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domingo, 17 de julho de 2011

Japão é o campeão mundial de futebol feminino

A capitã, MVP e artilheira do Mundial, Homare Sawa, levanta a taça / Getty Images

O Japão venceu os Estados Unidos nos pênaltis e é o campeão da Copa do Mundo Feminina da Fifa. O real tamanho dessa conquista, só o tempo dirá. Mas a forma como as Nadeshiko se superaram para vencer um time que se mostrou superior na maior parte do jogo teve tantos elementos de drama, emoção e suspense que daria um filme e tanto.

A situação do futebol feminino no Japão é um pouco melhor que a do Brasil, mas as dificuldades ainda são muitas. Lá até já existem times formados e uma liga nacional (a L-League), mas apenas algumas jogadoras têm um contrato profissional - a maioria não recebe nada para jogar. Os treinamentos e jogos são durante a noite; assim, as atletas precisam ter um emprego fixo durante o dia. A entrada é franca para assistir os jogos, mas mesmo assim o público é escasso. Com a tragédia de 11 de março e o consequente racionamento de energia, a preparação da seleção para a Copa do Mundo não foi a ideal; os treinos eram limitados e foi até cogitada a possibilidade de não participar do Mundial da Alemanha.

Passando por cima de tudo isso, as garotas mostraram um futebol digno do 4º lugar que ocupavam no Ranking da Fifa e chegaram até a final de forma convincente, derrubando no meio do caminho potências mundiais como Alemanha e Suécia. Mas ainda havia um último obstáculo para conquistar a maior glória que um país pode conseguir no futebol: os Estados Unidos.

As japonesas nunca tinham derrotado as adversárias da final em toda a história. Em 25 confrontos, eram 22 vitórias dos Estados Unidos e três empates. Duas dessas partidas foram disputadas há apenas dois meses, em amistosos: as americanas venceram nas duas ocasiões por 2x0.

O time que entrou em campo foi o mesmo que venceu a Suécia por 3x1 na semifinal

Foi só a partida começar e os Estados Unidos partiram para o ataque de forma avassaladora. A goleira Ayumi Kaihori já teve que fazer uma difícil defesa com apenas 20 segundos de jogo. Era uma chance atrás da outra, e em pelo menos mais cinco oportunidades - como o chute de Abby Wambach que acertou o travessão - as americanas estiveram muito perto de fazer o primeiro gol. Incrivelmente o placar continuava 0x0.

A sueca Pia Sundhage, técnica da seleção americana, armou seu time de forma a anular a principal característica do Japão: o toque de bola. Aya Miyama sofria marcação cerrada e pouco apareceu. A incansável capitã Homare Sawa teve que se concentrar mais em ajudar a defesa e quase não subia ao ataque. Assim, o Japão teve "apenas" 53% de posse de bola, grande parte desse tempo apenas tocando a bola entre as defensoras, perdendo a bola rapidamente nas tentativas de ataque.

Para o segundo tempo, os Estados Unidos perderam uma de suas principais jogadoras, a atacante Lauren Cheney, que saiu machucada no intervalo. Mas em seu lugar entrou a veloz Alex Morgan, que acertou um chute na trave logo no início. Não demorou até que finalmente saiu o primeiro gol. Em um contra-ataque fulminante, Megan Rapinoe lançou do campo de defesa, Morgan ganhou da zagueira Saki Kumagai na velocidade e chutou cruzado, com força, no canto de Kaihori: 1x0.

As japonesas pareciam estar mais cansadas, por terem que passar tanto tempo defendendo e correndo atrás das adversárias, jogando de uma forma que não estavam acostumadas. Mas o gol de empate veio a 10 minutos do fim. As atacantes Yuki Nagasato e Karina Maruyama haviam entrado para dar uma movimentação maior no ataque e, em uma rara oportunidade, Nagasato cruzou na área para Maruyama, que dividiu com a zagueira; a bola acabou sobrando para Miyama na frente do gol, e ela não desperdiçou: 1x1 e a partida se encaminhou para a prorrogação.

No final do primeiro tempo da prorrogação, veio o balde de água fria: cruzamento pra área e Wambach marcou de cabeça: 2x1. Parecia o final perfeito para as americanas, que viram Wambach marcar também de cabeça, nos últimos minutos da prorrogação, e salvar sua seleção da derrota contra o Brasil nas quartas de final. Mas o segundo tempo reservava mais emoções.

