Samurais Azuis ainda têm mais um amistoso (Coreia do Sul, em agosto) antes do início das Eliminatórias.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Japão 0x0 Peru: Empate sem sal abre a Copa Kirin

Japão e Peru ficaram apenas no 0x0 no amistoso disputado em Niigata / Foto: Sanspo.com

A Copa Kirin é um torneio curto de jogos amistosos que costuma acontecer todos os anos no Japão, contando com a seleção da casa e outras convidadas. O nome Kirin, pra quem não sabe, vem da empresa cervejeira do mesmo nome, que patrocina a seleção nipônica. A competição, que antigamente tinha a participação de clubes (inclusive, Palmeiras, Internacional, Santos, Fluminense e Flamengo já foram campeões), hoje conta apenas com seleções, divididas em um grupo único com três participantes. Cada um joga duas partidas para definir o "campeão" - entre aspas mesmo, por ser uma competição de caráter amistoso. Neste ano, os convidados foram Peru e República Tcheca.

Com a participação na Copa América oficialmente cancelada, restou à seleção do Japão se concentrar na preparação para as Eliminatórias da Copa de 2014, primeiro com a Copa Kirin, e em agosto num amistoso contra a Coreia do Sul. O Peru, depois da péssima campanha nas últimas Eliminatórias, quando ficou em último lugar, vai atrás de um novo começo com o técnico uruguaio Sergio Markarián, num trabalho a longo prazo que visa a classificação para o Mundial em 2014.

Japão no 3-4-3 e Peru no 4-3-3 no início da partida

O técnico do Japão, Alberto Zaccheroni, já havia experimentado o 3-4-3, sua formação preferida, no amistoso beneficente disputado em março contra uma seleção da J-League. Naquela ocasião, o inusitado esquema havia funcionado enquanto os titulares estavam em campo, com o time dominando e vencendo por 2x0 na primeira etapa. No segundo tempo, entraram os reservas e o entrosamento e o desempenho deixaram a desejar. É claro que não dá pra levar muito em consideração uma partida que nem é oficial, mas no amistoso contra o Peru o que se viu foi uma situação parecida.

Com vários jogadores sendo testados, a falta de entrosamento ficou evidente, assim como um dos grandes problemas do 3-4-3: a falta de um armador no meio-campo. Jogando com dois volantes, dois alas, dois atacantes abertos e um centroavante, fica um "buraco" no meio, o espaço onde normalmente atua o meia de criação. Os volantes japoneses sabem sair jogando, o que teoricamente ajudaria a diminuir esse problema, assim como uma movimentação constante dos homens de frente. Porém, o time esteve apático e praticamente não teve uma boa chance de gol no primeiro tempo. Quem mais assustou foi o Peru, em um chute de longe de Balbín que Kawashima mandou pra escanteio.

O Peru também não jogou com força máxima; entre os desfalques, o maior deles provavelmente é Paolo Guerrero, atacante do Hamburgo que, lesionado, deve ficar de fora até da Copa América. No 4-3-3 peruano, a grande esperança de gols é Jefferson Farfán, destaque do Schalke 04 na última temporada e que normalmente joga aberto pela direita em seu clube, mas hoje foi a referência no ataque, centralizado. O jovem Christian Cueva, de 19 anos, veio da sub-20 pra fazer sua primeira partida na seleção principal. No meio-campo jogou também um conhecido dos corinthianos, o meia Luis Ramírez.

Como estavam as formações aos 30 minutos do segundo tempo, depois das alterações 
realizadas: o Peru manteve o 4-3-3 enquanto o Japão mudou para o 4-2-3-1

Percebendo que seu 3-4-3 não estava dando certo, Zaccheroni trocou Nishi por Honda no intervalo e mudou a formação para um 4-2-3-1. O Japão melhorou e passou a atacar mais; Honda levou muito perigo em uma cobrança de falta na entrada da área. No decorrer do segundo tempo, muitas mudanças foram feitas nas duas equipes, e o Japão continuava com dificuldades na criação. Honda mais uma chegou perto, agora em um chute de fora da área. A melhor chance foi quando Nagatomo cruzou, Lee ajeitou para trás e Okazaki, livre, tentou um chute de voleio mas pegou muito mal na bola. O Peru se aproveitou da pouca inspiração dos japoneses e pressionou no final do jogo. Ruidiaz e Ramírez acertaram a trave e Kawashima teve muito trabalho para manter o zero no placar. Já nos acréscimos, mais uma falta perigosa para o Japão. Desta vez quem bateu foi Endo; a bola passou perto, mas foi pra fora.

Foi um jogo decepcionante para o torcedor japonês, que esperava por uma vitória. Mas quem mereceu ganhar foi o Peru, que jogou melhor e por pouco não marcou nos últimos minutos. Por ser fora de casa, o resultado que pode ser considerado bom para os peruanos, que enfrentam a República Tcheca dia 4 de junho. Para o Japão, ficou claro que o "experimento" de Zaccheroni não deu certo, resta ver se o time vai voltar ao 4-2-3-1 e com força máxima contra os tchecos, dia 7 de junho em Yokohama.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Entrevista: Wagner Lopes - Parte 2/2

Voltar para a Parte 1

Como foi pra você quando te chamaram pra seleção?
Putz, foi uma alegria muito grande, porque foi um país que me deu tanto... Não falando materialmente, nunca fui materialista. É claro que todo mundo gosta de conforto e de dinheiro, mas eu pensava assim: "Um país que me ensinou tanto, que me deu uma nova cultura, que me fez um homem melhor... Se eu jogar pela seleção japonesa, vou poder retribuir. Vou poder fazer o ongaeshi, que é devolver um pouco de tudo o que eu recebi." Como? Representando bem a seleção, classificando-a para uma Copa do Mundo. Então a minha forma de retribuir todo o carinho, tudo o que o país tinha me dado em termos de oportunidade, em termos de aprendizado, era ajudando a classificar a seleção para a Copa do Mundo pela primeira vez. E graças a Deus eu fui abençoado com isso, sabe? De me naturalizar, de ajudar nas Eliminatórias e conseguir a classificação. Foi a maior glória pra mim no futebol.

