sábado, 3 de julho de 2010

Não crucifiquem o Dunga pela eliminação


Inesperadamente, o Brasil perdeu da Holanda e está fora da Copa do Mundo. Agora o que mais se vê é xingamentos e hostilizações ao (ex) técnico Dunga. Se estivéssemos na Idade Média, ele seria queimado na fogueira. É incrível como vi muitas pessoas mudarem de opinião de uma hora pra outra, apenas por um único jogo.

Depois da sofrida vitória contra a Coreia do Norte, vieram muitas críticas, que logo sumiram depois do jogo contra a Costa do Marfim e reapareceram ao empatar com Portugal. Como se fosse um absurdo empatar com um time forte (que só tomou um gol em toda a Copa) que mal tentou vencer a partida e ficou o tempo todo na defesa. O 0x0 dava o primeiro lugar do grupo ao Brasil, não tinha necessidade nenhuma de ganhar aquele jogo. O time até tentou no primeiro tempo, mas depois tirou e pé do acelerador e preferiu não arriscar mais.

Veio a grande vitória contra o Chile, e vieram juntos mais elogios e empolgação. "Agora sim, esse time vai pra final e vai ser campeão", diziam. Veio a derrota pra Holanda. "O Dunga é burro, não serve pra ser técnico". Parece que o ele foi um fracasso total, que não ganhou nada. É claro que ele tem a responsabilidade maior pela derrota, afinal foi o comandante da seleção. É claro que ganhar uma Copa América não é nada perto de uma Copa do Mundo. Mas parece que as pessoas não sabem ver os fatos.

Apenas analisando os números: Como técnico, Dunga tem 60 jogos, 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas. Venceu tudo que disputou: Copa América, Copa das Confederações e 1º lugar nas Eliminatórias. Fazendo uma comparação com Luiz Felipe Scolari: 26 jogos, 19 vitórias, 1 empate e 6 derrotas. É engraçado lembrar como Felipão era questionado antes da Copa 2002. Muito mais do que foi Dunga hoje, eu diria. Quando o Brasil perdeu a Copa América sendo eliminado por Honduras, por muito pouco ele não perdeu o cargo. O Brasil inteiro clamava por Romário na seleção. Na Copa da Ásia, ninguém acreditava no Brasil até vencermos a Inglaterra nas quartas de final. Hoje Felipão é uma unanimidade e até se fala nele pra ser o próximo técnico.

Voltando ao Dunga: Sua convocação foi muito contestada, e eu fui um dos que não concordaram com alguns nomes: Kleberson e Julio Baptista. Não entendia como esses jogadores poderiam ajudar a seleção e não me conformava de ver nomes como Paulo Henrique Ganso e Ronaldinho Gaúcho de fora. Até entendi a convocação de la Bestia, pois ele tinha jogado bem pela seleção, mas vinha de temporadas ruins na Europa. Desconfiei demais de Gilberto Silva, Felipe Melo e Josué. A última temporada de Gilberto no Arsenal foi muito ruim, depois ele se transferiu para o Panathinaikos e não pude acompanhá-lo de perto, mas acreditava que era um jogador decadente. Felipe Melo ganhou "só" o prêmio de Pior Jogador do Ano na Itália, e ainda participou do pior time da Juventus em duas décadas. Sua fama de esquentadinho que só sabe bater também não ajudou. E Josué, só por ser o reserva deles, não precisa de comentários... Se teve algo que eu gostei muito, foi o Adriano ter ficado de fora.

Enfim, Dunga confiou nesses jogadores, e acertou em quase todos. Pois é, esse "quase" foi fatal. Mas temos que reconhecer que Gilberto Silva fez uma excelente Copa. Josué não comprometeu quando entrou. Elano, que também era muito contestado, foi um dos destaques brasileiros. Ramires jogava como nunca e ficou a um passo de virar titular. Felipe Melo fazia um bom trabalho na marcação.

Acho que, pela primeira vez na vida, a defesa da seleção não era uma preocupação. Falavam que era a melhor defesa do mundo. Mas, pelo visto, essa defesa foi superestimada. Desatenção e gol sofrido no fim do jogo contra a Coreia do Norte. A mesma coisa contra a Costa do Marfim. E dois erros primários deram os gols da vitória da Holanda. Um deles foi o primeiro gol de cabeça da carreira do baixinho Sneijder. Enquanto Japão e Paraguai saem da Copa com apenas dois gols sofridos, o Brasil sofreu quatro.

Enfim, Dunga confiou em seus jogadores, impôs seu estilo sério, aquilo que ele acredita, e estava dando resultado. Confiou em Felipe Melo, assim como em Luís Fabiano, que também foi um jogador problema e conseguiu se recuperar. O Brasil caiu fora por causa de erros simples em um jogo decisivo, não por uma grande burrada do nosso técnico. Não há sentido em achar um culpado para a derrota. O futebol é imprevisível e por incontáveis vezes o melhor time não vence. O Brasileiro precisa aprender a ser um melhor perdedor e que nem sempre há um culpado por uma derrota.

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