Faltando quatro minutos pra acabar, Sawa desviou uma cobrança de escanteio e deixou tudo igual novamente. Uma reação improvável por tudo que foi a partida, mas o fato é que o placar mostrava 2x2 e a decisão por pênaltis estava próxima. As americanas queriam vencer de qualquer forma no tempo normal, e tiveram uma grande chance quando Morgan recebeu um passe tendo apenas a goleira à sua frente. Azusa Iwashimizu não pensou duas vezes e se atirou no chão, derrubando a americana por trás bem na frente da grande área. Falta muito perigosa e cartão vermelho para a japonesa. Depois da cobrança e uma bola rebatida na frente do gol, as Nadeshiko se salvaram e a decisão do título foi para as penalidades máximas.

A vantagem parecia ser mais uma vez das americanas. Afinal, elas tinham Hope Solo, a melhor goleira do mundo, enquanto Kaihori era o "ponto fraco" do Japão. A arqueira nipônica havia falhado em alguns momentos no Mundial, é verdade. Mas em tantos outros, principalmente nos jogos decisivos, ela foi segura e não cometeu erros. Kaihori não tinha sido brilhante, mas foi genial na disputa de pênaltis. Ela defendeu as cobranças de Shannon Boxx e Tobin Heath e viu Carli Lloyd chutar para fora, enquanto Wambach foi a única a converter. Já Hope Solo defendeu apenas o pênalti de Nagasato, enquanto Miyama, Sakaguchi e Kumagai marcaram.

As americanas foram as melhores durante os 120 minutos, isso é fato. As japonesas, que jogaram no limite de suas forças físicas e buscaram energias para fazer um verdadeiro milagre dentro de campo, não fizeram por merecer uma vitória no tempo regulamentar, mas lutaram bravamente a ponto de não merecerem a derrota. Qualquer que fosse o vencedor na disputa de pênaltis, a taça estaria em boas mãos.

Sawa cansou de receber troféus na cerimônia de premiação. Primeiro o prêmio Fair Play (em quatro dos seis jogos disputados, elas não receberam um único cartão amarelo), depois a Chuteira de Ouro (Sawa foi a artilheira com 5 gols), a Bola de Ouro (prêmio para a melhor jogadora) e, por fim, a taça de campeãs. Foi o dia mais importante da história do futebol feminino japonês, que evoluiu muito nos últimos anos e tem tudo para continuar assim, firmando-se agora entre as melhores seleções do mundo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

EUA 0x2 Brasil: A nova Seleção começa bem

A renovada seleção de Mano Menezes não poderia começar de forma melhor: venceu, convenceu e jogou bonito. Jogando no estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, o Brasil dominou a partida e venceu sem dificuldades os donos da casa.


O time que entrou em campo foi quase o mesmo que eu já tinha sugerido em um post anterior. Como já era esperado, o Brasil foi com o 4-2-3-1 que Mano Menezes estava acostumado a usar no Corinthians.

Os Estados Unidos vieram com o usual 4-4-2, com apenas dois jogadores que não foram à Copa do Mundo: Gonzales e Bedoya. Porém, seis mudanças no time titular: na zaga, Gonzales fez a parceria com o capitão Bocanegra. Spector ganhou a posição na lateral direita. Sem Dempsey, um de seus principais jogadores, Donovan atuou como segundo atacante, com Bedoya ocupando a meia direita, e Feilhaber, a esquerda. Buddle foi escolhido como centro-avante no lugar de Altidore. Edu também ganhou uma chance e fez a dupla de volantes com Bradley.

Os americanos até começaram pressionando e assustando, mas só nos primeiros 15 minutos. Donovan foi quem mais criou perigo. Porém, o Brasil logo se impôs, controlou a posse no campo de ataque e os americanos não viram mais a cor da bola.

Aos 27 minutos, Neymar e Robinho inverteram de posição. Robinho lança André Santos, que cruza na linha de fundo. Neymar escora de cabeça e faz seu primeiro gol pela Seleção.