Wagner atuando pelo Nagoya Grampus

Sua estreia na seleção foi contra a Coreia do Sul em 1997, pelas Eliminatórias. O Japão perdeu por 2x1 em casa com o estádio lotado. Vocês ganhavam por 1x0, até que o técnico te substituiu por um zagueiro e a Coreia virou nos últimos minutos. Como foi aquela derrota pra vocês?
Foi uma tristeza muito grande. Mas se você tiver a oportunidade de ver as imagens, é emocionante. Porque no Japão eles anunciavam um por um a entrada dos jogadores, e eu fiquei por último. Toda a torcida estava esperando se eu ia jogar ou não, se eu ia ficar no banco ou não. Quando anunciou "Wagner Lopes Nº 30", o estádio veio abaixo. Eles pegaram papel picado e o estádio inteiro jogou pra cima. A minha mãe, minha sogra e minha esposa estavam no estádio com os meus filhos. Elas choraram copiosamente, falaram que nunca viveram uma emoção tão grande. Eu tenho essas imagens em casa, e nas minhas palestras, normalmente para empresas japonesas, eu mostro um pouco do que foi a minha vida profissional lá. E é muito bonito, é muito gratificante ver a reação da torcida japonesa quando o meu nome é anunciado.

Depois dessa partida, a seleção passou por um momento difícil, com três empates e uma troca de técnico (Shu Kamo saiu e entrou Takeshi Okada). Até que veio o jogo contra a Coreia do Sul em Seul e você fez o gol da vitória.
Foi. Dei a assistência do primeiro gol, ganhamos de 2x0, fui escolhido o melhor em campo... E o Japão, se não me engano, fazia 11 anos que não vencia a Coreia. E nunca havia vencido na Coreia. Então foi histórico, foi uma festa. E nesse dia eu joguei muito bem. Eu me lembro que o Narahashi cruzou uma bola na área e eu quase fiz o gol de bicicleta, o goleiro deu um tapa pra cima... Não, acho que ele pegou a bola, foi no meio do gol. Mas foi uma experiência muito grande. E eu estava com minha mãe desenganada com câncer. Uma semana após esse jogo nós fomos pra Malásia, acho que em Johor Bahru, nós íamos jogar contra o Irã no mata-mata. Se empatasse ia pro gol de ouro, se empatasse na prorrogação ia pros pênaltis. E eu peguei uma gripe porque estava nevando naquele dia na Coreia, estava -2 graus. Fiquei uma semana de cama, emagreci cinco quilos. Eu me recuperei a tempo e viajei pra Malásia, nós íamos jogar no dia 15; no dia 13 eu recebi a notícia de que a minha mãe tinha falecido. Todo mundo ficou apreensivo que eu largasse o barco e fosse embora pra enterrar a minha mãe. E aí eu tomei uma decisão muito difícil, eu não voltei pro Brasil pro enterro da minha mãe pra poder ficar com a seleção até o fim para ir pra Copa do Mundo. Essa foi a decisão mais difícil da minha vida. Eu falei pro treinador: "Okada-san, eu vou até o fim. Se você precisar de mim por 30 segundos, eu vou te ajudar o máximo que eu puder. Todas as minhas forças eu vou fazer pra classificar a seleção japonesa." E aí nós estávamos perdendo de 2x1. O Okada-san tirou o Nakayama e o Kazu e colocou eu e o Jo, dois atacantes. Nós empatamos e viramos o jogo. E classificamos no gol de ouro, gol do Oka-chan [Masayuki Okano], ponta direita veloz. Foi uma festa, o país parou pra receber a gente em Narita, foi sensacional.

O Japão conseguiu de forma dramática sua primeira classificação pra uma Copa do Mundo

Participar da Copa do Mundo, então...
Foi o maior presente que Deus me deu. Eu não tenho palavras pra poder expressar pra você o orgulho de poder representar o Japão em uma Copa do Mundo. Foi um orgulho muito grande. Quando fomos ao Palácio Imperial falar com o Imperador para ele abençoar a nossa ida, o príncipe veio, cumprimentou todo mundo... E a pena é que não é permitido fotografar o Imperador. Mas o príncipe herdeiro na época tirou foto com todo mundo, ele foi pra Aix-les-Bains com a gente fazer a pré-temporada, foi uma oportunidade que talvez um outro ser humano não tenha, essa honra de ser recebido pelo Imperador.

Nessa Copa do Mundo, existe alguma explicação para o Kazu não ter sido convocado?
Eu tenho. É uma opinião minha. O Kazu é meu amigo, é um excelente jogador, é um ícone, né? Tanto é que ele é chamado de "King Kazu". Mas eu enxergo que no futebol existe uma hierarquia. E o Kazu estava há quase dez anos na seleção. Ele é um dos maiores jogadores da história do Japão na minha visão, talvez o maior. Mas ele tinha, dentro da seleção, alguns hábitos errados. Por exemplo, ele tinha um massagista só pra ele, ele queria aquecer de forma diferente... O treinador falava e ele meio que "Não, eu faço do jeito que eu quiser". O Okada-san é uma pessoa muito boa, mas muito rígida. Na época que o Okada-san era auxiliar, eu tenho a impressão de que tiveram algum atrito de ordem disciplinar. Acredito eu, não tenho confirmação nenhuma, é pelo que eu vi. Eu acredito que a federação queria acabar com aqueles hábitos ruins do Kazu. Por exemplo, se eu quisesse fazer massagem, e tivesse o massagista lá sem fazer nada, eu não podia pedir pro cara fazer uma massagem em mim. Porque ele era exclusivo do Kazu, ele ficava à disposição do cara. E os outros jogadores... Enquanto o Kazu fez gol e jogou bem, todo mundo aceitou. Quando entrou na fase ruim, que foi justamente na época do corte...

Ele fez alguns jogos ruins e o pessoal já...
Muito ruins. Tecnicamente ele estava muito mal, nos treinos também não estava bem e aí o Okada-san teve coragem de levar os que estavam melhores na época. E isso é o trabalho do treinador. Ele não tem que convocar o cara pelo nome. Ele tem que convocar os melhores do momento, e no momento o Kazu não estava bem. Essa é a minha opinião.

E foi na Copa América de 1999 que você encerrou sua participação na seleção.
É, na seleção, em jogos oficiais, foi em 1999. Mas depois eu ainda participei em 2000 e 2001 também, mas assim, convocava 25 e eu fui cortado as duas vezes, não cheguei a ir pro jogo. Então nem consta no boletim da partida porque às vezes convocava 30 e só ia 22, e os outros 8 eram cortados, então não tive participação mais, porque eles queriam renovar a seleção, colocar jogadores jovens, enfim...

E agora, o Japão deve participar novamente da Copa América. O que você espera da seleção?
Eu acho que é uma boa oportunidade para dar mais experiência aos mais jovens. A pressão de Copa América, a pressão de jogar aqui na América do Sul... São poucas as chances que a seleção japonesa tem de jogar contra o estilo sul-americano. Eles jogam mais contra os europeus, contra as seleções da Ásia, até da África, mas da América do Sul são poucas as oportunidades, então quanto mais a escola sul-americana jogar com o Japão, melhor para o Japão, acho que adquire mais experiência, mais vivência dentro de competições de alto nível.

E como você avalia a evolução da seleção japonesa? Você acha que para a próxima Copa do Mundo, por exemplo, eles podem ter a expectativa de uma grande participação?
Eu acho que a mudança de trabalho na seleção é muito difícil. Por quê? Nós tínhamos um técnico brasileiro em 2006, o Zico; aí tentou um iugoslavo, voltou a ter um japonês, o Okada-san em 2010; e agora um técnico italiano. Toda mudança precisa de um tempo de amadurecimento, de maturação. Eu entendo que o japonês evoluiu muito, tem uma safra de jovens jogadores muito boa. Mas o que eu sempre bato na tecla é o seguinte: esses que estão jogando lá fora, nas competições de alto nível e estão se destacando, ao juntarem com a seleção, o interesse tem que ser o mesmo: Jibun no tame ni yaru janakute, jibun no kuni no tame ni ganbatte morau (jogar pelo país, não jogar por si). Jogar pelo orgulho de defender as cores do país, e não jogar pra se destacar, pra ir pra um contrato melhor, pra um clube melhor. Acho que uma coisa leva a outra. Então se todos se unirem com essa mentalidade, se todos falarem "Eu vou fazer o meu melhor para o meu país ser respeitado mundialmente", não pensando só no contrato de publicidade, é uma coisa natural, vai acontecer. A federação dando todo o suporte, dando toda a calma para que essa nova comissão faça o trabalho necessário, principalmente o trabalho motivacional... Na minha cabeça, o grande problema do Japão é a falta de confiança. O dia que o japonês tiver confiança, disciplinados do jeito que eles são, além de serem bons tecnicamente, eu acho que o Japão vai ser uma grande surpresa no cenário mundial do futebol.

O Ruy Ramos disse em uma entrevista que se jogasse Brasil x Japão, ele era 100% Japão. E você?
Eu sou 200% Japão (risos). E você sabe por quê? Porque o Brasil já ganhou cinco Copas do Mundo, entendeu? Imagina se o Japão ganhar uma, a alegria que vai ser. Eu adoro o Brasil, eu adoro o Japão. Só que vai ser muito mais divertido pro futebol se o Japão ganhar a primeira do que se o Brasil ganhar a sexta. Eu sei que se o Brasil ganhar vai ser uma alegria pro povo brasileiro, mas eu acho que o povo japonês é muito sofrido também. Com tudo que aconteceu lá; as guerras, as bombas atômicas, agora esse tsunami, esses terremotos... Eu acho que, esportivamente, se o Japão tivesse uma grande conquista, não só ganhar a Copa da Ásia como ganhou a quarta agora, mas numa Copa do Mundo no Brasil, o Japão sendo campeão, acho que seria uma alegria muito grande pro povo. Então, eu torço pro Brasil também, mas não quando joga contra o Japão. E não é pra fazer média não, eu falo isso para os outros jornalistas brasileiros também (risos).

Qual foi a partida mais memorável de toda a sua carreira?
Putz, eu tive tantas alegrias, cara... Mas acho que foi a minha estreia, contra a Coreia do Sul.