Neymar comemora seu primeiro gol na seleção principal / Foto: Getty Images

Aos 45, jogada de Ganso, que passa pra Ramires. Enquanto a defesa americana fica em linha, Ramires lança Alexandre Pato que fica cara a cara com o goleiro. Ele só dribla Howard e marca o segundo.

No segundo tempo, o Brasil continuou ofensivo. Poderia ter marcado mais gols, mas os chutes de Robinho e Ganso acertaram a trave. Neymar e Pato também tiveram boas chances. Mas o placar continuou o mesmo do primeiro tempo. O goleiro Guzan, que entrou no lugar de Howard, teve boa atuação.

O Brasil fez várias substituições do meio-campo pra frente. Entraram André, Éderson, Carlos Eduardo, Diego Tardelli, Hernanes e Jucilei. A triste nota fica pra Éderson, que logo na primeira jogada teve uma lesão muscular e teve que ser substituído. Ficou apenas três minutos em campo.

Os Estados Unidos sofreram com seus laterais fracos na marcação e a falta de um organizador no meio-campo - já que Donovan estava como segundo atacante. O técnico Bob Bradley até tentou ser mais ofensivo e colocou os atacantes Altidore, Findley e Gomez. Mas não dá pra esperar muita coisa de uma seleção americana sem Dempsey e Donovan (este último foi substituído). Logo, eles não ofereceram muito perigo pelo resto da partida.

Uma exibição impecável da seleção brasileira. É verdade que os americanos contribuíram e jogaram abaixo do esperado, mas não foi nada mal para uma estreia. Minha maior alegria foi ver em campo o novo camisa 10 da seleção brasileira, Paulo Henrique Ganso. Ele é o "clássico" camisa 10, um jogador inteligente que domina o meio-campo e comanda o jogo. Jogou com tranquilidade e não sentiu o peso da camisa, assim como o resto do time. Com convicção, aposto nele para o próximo grande craque do Brasil e do mundo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

1950 - Estados Unidos 1x0 Inglaterra

Copa do Mundo de 1950. Estádio Independência, em Belo Horizonte. A Inglaterra, uma das favoritas a levar o título, enfrenta os Estados Unidos, um time formado às pressas onde a maioria dos jogadores nem eram profissionais. Nas casas de apostas inglesas, uma vitória norte-americana era cotada em até 500 pra 1. Aquela vitória de 1x0 dos "amadores" contra os autoentitulados "reis do futebol" foi considerada pelos ingleses a maior zebra de todas as Copas.

A seleção americana e seu uniforme que ganhou uma versão parecida em 2010

Era a estreia de um país britânico numa Copa do Mundo. As quatro nações do Reino Unido - Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales - haviam se retirado da FIFA após a Primeira Guerra Mundial, pois não queriam relações com seus inimigos de guerra. Arrogância e orgulho também fizeram parte dessa decisão, pois acreditava-se que o futebol jogado no "continente" era inferior. Após a II Guerra Mundial, os britânicos voltaram a fazer parte da FIFA e a Inglaterra se classificou para a Copa de 1950, no Brasil.

A FA - The Football Association, a federação inglesa - não levava muito a sério a Copa do Mundo. Tanto que, ao mesmo tempo que começava a competição, uma "outra seleção" inglesa foi mandada ao Canadá em uma excursão. A estrela do time, Stanley Matthews - um dos melhores do mundo na época - também foi ao Canadá, para desespero do técnico Walter Winterbottom, que não pôde levar todos os jogadores que queria.

Matthews logo foi liberado para ir ao Brasil, mas não a tempo de jogar a primeira partida. Não teve problema; mesmo sem jogar muito bem a Inglaterra venceu o Chile por 2x0, gols de Stan Mortensen e Wilf Mannion. Por outro lado, os Estados Unidos perderam para a Espanha por 3x1. Os americanos até saíram na frente, mas não conseguiram segurar o resultado e levaram três gols nos 15 minutos finais.

A expectativa era que o time inglês sofresse mudanças para a segunda rodada, mas não foi o que aconteceu. Naquela época, não era o técnico quem escolhia os onze titulares para cada partida, e sim um comitê, que no caso era composto de apenas uma pessoa, Arthur Drewry - este que inclusive foi presidente da FIFA anos mais tarde. Drewry acreditou no "em time que está ganhando não se mexe" e escalou a mesma equipe da primeira partida. Como substituições ainda não eram permitidas, Matthews teve que assistir todo o jogo do banco.