E o gol mais bonito?
Eu acho que foi um gol que tem no You Tube [veja abaixo], contra os Emirados Árabes. Chutei de fora da área, ela fez a curva, bateu na trave e entrou. Era 26 de outubro, aniversário da minha esposa. E eu nunca prometi gol pra ninguém na minha vida. Mas nesse dia eu prometi pra ela: "Eu vou fazer um gol pra você. Hoje é seu aniversário, seu presente vai ser um gol com o Kokuritsu lotado." 56.000 pessoas era a lotação, acho que tinha 60.000. Três minutos de jogo, o Kazu passou uma bola no meio-campo. Ela tava dividida, eu dei o boné no cara, dei um tapa pra frente, quando ela quicou, eu peguei de voleio, ela fez a curva... Meu, sabe a sensação, assim... Que o país veio abaixo? Os torcedores enlouqueceram, foi muito bonito, muito lindo. Marcante pra mim. Pena que o jogo empatou, depois nós tomamos o gol, bola parada, uma desatenção. Mas até hoje, às vezes eu sonho com esse gol.


Para finalizar, o que você planeja para a sua carreira no futuro?
O que eu planejo para a minha carreira no futuro? Eu não tinha planos de voltar a morar no Brasil. Mas eu contava as histórias para os meus filhos, nadando em riacho aqui no Brasil, nadando nas lagoas, andando a cavalo, subindo na árvore de jabuticaba pra chupar a fruta, e os meus filhos sempre falavam: "Pai, eu quero fazer isso também, me leva pra morar no Brasil." Aí eu prometi para os meus filhos que quando eu parasse de jogar eu os traria pra morar no Brasil. Eu voltei em 2003, mas a ideia era ficar dois anos, o tempo que demorasse a minha pós-graduação de Sport Business, depois a gente voltaria a morar no Japão. Eu amo de paixão o Japão, sei que o país está vivendo um momento difícil agora. Se eu tivesse um trabalho no Japão hoje, mesmo pra não ganhar nada, eu gostaria de voltar pra ajudar a reconstruir o país. Então a minha meta de vida hoje é fazer um bom trabalho aqui como treinador pra ter uma oportunidade de voltar a trabalhar no Japão e poder ajudar a reconstruir o que foi perdido nesse tsunami.

Wagner e eu no campo do Estádio Jayme Cintra, em Jundiaí

Agradeço ao Wagnes Lopes por ter gentilmente me recebido no centro de treinamento do Paulista, em Jundiaí. Muito obrigado também ao Ivan Gottardo, do blog Fanático pelo Paulista, e ao Gabriel Goto, assessor do clube, que colaboraram para que essa entrevista fosse possível.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Entrevista: Wagner Lopes - Parte 1/2

Nascido em 1969, o paulista Wagner Augusto Lopes saiu do São Paulo para jogar no Japão em 1987, quando tinha apenas 18 anos. Lá ele se casou, teve filhos, aprendeu o idioma e se tornou um verdadeiro cidadão japonês. Jogou no Nissan (atual Yokohama Marinos), Hitachi (atual Kashiwa Reysol), Honda FC, Bellmare Hiratsuka (atual Shonan Bellmare), Nagoya Grampus, Tokyo FC e se aposentou no Avispa Fukuoka em 2002. Defendeu a seleção nipônica entre 1997 e 1999, voltou ao Brasil em 2003 e hoje é treinador do Paulista de Jundiaí.

Wagner Lopes no álbum de figurinhas da Copa de 1998

Tiago Bontempo: Como surgiu a oportunidade de jogar no Japão?
Wagner Lopes: Eu já era profissional no São Paulo Futebol Clube. Aliás, toda minha carreira no Brasil, do infantil ao profissional, foi no São Paulo. E eu jogava com o Oscar Bernardi, que foi capitão da seleção brasileira na Copa de 1982. Ele tem experiência em três Copas do Mundo, é um ídolo nacional. Nós jogamos juntos em 1985, 86 e 87 no São Paulo. A gente era muito amigo, ele era uma espécie de "protetor" meu lá. E ele foi convidado pra jogar no Japão em 1987. O treinador da Nissan na época - o Kamo Shu-san, que mais tarde foi técnico da seleção - perguntou pro Oscar se ele não tinha um jovem talento pra indicar pra vir com ele pro Japão. E aí ele me fez o convite: "Wagner, eu vou jogar na Nissan, um time de uma fábrica de automóveis. Você não quer vir comigo?" Na hora eu aceitei e falei: "Oscar, se você pular do décimo andar eu pulo atrás porque eu sei que é coisa boa." Eu tinha uma curiosidade muito grande com a cultura japonesa. Eu gosto muito de ler. Quando tinha 15 pra 16 anos, eu li a biografia do Akio Morita, que é o fundador da Sony. Procure esse livro porque é sensacional pra quem gosta da cultura japonesa. Quando li, eu fiquei apaixonado. E eu gosto muito de histórias de samurai, achava que quando chegasse no Japão, ainda ia achar lá no interiorzão algum maluco que se vestisse de samurai. E assim apareceu a oportunidade, eu falei: "Japão, país da tecnologia..." Fui pra ficar duas, três temporadas; só que a identificação foi tão grande que acabei ficando 17 anos.

Você tinha 18 anos quando foi pra lá, mas não tinha dúvidas que era isso que você queria.
Não, não tinha dúvidas.

Como foi a sua adaptação?
A adaptação foi bem complicada, porque não tinha restaurante brasileiro, não tinha a Globo Internacional, a Record Internacional, não tinha tv a cabo, internet... Você ficava em outro mundo mesmo. E o idioma muito diferente, a cultura muito diferente, o futebol totalmente diferente... Pra você ter uma ideia, os jogadores trabalhavam de manhã na fábrica da Nissan e à tarde nós treinávamos. Só tinha três profissionais: Eu, o Oscar e o Kimura Kazushi, que era o astro, o ídolo do nosso time e da seleção japonesa e hoje é treinador do Yokohama Marinos. Então eu tive muita dificuldade no começo por conta da comunicação, por conta de não falar o japonês. Eu falei: "Eu preciso aprender esse idioma, eu preciso falar." Então, por exemplo, na parte da manhã eu acordava, tomava café às 7 horas e estudava até meio-dia. Aí ia pro treino, que era às 2 da tarde, treinava até as 5, 6 horas, voltava pra concentração e estudava de novo das 8 até as 11. Eu vivia pra jogar bola e estudar.

Isso é interessante porque muitos jogadores e técnicos que vão pra lá não se preocupam em aprender o idioma, estão sempre com o intérprete do lado...
Isso é um grande erro.

Mas você decidiu estudar e aprender.
Eu me sentia muito mal em não conseguir falar o que eu pensava. Não conseguia me comunicar com os companheiros, não conseguia me comunicar no trem, quando ia fazer compras, então pra mim era uma questão de honra falar o idioma. Eu joguei no São Paulo com alguns jogadores que me ajudaram muito nesse sentido. O Falcão, que hoje é treinador do Inter de Porto Alegre, falava pra mim: "Wagner, em Roma como os romanos. Você tem que viver no país como uma pessoa de lá. Você não pode fazer da Itália uma extensão do Brasil. A cultura lá é outra, o idioma é outro; você tem que viver naquele país de acordo com as regras sociais, de acordo com a cultura, com o idioma do país." Então, essa experiência de jogar com atletas que tiveram a oportunidade de jogar fora do Brasil me ajudou muito. Eu já fui pra lá orientado e sabendo exatamente como me comportar. Por exemplo, o Darío Pereyra, uruguaio, vivia no Brasil, e ele gostava muito de mim. Inclusive a minha primeira chuteira importada foi ele quem me deu. E o Darío falava: "Wagner, se eu fosse fazer aqui no Brasil o que a gente faz lá no Uruguai, não ia dar certo. Eu tenho que viver aqui de acordo com as regras daqui." Então isso me ajudou muito. Aprender o idioma, a cultura, respeitar as diferenças... Isso é fundamental pra você conseguir se adaptar em qualquer país.

Só de eles verem que você está aprendendo, está estudando, você já é mais respeitado.
Eles já te tratam com um respeito diferente.

A seleção do Japão em um amistoso em 1998 contra o Egito, em Osaka - em pé, da esquerda pra direita: Nakayama, Lopes, Soma, Saito, Kawaguchi; agachados: Nanami, Oku, Mochizuki, Akita, Nakata e Ihara.

Quando você foi para o Japão, ainda não tinha a liga profissional.
Era amadora a liga.

Quando foi a primeira vez que você ouvir falar da J-League, que estavam criando uma liga profissional?
Eu fui pra lá em 1987. A melhor posição que o Nissan já tinha conquistado foi um quinto lugar. Aí nós fomos campeões da tríplice coroa: A Copa de Verão (JSL Cup), a Tennouhai (Copa do Imperador) e a Nihon League (Liga Japonesa). Em 1989 nós ficamos sabendo de um movimento na federação que estaria preparando um campeonato profissional. Com a ida do Oscar, do Milton Cruz, do Zé Sérgio... Esses jogadores começaram a motivar o público a ir ver futebol, não só beisebol, não só sumô, não só vôlei, enfim... A chegada de grandes astros do futebol mundial começou a atrair a atenção. Aí veio 1990, 1991, 1992... Foi em 1993 que deram o "start" na J-League. Mas no meio do ano em 1992 já tinham os dez times que levantaram a mão e se prepararam. Eram sete itens para conseguir uma vaga na J-League. A federação exigia ter um estádio de pelo menos 15.000 lugares, contratar três jogadores de renome internacional, ter mais ou menos 10 milhões de dólares pra poder investir no time profissional, itens assim. Aí depois de dez times passou pra doze, depois catorze, dezesseis, e agora são dezoito times. Foi uma transição muito trabalhosa, muito lenta, não foi de uma hora pra outra. A fase de elaboração da J-League foi de 1989 até 1993.

O time que você estava na época do início da J-League, o Hitachi, teoricamente tinha sido promovido mas não jogou a primeira divisão...
Ele demorou pra levantar a mão. Demorou pra preparar o estádio, aí acabou indo pra segunda divisão. Eu estava quando nós fomos vice-campeões e subimos pra primeira divisão. Eu, Careca, Nelsinho, Régis e Aílton éramos os cinco estrangeiros que estavam no time profissional. Foi uma festa muito grande em Kashiwa. Meu filho mais velho é nascido lá. Então foi muito bacana essa época de transição do Nihon Sakka para a J-League.

E você estreou na J-League quando estava no Bellmare.
Eu estava no Bellmare, isso.

Wagner fez 48 gols durante as duas temporadas em que jogou pelo Bellmare Hiratsuka

Como foi poder finalmente participar da liga?
Depois de dez anos no futebol japonês, ter sempre passado perto e não ter a oportunidade de jogar era uma frustração... "Todo ano eu faço gols, todo ano eu sou um dos artilheiros da liga, mas não tive a oportunidade ainda de jogar na J-League." Isso dava uma tristeza grande. Mas eu acho que tudo na vida tem a hora certa. Então, com muita força, com muita determinação, com muito trabalho... Chegou uma hora que eu tinha dez propostas, todos os times me queriam. Isso foi motivo de muito orgulho, porque depois de tanta dedicação eu consegui colher o que eu queria.