A Inglaterra vinha com uma campanha de 23 vitórias, 3 empates e 4 derrotas no pós-guerra. Os Estados Unidos acumulavam derrotas em sequência, como um 9x0 contra a Itália em um recente jogo treino. Nem os americanos acreditavam num bom resultado - seu próprio técnico, o escocês William "Bill" Jeffrey, havia declarado à imprensa que seu time não tinha chances de ganhar.

Quando a bola rolou, parecia mesmo que seria um massacre. A Inglaterra atacava sem parar, mas, entre bolas na trave, chutes pra fora e defesas salvadoras do goleiro Frank Borghi, o placar não se alterava. Aos 38 minutos do primeiro tempo, algo raro de se ver: os Estados Unidos no campo de ataque. Ed McIlvenny cobra o lateral, Walter Bahr recebe, avança um pouco e manda a bola na área. Na frente do goleiro inglês, a bola é desviada pelo atacante haitiano Joe Gaetjens e vai pro fundo do gol.

Gaetjens faz um improvável gol que não ficou registrado em filme - há apenas fotos do lance

A partir daí, o time americano se animou e passou a jogar com mais confiança. A Inglaterra sufocava na base do desespero, mas Borghi sempre aparecia pra salvar a pátria. Não teve jeito, não era o dia dos ingleses. A partida acabou 1x0 e os americanos foram carregados pela multidão como heróis.

Como jogaram os dois times:

Estados Unidos: Frank Borghi, Harry Keough e Joe Maca; Ed McIlvenny, Charles Colombo e Walter Bahr; Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza e Ed Souza. Técnico: Bill Jeffrey.

Inglaterra: Bert Williams, Alf Ramsey, Jack Aston e Billy Wright; Laurie Hughes e Jimmy Dickinson; Tom Finney, Wilf Mannion, Roy Bentley, Stan Mortensen e Jimmy Mullen. Técnico: Walter Winterbottom.

Os ingleses protestaram que o time americano tinha jogadores de outras nacionalidades. Só entre os que jogaram aquela histórica partida, Gaetjens era haitiano, Maca era belga e McIlvenny era escocês. Porém, todos eles haviam declarado interesse em adquirir a cidadania americana, o que, pelas regras da federação americana, já era suficiente para que pudessem defender a seleção. No final das contas, apenas Joe Maca ganhou a cidadania americana. Os outros foram jogar na Europa.

Na sequência da competição, a Inglaterra enfrentou a Espanha, com quatro mudanças no time - Matthews finalmente fez sua estreia. Mas os ingleses deram vexame novamente, perderam por 1x0 e foram eliminados. Os Estados Unidos também perderam - 5x2 para o Chile -, mas foram pra casa com a sensação de dever cumprido.

Apesar de tudo, o grande feito passou despercebido pela maioria dos americanos. Como o "soccer" não era muito popular, quase nenhum jornal noticiou a Copa do Mundo. Até mesmo os próprios jogadores só foram se dar conta da importância daquela vitória anos mais tarde, quando o futebol passou a ser mais divulgado pela mídia. O time de 1950 foi para o Hall da Fama do esporte em 1976.

Gaetjens, autor do gol da vitória, era um estudante de intercâmbio e trabalhava em um restaurante como lavador de pratos. Em 1964, foi morto de forma obscura no Haiti durante uma rebelião política.

Na Inglaterra também não houve muita repercussão. Na época, os jornais tinham apenas uma página para esportes e, justo naquele dia, a seleção inglesa de críquete havia perdido pela primeira vez na história, para as Índias Ocidentais. Foi colocada apenas uma nota com o resultado da partida de futebol. Detalhe: tão inesperado foi aquele resultado, os jornais publicaram que a Inglaterra havia vencido por 10x1, achando que aquele 0x1 foi um erro de escrita.

A Inglaterra jogou de azul aquele dia. Desde então, eles evitaram usar esse uniforme novamente, tamanha foi a dor daquela derrota. Parece que era moda na época. Afinal, o Brasil também resolveu mudar seu uniforme e não se vestiu mais de branco por causa da derrota para o Uruguai em 1950.