É verdade que existe ou existiu a tendência do torcedor gostar mais dos jogadores do que do próprio time? Por exemplo, se o ídolo de um time se transferia de clube, os torcedores iam junto com ele.
Aconteceu muito isso comigo. Em todos os times que fui, os torcedores de onde eu já tinha jogado vinham torcer para o meu time. Eles compravam o nenkan tiketto (ingresso anual), lá eles falam "comprar o boleto", aí você estava garantido em todos os jogos em casa. Então eu tenho muitos amigos graças a isso. Não só durante os jogos eu fazia o meu melhor, mas no treinamento dava autógrafo, conversava com os torcedores, tirava fotografia, dava uma atenção mais especial. Isso fazia com que houvesse uma identificação e esses torcedores às vezes viajavam 1000 quilômetros pra ir torcer pelo meu time. Então isso é um motivo de orgulho também, sabe?

Tem alguma outra característica do torcedor japonês que é bem diferente do brasileiro?
Tem. Eu sempre dei muita atenção para o torcedor, porque ele paga o ingresso pra ir ver você jogar, então indiretamente ele paga o seu salário. Às vezes eu estava com a minha família na Disney ou em um restaurante e em 17 anos nunca nenhum torcedor chegou pra mim desrespeitosamente. Eles não vinham falar comigo. Eles iam falar com o maitre ou o garçom do restaurante, perguntar antecipadamente, se depois da minha refeição, se eu poderia autografar, se eu poderia tirar uma fotografia; e eu sempre falava: "Não, fala pra ele vir agora, eu paro de comer, fala pra ele vir agora." Então isso aproximava muito o torcedor de mim. Porque não importava se eu estava cansado, se eu estava triste, se eu estava feliz, se eu estava em um momento privativo com a minha família; eu parava pra atender os torcedores que gostavam de mim. Porque era por causa daquelas pessoas que eu tinha conseguido vivenciar aquilo tudo. Então sempre fiz muita questão, dei muita atenção pros meus torcedores nos clubes que eu joguei. E sempre foi assim: onde eu ia, sempre alguém vinha conversar, bater papo, falar "Eu tô torcendo" e tal. Isso é a melhor motivação que existe pra mim.

E quando foi que você decidiu se naturalizar?
Em 1992, quando o meu filho nasceu, em Kashiwa. E foi tão emocionante, porque eu tinha 23 pra 24 anos, era muito jovem ainda. Quando peguei ele no colo eu senti um orgulho danado de estar vivendo naquele país, de ter aprendido tantas coisas... E na minha cabeça - eu não tinha essa informação das leis -, eu não sabia que teria que levá-lo na embaixada brasileira pra registrá-lo como brasileiro. Eu achava que o meu filho fosse ganhar o passaporte japonês. No Japão é assim: se você for morar lá e o seu filho nascer lá, ele é brasileiro. E é um dos poucos países no mundo que é assim. Pro seu filho ter o passaporte japonês, o pai tem que ser nascido lá, tem que ser japonês. Então, quando peguei meu filho no colo, eu falei: "Você é japonês, você nasceu no Japão. Se eu me naturalizar... Eu gosto tanto deste país, nós vamos ficar aqui o resto da vida." Essa era a ideia. A primeira vez que pensei nisso foi quando peguei meu filho nos braços. E é engraçado porque ele era desse tamanho [mostra o braço da altura do cotovelo até a mão], pus ele assim [nos braços] e fiquei pensando e conversando com ele.

É bom deixar claro que você não se naturalizou pra jogar na seleção, né?
Não, não. Eu me naturalizei por amar o país. Por me identificar com a cultura, por respeitar a forma de pensar, a educação do povo japonês... Sendo bem sincero, eu achava que tinha jogadores muito melhores do que eu pra servir a seleção. Eu não pensava que o treinador fosse me levar pra uma Copa do Mundo. A minha intenção era ficar no Japão com meus dois filhos nascidos lá - o primeiro em Kashiwa e o outro em Hamamatsu -, e naquela época só podia ter três estrangeiros. Se eu me naturalizasse japonês, ia abrir mais uma vaga para o meu time ser forte pra ser campeão. Então, profissionalmente era bom, mas em nenhum momento alguém da federação me convidou pra jogar antes da naturalização, ninguém falou assim: "Se naturaliza que você vai jogar." Muito pelo contrário, não teve nada. Tanto é que eu comecei a naturalização em 1992 e só consegui em 1997. Se é outro já desistia, né?

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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Japão na Copa América: Participar ou não participar?


Depois do terremoto seguido de tsunami que devastou o nordeste do Japão em 11 de março, começaram a ser levantadas dúvidas quanto à participação da seleção nipônica na Copa América, que acontecerá em julho na Argentina. No início, a federação japonesa (JFA) havia confirmado sua participação, mas toda a imprensa deu como certa a sua desistência depois que Junji Ogura, presidente da JFA, veio pessoalmente à América do Sul explicar a situação de seu país à Conmebol.

Depois disso, quando todos já estavam pensando quem ficaria com a vaga em aberto, surpreendentemente o comitê organizador pediu que o Japão reconsiderasse sua decisão e participasse do torneio. Ogura solicitou mais 10 dias para dar uma resposta e a decisão final deve ser anunciada dia 15 de abril.

Em meio a toda essa novela, fica a questão: O Japão deveria ou não participar da Copa América? Relevando o fato de que o país não faz parte da América - afinal de contas, se o nome do torneio fosse fiel aos times que participam, deveria chamar Copa América do Sul -, o atual campeão da Ásia tem condições de fazer uma boa campanha, mas seus problemas internos gerados pelo recente desastre natural é o que complica toda a situação.

O maior impasse é quanto à realização das rodadas atrasadas da J-League, paralisada desde 12 de março e que deve retornar apenas em 23 de abril. As cinco rodadas suspensas seriam realizadas em julho, no único período livre do calendário japonês, mas é justamente nesse mês que acontece a Copa América, e os clubes não estão dispostos a liberarem seus melhores jogadores para a seleção.

Cogitou-se levar apenas aqueles que atuam na Europa (e que estariam de férias em julho) e alguns jovens da seleção olímpica para completar o elenco. É bem verdade que os titulares da seleção principal que atuam na J-League são apenas o volante Endo e possivelmente o zagueiro Tulio e - pelo menos na cabeça do técnico Zaccheroni - o atacante Maeda. Apesar disso, mandar um time que não seja força máxima pode não ser a melhor opção.

Para alguns, na impossibilidade de jogar com força total, o melhor seria não participar e concentrar os esforços na recuperação e na reorganização do país para que tudo volte ao normal. Além disso, um novo convite para jogar a competição em 2015 - que será no Brasil - seria muito provável.

É claro que vai ser preciso boa vontade de ambas as partes - clubes e JFA - para que a situação se resolva da melhor maneira. Assim como a Conmebol mostrou bom senso ao entender a situação do Japão e insistir para que participassem, talvez os clubes pudessem liberar seus atletas para que a seleção mais forte possível vá para a Argentina em julho. Afinal de contas, perder um ou dois jogadores durante cinco jogos não é o fim de mundo para nenhum time - além disso, o objetivo da J-League não é fortalecer o futebol nacional?

terça-feira, 29 de março de 2011

Japão contra J-League: Amistoso beneficente ajuda as vítimas da tragédia

A bandeira assinada pelos jogadores / Foto: J.League Photos

Depois de passar pelo pior desastre natural da história do país, milhares de japoneses sofrem com a perda de parentes e amigos, enquanto centenas de mlhares perderam suas casas e precisam recomeçar tudo do zero. Nesse contexto, uma partida de futebol ou o cancelamento dos amistosos da seleção e das rodadas da J-League até abril parece algo insignificante. Para quem perdeu tudo o que tinha e depende da ajuda dos outros para reconstruir a vida, pode não ser o melhor momento para se falar de esporte ou diversão.

Porém, em prol dessas pessoas, o mundo todo se comoveu e ajudou de alguma forma. O esporte mostrou que ainda pode contribuir para aqueles que mais precisam: em um jogo beneficente realizado em Osaka, a seleção japonesa enfrentou um combinado da J-League, batizado de "Team as One" - um nome que representou a solidariedade e a determinação da liga, dos clubes, dos atletas e torcedores que, agindo juntos como um só, por um ideal maior, lutam em prol de reerguer o país, usando o futebol como ferramenta.

A partida aconteceu no Nagai Stadium, para um público de 40.613 expectadores, com um clima de emoção e otimismo incríveis. Em todo lugar haviam mensagens de incentivo para o país e também para os times mais afetados pelo desastre, como o Vegalta Sendai. Frases como "Ganbarou, Nippon" (Força, Japão) e "You will never walk alone" (Você nunca caminhará sozinho) tornaram-se o tema deste amistoso. Uma comovente demonstração de força e vontade de reconstruir o país dos japoneses.

Silêncio em memória das vítimas antes da partida / Foto: J.League Photos

O sérvio Dragan Stojkovic, atual campeão com o Nagoya Grampus, foi o técnico da seleção da J-League. Ele chamou 20 jogadores representando 14 clubes diferentes, formando um time com vários atletas experientes - muitos que já foram estrelas da seleção japonesa - e tambem algumas promessas. Entre tantas estrelas, uma delas era Kazu, que mesmo aos 44 anos está firme e forte no Yokohama FC da segunda divisão e recebeu essa merecida homenagem ao ser chamado por Stojkovic. Não se sabe ao certo se o uniforme amarelo e azul do time da J-League foi mais uma homenagem ao Vegalta Sendai, que teve o centro de treinamento arrasado pelo tsunami, ou foi uma referência às cores da bandeira do Fair Play. De qualquer forma, representando o time de Sendai, estavam lá os meias Sekiguchi e Yong-Gi. Confira a relação do time da J-League:

J-League Team as One

Goleiros
Yoshikatsu Kawaguchi (Júbilo Iwata)
Seigo Narazaki (Nagoya Grampus)

Laterais
Toru Araiba (Kashima Antlers)
Yuichi Komano (Júbilo Iwata)
Takanobu Komiyama (Kawasaki Frontale)

Zagueiros
Marcus Tulio Tanaka (Nagoya Grampus)
Yuji Nakazawa (Yokohama Marinos)
Teruyuki Moniwa (Cerezo Osaka)

Meias
Kunimitsu Sekiguchi (Vegalta Sendai)
Ryang Yong-Ji (Vegalta Sendai)
Mitsuo Ogasawara (Kashima Antlers)
Shinji Ono (Shimizu S-Pulse)
Kengo Nakamura (Kawasaki Frontale)
Shunsuke Nakamura (Yokohama Marinos)

Atacantes
Genki Haraguchi (Urawa Reds)
Mike Havenaar (Ventforet Kofu)
Shouki Hirai (Gamba Osaka)
Yoshito Okubo (Vissel Kobe)
Hisato Sato (Sanfrecce Hiroshima)
Kazuyoshi Miura (Yokohama FC)

A seleção do Japão foi quase a mesma que venceu a Copa da Ásia dois meses atrás, com pequenas mudanças. O técnico italiano Alberto Zaccheroni chamou um grupo de 26 jogadores. Mesmo não sendo um amistoso oficial, todos que atuam na Europa foram liberados por seus clubes. Veja a lista com os convocados:

Seleção do Japão

Goleiros
Eiji Kawashima (Lierse - Bélgica)
Shusaku Nishikawa (Sanfrecce Hiroshima)
Masaaki Higashiguchi (Albirex Niigata)

Laterais
Atsuto Uchida (Schalke 04 - Alemanha)
Yuto Nagatomo (Internazionale - Itália)

Zagueiros
Tomoaki Makino (Colônia - Alemanha)
Maya Yoshida (VVV-Venlo - Holanda)
Yasuyuki Konno (FC Tokyo)
Masahiko Inoha (Kashima Antlers)
Daiki Iwamasa (Kashima Antlers)
Ryota Moriwaki (Sanfrecce Hiroshima)
Yuzo Kurihara (Yokohama Marinos)

Meias
Yasuhito Endo (Gamba Osaka)
Makoto Hasebe (Wolfsburg - Alemanha)
Yuki Abe (Leicester City - Inglaterra)
Takuya Honda (Kashima Antlers)
Hajime Hosogai (Ausburg - Alemanha)
Yosuke Kashiwagi (Urawa Reds)
Daisuke Matsui (Grenoble - França)
Jungo Fujimoto (Nagoya Grampus)
Akihiro Ienaga (Mallorca - Espanha)
Keisuke Honda (CSKA Moskow - Rússia)
Takashi Inui (Cerezo Osaka)

Atacantes
Ryoichi Maeda (Júbilo Iwata)
Tadanari Lee (Sanfrecce Hiroshima)
Shinji Okazaki (Stuttgart - Alemanha)

Os times no início do jogo: a seleção japonesa no 3-4-3 e a seleção da J-League no 4-3-3

Zaccheroni aproveitou a oportunidade para testar sua formação preferida, o incomum 3-4-3. Konno, Yoshida e Inoha formaram o trio de defesa, com os volantes Endo e Hasebe logo à frente deles. Os laterais Uchida e Nagatomo ficaram bem mais avançados, praticamente como wingers. Na ataque, Honda jogou pelo lado direito, Okazaki pelo esquerdo e Maeda como centroavante.

Stojkovic foi com o 4-3-3 que já está acostumado a usar no Nagoya Grampus. Narazaki, titular do Japão na Copa de 2002 e MVP da J-League em 2010, começou no gol. A dupla de zaga foi formada por Tulio e Nakazawa, titulares da seleção de Takeshi Okada na Copa de 2010. Komano e Araiba foram os laterais. No meio-campo, três jogadores da "geração de ouro" do Japão: Ogasawara, Ono e Kengo Nakamura. Uma pequena surpresa aqui, já que o esperado era que o outro Nakamura, o Shunsuke, começasse como titular. No ataque, a expectativa era de quem jogaria como centroavante entre Kazu e Havenaar. Mas Stojkovic escolheu Sato, que teve a companhia de Okubo e do norte-coreano Yong-Gi.

Depois de um discurso dos capitães das duas equipes (Hasebe pelo Japão e Nakazawa pela J-League), todos os 22 jogadores formaram um círculo no meio do campo e fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas da tragédia, que foi rigorosamente respeitado.

Com a bola rolando, a seleção do Japão dominou no primeiro tempo, quando jogou com os titulares. Aos 14 minutos, Nakazawa errou na saída de bola e deu de presente para Honda, que avançava na direção do gol até ser derrubado por Kengo perto da grande área. Endo cobrou com perfeição e abriu o placar. Quatro minutos depois, Honda roubou a bola mais uma vez e deixou Okazaki na cara do gol. O atacante do Stuttgart só deu um toquinho por cima de Narazaki pra fazer 2x0. O primeiro tempo terminou assim, sem grandes chances para o time da J-League. Honda ainda poderia ter marcado o seu em um rápido contra-ataque, mas parou nas mãos de Narazaki.

As equipes na metade do segundo tempo: o Japão com a mesma formação, mas com os reservas em campo; a J-League com um time mais ofensivo, sem uma formação definida do meio pra frente, com dois meias ofensivos e quatro atacantes

No segundo tempo, praticamente todos os jogadores foram substituídos; afinal de contas, nada mais justo que todos os 46 atletas participarem desse evento histórico. Jogando com os reservas, o domínio que a seleção de Zaccheroni mostrou na primeira etapa não existia mais; quem comandava agora era a seleção da J-League, liderados por Shunsuke Nakamura. Com Kazu em campo, parecia ser o desejo de todos que ele fizesse um gol.

O "Rei" Kazu entrou no segundo tempo e marcou o gol do time da J-League / Foto: J.League Photos

E não deu outra: aos 36 minutos, Kawaguchi bateu pra frente, Tulio - que não perde uma chance de ir ao ataque - escorou de cabeça para Kazu, que concluiu com perfeição na saída do goleiro para fazer o gol da J-League, comemorando no melhor estilo brasileiro, com uma sambadinha. O estádio inteiro comemorou, o país inteiro comemorou. E muitos mundo afora também. Talvez ninguém naquele estádio merecesse mais do que ele marcar aquele gol. Assim como a seleção japonesa e a J-League devem muito do que são hoje a ele, Kazu retribuiu da melhor maneira que pode: colocando um sorriso no rosto de milhões.

Não tinha forma melhor de acabar um jogo onde pouco importava o time que fez mais gols. Todos comemoraram, todos saíram ganhando. Os times foram um só, o país foi um só. Esta partida e muitos outros gestos mostram o quanto o ser humano (ainda) é capaz de atos bonitos, e que o Japão tem toda a força que precisa para se levantar e seguir em frente.